Marcelo Odebrecht diz que há "omissões e mentiras" de delatores em ação contra Lula
Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro nesta segunda-feira (4), Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira Odebrecht, disse estar empenhado na elucidação da acusação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro envolvendo a suposta doação de um terreno pela empresa para a construção da nova sede do Instituto Lula. Ele foi o primeiro a depor na ação em que é réu junto do petista.
Marcelo Odebrecht demonstrou insatisfação com outros delatores e disse acreditar estar havendo “omissões, mentiras e obstruções” no processo, inclusive sobre como teriam sido executados os pagamentos para a compra do imóvel. Isso porque ex-diretores da empresa é que gerenciavam os sistemas MyWebDay e Drousys, do Setor de Operações Estruturadas, mais conhecido como o setor de propinas da empresa.
“Em função da experiência que tive nessa ação penal agora, eu vi que as pessoas não estavam buscando elucidar os fatos. Eu vou procurar cada vez mais [elucidar]. Estou tentando fazer isso nos depoimentos que estou tendo com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Vou procurar elucidar, tentar identificar os ilícitos que por acaso tiveram. Porque eu já identifiquei, ficou evidente nesse processo, eu acho que tem omissões, mentiras, obstruções que estão ocorrendo”, afirmou.
Ao longo do interrogatório, Odebrecht evitou dizer quem seriam os delatores que, no processo em questão, não estariam falando tudo o que sabem. Pressionado pelo advogado de Branislav Kontic, Guilherme Batocchio, o empresário citou os nomes de Paulo Melo, réu na mesma ação penal, e Paul Altit, ambos ex-executivos do grupo Odebrecht.
“Me disponho tentar ser mais efetivo do que fui, buscando informações que pensei que outros colaboradores estariam trazendo. Infelizmente, pelo que vi nessa ação penal, não estão. Vou buscar ir além do que eu fiz na minha colaboração, para dar mais efetividade ao todo da colaboração da empresa”, afirmou o delator.
Cobrança
"Eu não me lembrava dos detalhes dos pagamentos", disse Marcelo Odebrecht. "Eu esperava que os colaboradores esclarecessem esses fatos. Na minha cabeça, eu não conhecia os fatos e, como eles todos eram colaboradores, eles iam esclarecer. Chegou nas últimas semanas, eu comecei a perceber que ninguém estava esclarecendo os pagamentos e estava faltando essas pontas soltas."
Odebrecht disse ter solicitado a seus advogados que fizessem pesquisas nos sistemas Drousys e MyWebDay, usados pelo Setor de Operações Estruturadas, e afirmou ter enviado informações ao MPF. Pagamentos feitos à DAG, construtora que teria sido usada como "laranja" da Odebrecht na compra do terreno, também deveriam ter sido esclarecidos por outros delatores, disse o ex-presidente da empreiteira. "Infelizmente, não deveria eu ter que explicar isso. Alguém devia ter explicado isso, um colaborador", afirmou o empresário.
Sistemas
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quis saber, durante o interrogatório, quem tinha as informações dos sistemas Drousys e MyWebDay. Os advogados do ex-presidente já solicitaram acesso aos programas, mas tiveram os pedidos negados pelo juiz Sergio Moro.
Marcelo Odebrecht afirmou não saber, mas deu um recado à defesa de Lula. “Agora veja bem, só para deixar claro para o senhor [advogado de Lula] o seguinte. A falta desse material prejudica a acusação, não a defesa. Isso eu posso garantir. Veja bem. Esse material que está faltando, quando eu até me referi à questão de omissão, é prejuízo em relação à acusação. A defesa só vai ser prejudicada quanto mais material aparecer. Nesse ponto de vista aí, é melhor para o senhor que não apareça material nenhum”, afirmou.
Padrinho
Durante o depoimento, o delator afirmou ao Ministério Público Federal que a empreiteira usava “padrinhos” –executivos e diretores da empresa— na relação com políticos. Os padrinhos faziam a interlocução com políticos e eram comunicados sempre que alguém tivesse conversas ou encontros com agentes dos governos.
No caso de Lula, segundo Marcelo Odebrecht, o padrinho era seu pai, o fundador da empreiteira Emílio Odebrecht. “Lula era o meu pai. Aécio [Neves, senador do PSDB] era eu, Eduardo Campos (ex-governador de Pernambuco, do PSB] era eu, Dilma era eu. E nada se acertava em relação a determinada pessoa, mesmo por outro negócio, se não fosse comunicado ao padrinho interno, que era uma coisa nossa interna”, afirmou.
Em resposta ao juiz Sergio Moro e também ao MPF, o delator afirmou que ele e o pai se encontraram com Lula e Dilma Rousseff no Palácio do Planalto em 30 de dezembro de 2010 --penúltimo dia de governo do ex-presidente—com o objetivo de "reforçar a relação".
“Teve essa agenda no último dia [do governo Lula]. Foi eu e meu pai. Estivemos com a presidente Dilma e o presidente Lula, onde no fundo foi uma reunião porque a Dilma era uma incógnita pra gente”, afirmou. “No fundo, era um pouco para o Lula respaldar essa relação que ele tinha com a gente, que ela continuasse com a Dilma. Foi esse no fundo o objetivo dessa reunião”, completou.
Outro lado
Em nota divulgada após o depoimento, a defesa do ex-presidente disse que "Lula jamais recebeu a propriedade ou a posse de qualquer dos imóveis indicados pelo MPF, muito menos em contrapartida de qualquer atuação em contratos firmados pela Petrobras." (veja abaixo a nota na íntegra).
Sobressai do depoimento prestado hoje por Marcelo Odebrecht que não há qualquer relação entre os temas discutidos na Ação Penal n. 50631301172016404-70000 e a Petrobras e, ainda, que o ex-executivo não tratou de qualquer contrapartida com o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Marcelo, que é delator, negou peremptoriamente qualquer atuação em relação aos 8 contratos indicados na denúncia e ainda que tenha tratado de qualquer contrapartida em relação a esses contratos em favor de Lula.
Com esse depoimento Marcelo destrói a acusação apresentada pelo Ministério Público Federal. Lula foi acusado nesse processo porque segundo a versão do MPF ele teria recebido 2 imóveis em contrapartida por ter atendido a pedido de favorecimento de Marcelo Odebrecht em relação a esses 8 contratos firmados pela Petrobras.
O depoimento de Paulo Melo mostrou as fragilidades das declarações de Marcelo Odebrecht em relação a Lula e ao Instituto Lula.
A verdade é que Lula jamais recebeu a propriedade ou a posse de qualquer dos imóveis indicados pelo MPF, muito menos em contrapartida de qualquer atuação em contratos firmados pela Petrobras.
Mais uma vez registramos no início da audiência o cerceamento de defesa imposto ao ex-Presidente Lula. O MPF está tendo acesso a documentos que são negados à defesa de Lula. Por isso impetramos também hoje habeas corpus perante o Tribunal Regional Federal da 4a. Região objetivando reverter essa ilegalidade."
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