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Cabral pedia R$ 500 mil em propina e cobrou "débito" de R$ 12 mi ao deixar governo, diz empreiteiro

Sérgio Cabral (PMDB) quando ainda era governador do Rio, em dezembro de 2013 - Carlos Magno/Governo do Rio
Sérgio Cabral (PMDB) quando ainda era governador do Rio, em dezembro de 2013 Imagem: Carlos Magno/Governo do Rio

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

10/10/2017 19h00

O empresário Ricardo Pernambuco Júnior, um dos donos da Carioca Engenharia e delator nas investigações da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, afirmou nesta terça-feira (10), em audiência na 7ª Vara Federal Criminal, que teve um "acerto final" com o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) em abril de 2014, pouco depois de o político deixar o cargo.

O objetivo era fazer um acordo para pagamento de uma dívida de propina, segundo o interrogado. A reunião entre as partes teria ocorrido no escritório do ex-chefe do Executivo fluminense, no Leblon, na zona sul carioca. Na ocasião, Pernambuco Júnior teria sido informado de que restava um "débito" de R$ 12 milhões, mas pechinchou e acabou fechando um valor a ser pago de R$ 8 milhões.

"O próprio Cabral me falou: 'A minha vida com vocês se encerra aqui'. Ele fez esse encontro, esse acerto final", contou.

O empresário, que depôs nesta tarde como testemunha de acusação em uma das ações penais nas quais Cabral é réu por corrupção passiva, disse ainda que empurrava com a barriga" ante às sucessivas cobranças do ex-governador pelo percentual de 5% de propina em cima dos contratos da empreiteira com o Estado.

Na versão do depoente, em troca de vantagens, a empresa aceitou pagar, de 2008 a 2014, uma mesada que começou em R$ 200 mil. Após a reeleição de Cabral, em 2010, esse valor teria passado para R$ 500 mil.

Mesmo com o reajuste, Cabral estava insatisfeito com os repasses e insistia em cobrar os 5%, afirmou Pernambuco Júnior. "A gente ia empurrando com a barriga."

Para levantar o dinheiro da propina, a Carioca Engenharia fazia contratos superfaturados e/ou frios com empresas de fornecimento. Posteriormente, esses recursos eram utilizados nos pagamentos em espécie a Cabral e aos demais denunciados.

O contato entre o empresário e o então chefe do Executivo fluminense era feito por meio do ex-secretário de Estado de Governo Wilson Carlos, que também é réu na mesma ação penal. "Ele sempre vinha com a conta dos cinco por cento", afirmou um dos donos da Carioca Engenharia, referindo-se ao ex-secretário.

"A partir do momento que eu falava com o Wilson Carlos, eu entendia que estava falando com o governador."

Dívida de propina

Pernambuco Júnior explicou ao juiz da 7ª Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas, que seria inviável para a empreiteira pagar o percentual cobrado pelo ex-governador. Segundo ele, não havia disponibilidade de caixa e, ainda que existisse, seria muito difícil levantar valor "tão alto" --as cifras não foram estimadas-- com recursos em espécie.

De acordo com o empresário, por conta da dificuldade de levantar recursos em espécie, a Carioca Engenharia teria então pago os R$ 8 milhões por meio de doações de campanha nas eleições de 2014. Cabral teria indicado vários candidatos, entre os quais o seu ex-vice e atual governador do RJ, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que venceu o pleito daquele ano e se reelegeu chefe do Executivo.

A "dívida" com Cabral fez parte de uma doação maior a Pezão. "Foi acertado que a gente teria que participar da campanha do Pezão", relatou o empresári0o. A contribuição da Carioca Engenharia para a campanha do então candidato ao governo do Estado foi de R$ 17 milhões, na versão do interrogado.

Ao UOL, o advogado de Cabral, Rodrigo Roca, negou as acusações e disse que o seu cliente nunca participou da reunião relatada pelo empresário, a do "acerto final". "Tanto não aconteceu que ele nunca falou isso", declarou o defensor, alegando que as informações não constam na delação premiada do interrogado.

"A tática deles é o do 'Não sei como foi, só sei que foi assim'. Eles não apresentam sequer um documento que comprove essas informações. São frases de efeito ensaiadas para sustentar uma coisa que nunca aconteceu", afirmou.