Imaginava ser gravado como ministro, mas não como advogado, diz Cardozo sobre Joesley
O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (PT) confirmou que jantou com Joesley Batista, delator e um dos donos da JBS, para tratar sobre a defesa do empresário em questões relacionadas à Operação Lava Jato. Sem entrar em detalhes de como foi o jantar, alegando sigilo da relação advogado cliente, Cardozo falou nesta terça-feira (12) com a imprensa do lado de fora do prédio Justiça Federal em São Paulo, onde prestará depoimento em um processo no qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu no âmbito da Operação Zelotes.
"Tivemos um jantar por solicitação dele [Joesley], porque ele disse que gostaria de contratar o nosso escritório de advocacia para atuar na causa. A conversa foi de um advogado com um cliente e, ao final, nós não aceitamos pegar a causa por razões que, evidentemente, estou impedido de falar pelo sigilo profissional", disse Cardozo.
Ele afirmou que recebeu "com muita tristeza e indignação" a notícia que o encontro teria sido gravado.
Na minha vida pública, imaginei muitas vezes ser gravado como ministro e como deputado. Agora, como advogado, para tentar fazer uma armação, pelo menos é que foi dito nos áudios, para tentar armar uma coisa para atingir o Judiciário, nunca imaginei que isso poderia acontecer
José Eduardo Cardozo (PT), ex-ministro da Justiça
O ex-ministro declarou ainda não temer delações. "Aquela conversa foi de advogado para cliente, ninguém falou nada ilícito e acabei não pegando a causa", afirmou.
Cardozo ainda rebateu a afirmação feita por Joesley de que foram firmados contratos fictícios com o seu escritório de advocacia.
Em depoimento, Joesley disse que acertou contratos fictícios com o escritório de Marco Aurélio Carvalho, sócio de Cardozo. A banca "emitia mensalmente notas de R$ 70 mil ou R$ 80 mil para contratos fictícios e parte desse dinheiro iria, segundo Marco Aurélio, para José Eduardo Cardozo", segundo o empresário.
"Quando [Saud] fala na delação, deixa claro que eu não sabia [dos contratos] e chega a dizer que contratou [o escritório] para fazer pacote de bondade, mas que o Cardozo nunca fez nada. E agora, o Joesley diz que o Marco Aurélio disse que o serviço não foi prestado. Primeiro, que ele diz que o outro disse. E a minha sorte é que nunca decidi nada sobre a JBS no Ministério da Justiça. Marco Aurélio me disse com clareza que os serviços foram prestados", afirmou.
Cardozo disse ainda que nunca exerceu nenhum tipo de influência no STF (Supremo Tribunal Federal) e que o impeachment de Dilma Rousseff foi uma prova disso.
"Ninguém tem o controle do STF. Os ministros são soberanos quando decidem. Eu próprio perdi várias causas no STF, incluso o impeachment. Se eu eventualmente tivesse controle sob o STF, provavelmente Dilma Rousseff ainda seria a presidente da República, eu não teria perdido a causa", disse.
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