Lula não pagou aluguel de apartamento por mais de 5 anos, diz primo de Bumlai
O aluguel do apartamento vizinho à residência do ex-presidente Luiz Inácio Inácio Lula da Silva (PT), em São Bernardo do Campo (SP), não foi pago de fevereiro de 2011 a novembro de 2015, disse o empresário Glaucos da Costamarques, dono do imóvel, em interrogatório nesta quarta-feira (6) na Justiça Federal no Paraná. Ele é primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do petista.
Costamarques, Lula e mais seis pessoas são réus no processo sobre um esquema de corrupção envolvendo oito contratos entre a Petrobras e a Odebrecht. Segundo a denúncia do MPF (Ministério Público Federal), parte do valor desviado teria sido lavada a partir da compra do apartamento e Costamarques seria um laranja do ex-presidente.
No processo, o ex-ministro Antonio Palocci, que também é réu, foi interrogado no mesmo dia e disse que a empreiteira Odebrecht fez um "pacto de sangue" com o PT e ofereceu R$ 300 milhões a Lula.
O aluguel do apartamento foi pago pelo PT até 2002, quando Lula assumiu a Presidência e o governo federal assumiu o gasto. No final do segundo mandato de Lula, em 2010, o proprietário do imóvel faleceu.
No depoimento ao juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, Costamarques afirmou que, com a morte do proprietário, Bumlai pediu a ele que adquirisse o apartamento porque estava sem dinheiro no momento. “Não queremos que alguém estranho compre o apartamento e mude para lá”, teria dito o pecuarista, segundo Costamarques, relembrando o episódio de julho de 2010.
O imóvel foi adquirido em agosto do mesmo ano por R$ 504 mil. O negócio foi intermediado por Roberto Teixeira, advogado de Lula que também é réu no processo. Teixeira também seria interrogado na quarta-feira, mas, na noite anterior, foi internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, com o diagnóstico de insuficiência cardíaca aguda. Seu interrogatório foi adiado para 13 de setembro, quando Lula também será ouvido por Moro. Teixeira, porém, não tem previsão de alta.
'Não me pagaram'
Costamarques relatou ter feito um contrato de locação com a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta este ano, que começava em fevereiro de 2011, quando acabava o que havia com a Presidência da República. Mas o valor de R$ 3.500 pelo aluguel não chegou a conta dele. “Não me pagaram o primeiro mês, não me pagaram o segundo mês”, declarou. “Aí fui falar com o Zé Carlos [Bumlai] perguntar o que acontecia. [Ele disse:] 'Olha, Glauco, não esquenta com isso. Mais para frente a gente acerta. Não fica preocupado'”.
O réu disse que só começou a receber o aluguel depois que Bumlai foi preso pela Polícia Federal em novembro de 2015. O pecuarista já foi condenado por Moro a nove anos e dez meses de prisão por corrupção e gestão fraudulenta de instituição financeira.
No final de novembro, Costamarques recebeu a visita do advogado de Lula. Segundo seu relato, Teixeira teria lhe dito: “Olha, nós vamos pagar. De hoje em diante, nós vamos pagar o aluguel para você”. Contudo, as contas em atraso não foram pagas, ainda segundo o dono do imóvel.
Costamarques, que esteve apenas uma vez no apartamento, disse não ter se preocupado com o não pagamento do aluguel porque queria, na verdade, era que seu primo lhe pagasse pela propriedade do imóvel. O réu, porém, declarou à Receita Federal que havia recebido os aluguéis. “Não reclamei. E nunca reclamei do aluguel porque o foco era o apartamento”. Ele tinha medo que, caso reclamasse, não iria receber o valor.
Em nota à reportagem, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, disse que "os depoimentos coletados mostraram que é fantasiosa a tentativa do MPF de vincular o apartamento de São Bernardo do Campo a recursos provenientes de contratos da Petrobras". "Nenhuma testemunha e nenhum réu confirmou essa acusação, prevalecendo o que sempre foi dito pela defesa".
Sobre o apartamento, Zanin apontou que "o que existe é uma relação privada de locação, disciplinada por um contrato".
No ano passado, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou que Lula aluga o imóvel porque sabe do "desconforto" de alguém ter um político como vizinho.
O UOL ainda não conseguiu contato com a defesa de Roberto Teixeira a respeito do depoimento. No interrogatório, a única pergunta feita pelos defensores do advogado foi a respeito de um terreno, em São Paulo, que serviria para ser sede do Instituto Lula.
No mesmo processo, Costamarques é relacionado à compra do terreno. Também a pedido de Bumlai, ele combinou comprar a área e depois procurar um novo comprador para ela. Teixeira, porém, lhe ofereceu esse novo comprador antes que o réu começasse as buscas: a DAG construtora, que se interessou no terreno a pedido da Odebrecht, segundo o depoimento de Demerval Gusmão, outro acusado no processo, a Moro.
Na próxima quarta-feira (13) será realizada a última audiência em que serão ouvidos réus na ação penal. Entre eles, está o ex-presidente Lula, que deve começar a ser interrogado por Lula a partir das 14h.
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