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Em congresso do PT, Lula ignora Diretas e pede maioria no Congresso: "2018 já começou"

01.jun.2017 - Ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff participam da abertura do 6º Congresso do PT - Pedro Ladeira/Folhapress
01.jun.2017 - Ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff participam da abertura do 6º Congresso do PT Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

02/06/2017 00h24

Em discurso inflamado na abertura do 6º Congresso Nacional do PT, na noite desta quinta-feira (1º), em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou de lado a defesa das "Diretas Já", uma das principais bandeiras do partido, e cobrou dos correligionários que adotem estratégia para eleger maioria no Congresso nas eleições previstas para o ano que vem, para que não seja preciso "fazer aliança com outros partidos".

Virtual candidato à Presidência da República pelo PT, disse que estava ali para preparar o partido "para voltar a governar esse país". Durante o discurso, o ex-presidente pregou aos correligionários que pensassem em como transformar teoria em prática. "Estamos aqui para mostrar que se a elite não sabe resolver o problema do país, nós provamos que sabemos, já fizemos e vamos fazer outra vez", declarou.

Lula pediu ainda que eles focassem mais nas "brigas externas" que nas internas. "Lá fora estão os inimigos de classe que querem nos destruir e nós temos que estar preparados para derrotá-los".

Pragmatismo

Em tom professoral, Lula falou sobre política com os correligionários. "É importante a gente ter clareza. Toda vez que a gente faz um discurso, tem que chegar em casa e colocar na balança e saber se ele é exequível", explicou.

"É preciso que a gente consiga transformar o nosso discurso numa estratégia para que a gente possa eleger o presidente da República, e a maioria na Câmara e no Senado, porque senão a gente vai ter que fazer aliança com outros partidos", declarou.

Em seguida, veio o alerta: "e a gente não faz aliança com quem perde, com quem é suplente. A gente faz aliança com quem ganha, com quem está lá".

Segundo o petista, "2018 está longe para quem não tem esperança". "Para nós, 2018 está logo ali, já começou. É por isso que eles estão com medo e nós não estamos com medo. Se a esquerda for para disputa com um programa factível, eu tenho certeza que a gente vai voltar a governar esse país".

Réu em cinco processos, sendo três na Operação Lava Jato, Lula aproveitou o discurso para, mais uma vez, defender sua inocência aos militantes. “Eu não quero que vocês se preocupem com o meu problema pessoal. Eu já provei a minha inocência. Eu agora vou exigir que eles provem a minha culpa. Cada mentira contada será desmontada”, afirmou.

O ex-presidente ainda ironizou a denúncia do empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, que fechou acordo de delação premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República), de que ele e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) eram beneficiários de contas no exterior, por mediação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

“O canalha de um empresário diz que tem contas para nós no exterior, no nome dele, movimentada por ele”, afirmou, arrancando risos da plateia.

Dilma pede Diretas Já

Antes de Lula, foi a vez de a ex-presidente Dilma Rousseff discursar. Diferentemente do aliado, ela defendeu claramente a saída imediata do presidente Michel Temer (PMDB), seu vice, e a realizações de eleições diretas antecipadas –“é a única alternativa possível”.

"Nós precisamos da legitimidade que só o voto dá ao governante. É diretas já por uma questão de sobrevivência do país”, afirmou. “E meu candidato é Lula para presidente”, avisou.

Ela também sugeriu ainda que seja convocada uma assembleia constituinte exclusiva para fazer uma reforma política no país, sem a qual, o Brasil é “ingovernável. 

Entre as críticas a Temer, que assumiu durante o processo que levou ao seu impeachment, afirmou que “ninguém pode dizer que o que foi gravado, mal ou bem, não era do conhecimento de várias instâncias de investigações”.

“As tais das 21 perguntas [enviadas pelo deputado federal cassado Eduardo Cunha a Temer, sua testemunha de defesa em um processo] eram um roteiro de investigação."

A ex-presidente também voltou a acusar a “suspensão da democracia” para a sua destituição. “Deram um golpe parlamentar, que teve um objetivo: estancar a sangria era não deixar que houvesse qualquer ameaça a eles”, declarou. 

“Quando rompem com a Constituição, tudo é possível, até briga do Executivo com o Ministério Público, do Ministério Público com o Judiciário, e do Judiciário com o Legislativo. E cria-se nesse país um esfacelamento institucional, um esfacelamento do direito”, completou Dilma.

Ela apontou ainda uma tentativa sistemática de criminalizar os petistas. “Uma das formas, que é muito aplicado a mim e ao presidente Lula: ‘eles sabiam’. É o que a igreja chamava de prova diabólica ou prova negativa, que era muito usada na Inquisição. Nós vamos chegar àquele momento em que faziam com as feiticeiras", afirmou.

"Todo cidadão ou cidadã brasileira tem direito de ser candidato. O que nós queremos é que não inviabilizem o nosso presidente Lula de ser candidato."

Partido dos Trabalhadores

O congresso do PT terá atividades até o sábado (3), quando acontecerá a eleição do novo presidente nacional do partido, que tem como candidatos os senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Lindbergh Farias (PT-RJ).

A paranaense é a favorita no pleito e foi saudada diversas vezes por gritos de “no meu partido eu boto fé, ele será presidido por mulher". Militantes favoráveis a ela ainda gritaram diversas vezes “retira”, para que Lindbergh desistisse de sua candidatura.

"É socialista, é radical, é Lindbergh presidente nacional", respondiam os apoiadores do senador.

Durante o encontro, os petistas também discutirão documento com propostas de resoluções sobre as conjunturas nacional e internacional, além de estratégias políticas e a organização da legenda.

"O país vive uma profunda crise institucional e política, fortemente agravada pelas denúncias contra o presidente golpista e contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG), escancarando, para parcelas cada vez mais amplas de trabalhadores e jovens, o sentido do golpe e a natureza corrupta do bloco golpista", diz trecho do documento, que tem 35 páginas.