Após racha do PSDB na Câmara, Temer diz que "nós contra eles" não pode prevalecer
Em seu primeiro evento fora do Palácio do Planalto desde que a Câmara aprovou o arquivamento da denúncia por corrupção passiva, o presidente Michel Temer (PMDB) trocou elogios com o prefeito João Doria (PSDB) nesta segunda-feira (7) em São Paulo, em aparente tom de armistício com os tucanos --que racharam na votação no Congresso.
"Eu tenho um parceiro, um companheiro, alguém que entende os problemas do país", disse Temer. "Jamais vi o João dividindo pessoas."
Apostando no tom de conciliação, o presidente disse ser "inadmissível que brasileiros se joguem contra brasileiros". "Esta história de 'nós contra eles' não pode prevalecer", concluiu.
Temer e Doria discursaram hoje durante evento para anunciar um acordo para o começo da transferência, para o município, de 20% da área do aeroporto Campo de Marte. O terreno pertence à União e é alvo de disputa judicial desde 1945. Segundo a prefeitura, no local serão criados um parque e um museu aeroespacial.
Além do presidente e do prefeito, participaram do evento os ministros Antônio Imbassahy (PSDB, Secretaria de Governo), Mendonça Filho (DEM, Educação), Raul Jungmann (PPS, Defesa) e Torquato Jardim (Justiça). Nem o presidente, nem seus ministros falaram com a imprensa. Em seu discurso, Temer também não fez menção ao resultado da votação na Câmara nem às reformas que estão na pauta do governo, como a da Previdência.
Apesar de, há algumas semanas, ter falado em saída gradual do PSDB do governo Temer, Doria elogiou o presidente dizendo que "sempre sua alma e sua índole foram pela conciliação". "É na base da conciliação que nós vamos fazer um novo Brasil", disse.
Com o presidente e os ministros em silêncio, Doria manteve o figurino de pacificador em conversa com jornalistas após o evento com Temer. Disse que "situações extremadas" não contribuem para o Brasil e a "confiança dos mercados".
"O Brasil precisa estar conciliado para votar as reformas no Congresso Nacional", disse o prefeito.
Doria evitou afirmar, no entanto, se o PSDB vai manter os cargos na administração Temer, onde ocupa quatro ministérios, e voltar a votar integralmente com o governo. Disse apenas que os ministros podem "continuar seu trabalho" e que o partido apoia as reformas.
Ausência de Alckmin
A agenda divulgada no domingo (6) pela assessoria de imprensa de Doria previa a presença do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), no evento, mas ele não compareceu.
Segundo Doria, a ausência se deveu à "delicadeza e gentileza" de Alckmin, que entendeu que "era o momento da Prefeitura de São Paulo".
Com a presença de Alckmin, o Planalto esperava passar uma imagem de maior união entre a base aliada e acalmar os ânimos de partidos do chamado Centrão, que pleiteiam pastas atualmente sob o comando de tucanos em troca da fidelidade demonstrada na votação da denúncia na Câmara.
Em falas à imprensa, Alckmin já afirmou que não há razão para o partido permanecer na base do governo, mas, ao mesmo tempo, nega que a sigla esteja “traindo” o presidente.
A presença do governador nunca foi confirmada para o evento de hoje, mas, até sexta-feira passada, a expectativa do Planalto era de que ele fosse à solenidade. Pela manhã, Alckmin participou de um congresso de agronegócio e de ato para a assinatura de convênios entre uma universidade e prefeituras do Estado, ambos em São Paulo.
A bancada do PSDB paulista votou quase integralmente contra o arquivamento da denúncia contra Temer, e Alckmin já se manifestou a favor de que o partido deixe o governo após a aprovação das reformas.
Protesto
Um grupo de cerca de 50 pessoas portando bandeiras e faixas de movimentos sociais protestaram contra Temer em frente à prefeitura, onde a cerimônia ocorreu. Usando um microfone, os manifestantes gritaram palavras de ordem como "fora, Temer" e "Temer ladrão".
Governo foca em reformas
Após a votação na Câmara que decidiu pelo fim da investigação, ao menos enquanto Temer estiver no cargo, por corrupção passiva, o governo tenta passar a imagem de página virada e emplacar sua agenda de reformas. Mudanças na Previdência e no sistema eleitoral, além do refinanciamento de dívidas tributárias de empresas com a União, estão entre as pautas.
No entanto, há a expectativa de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ofereça outra denúncia contra Temer antes de deixar o cargo, no dia 17 de setembro. O presidente --que tem sido mal avaliado pela população em pesquisas de opinião-- é investigado por obstrução de Justiça e organização criminosa com base nas delações de executivos da JBS.
*Colaboração de Luciana Amaral, em Brasília
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