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Ministro e deputados deixam PSB na véspera de votação de denúncia de Temer

O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho (PE), deixa o PSB - Fátima Meira - 2.ago.2017/Futura Press/Estadão Conteúdo
O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho (PE), deixa o PSB Imagem: Fátima Meira - 2.ago.2017/Futura Press/Estadão Conteúdo

Luciana Amaral e Paula Bianchi

Do UOL, em Brasília

24/10/2017 18h22Atualizada em 24/10/2017 19h29

A líder destituída do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS), e os deputados Fábio Garcia (MT), Danilo Forte (CE) e Adilton Sachetti (MT), se desfiliaram do PSB na tarde desta terça-feira (24). Também ficou acertada a desfiliação do ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho (PE), apurou o UOL, mas ele ainda não entregou a carta com o pedido. A expectativa é que o documento seja entregue na noite desta terça.

A decisão ocorre na véspera da votação, pela Câmara dos Deputados, da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB), prevista para ocorrer nesta quarta-feira (25).

Segundo apurou o UOL, a desfiliação aconteceu após reunião dos pessebistas com o presidente do partido, Carlos Siqueira, em Brasília. A relação do ministro e dos parlamentares com o partido já estava estremecida e a tendência é que eles se distribuam entre o PMDB e o DEM.

No entanto, o grupo ainda terá de esperar para se filiar a um novo partido. Isso porque é preciso abrir a próxima "janela partidária", período em que os deputados poderão trocar de siglas, prevista para março do ano que vem. Justamente pelos desentendimentos entre os novos desfiliados e a Executiva Nacional do PSB – os primeiros são governistas, enquanto os outros são contra a gestão Temer –, a maioria do grupo defende que a janela seja antecipada para o final deste ano.

Líder do PSB, Júlio Delgado diz que os deputados saíram para evitar serem “expulsos”. Segundo ele, o ministro deu a entender que deixaria o partido, mas ainda não entregou a carta de desfiliação.

Nas contas do partido, apenas seis dos 32 deputados da legenda devem aparecer na votação amanhã – a tática da oposição é esvaziar o Parlamento, obrigando assim o adiamento da sessão.

Entre os possíveis desertores ele cita os deputados Átila Lira, Heráclito Fortes, Marinaldo Rosendo, Maria Helena e o ministro Fernando Coelho – o contando ainda como membro do partido já que, até 19h, ele ainda não havia formalizado a sua saída da sigla.

De acordo com Delgado, como o partido fechou questão em torno do tema, quem aparecer na Casa amanhã estará sujeito a expulsão.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, afirmou que o processo aconteceu em “bons termos” e foi a decisão mais acertada devido aos desentendimentos ideológicos. Siqueira ressaltou que não se justifica mais nenhum dos cinco permanecerem no PSB, embora respeite-os como pessoas.

“Há uma reacomodação partidária e é interessante que cada um esteja onde estiver se sentindo bem, confortável, com o programa partidário. Que se opte por essas instituições por convicção política, ideológica e partidária, não em função de conveniência locais e para a eleição. [...] São pessoas sérias e corretas, mas estavam no lugar errado”, disse.

Na semana passada, Tereza Cristina havia sido destituída da liderança do partido após o deputado Júlio Delgado, conseguir assinaturas de 20 dos 37 integrantes da bancada apoiando a destituição. O parlamentar mineiro deve ficar no posto até o fim do ano, quando a bancada deve realizar eleição de novo líder, que atuará no ano legislativo de 2018.

Além de destituir Tereza Cristina, Júlio Delgado determinou a saída de Danilo Forte e Fabio Garcia da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) no dia em que o colegiado votou o parecer pela rejeição da denúncia elaborado pelo deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). Eles foram substituídos por Danilo Cabral (PE) e Hugo Leal (RJ). Tanto Cabral quanto Leal votaram pela reprovação do relatório de Andrada, ou seja, pelo prosseguimento da peça da PGR.

O ministro Coelho Filho deve ir para o PMDB, seguindo os mesmos passos do pai, senador Fernando Bezerra Coelho (PE), que também deixou o PSB e se filiou ao PMDB no início de setembro. Irmão do ministro e filho do senador, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (PSB-PE), é outro nome da família que ainda deve se filiar ao partido de Temer.

Disputa por dissidentes entre PMDB e DEM

A disputa do PMDB com o DEM, legenda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por dissidentes já gerou até troca de farpas. Os dois partidos correm atrás de políticos que, nos últimos meses, em meio à crise desencadeada pela delação premiada da JBS, se desentenderam com seus partidos e querem mudar de legenda.

Há também uma movimentação de olho nas eleições de 2018, inclusive com nomes viáveis a uma candidatura ao Palácio do Planalto. Os principais alvos de ambos os partidos são os dissidentes do PSB.

A presença de ministros, como Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), no ato da filiação de Fernando Bezerra Coelho, em setembro, além de encontros entre governistas com os pessebistas, desagradou ao DEM, que estaria negociando arrematá-los antes.

O líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), chegou a dizer que o gesto "atravessou a aliança que estava sendo formatada" e que o DEM não se sentia mais respeitado pelo governo diante da ação dos peemedebistas.

Ele também chegou a dizer que seria difícil conduzir a bancada para ficar ao lado do PMDB.  "Essa posição [do DEM na base aliada] será estudada e discutida pelo partido. Agora, a estratégia do PMDB em construir muros, e não pontes, com os aliados só nos faz afastar cada vez mais. O crescimento de um aliado era para ser motivo a ser comemorado pela base, e não a tentativa de frustrar a ação", disse.

Entenda a denúncia

A PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciou Temer por obstrução de justiça e organização criminosa e também outros seis políticos do PMDB, entre eles Moreira Franco e Eliseu Padilha, mas esses apenas pelo segundo crime. 

A acusação por organização criminosa sustenta que os sete integrantes do PMDB montaram um esquema de propina em órgãos públicos, como Petrobras, Furnas e Caixa Econômica. Temer é apontado na denúncia como líder da organização criminosa desde maio de 2016.

Temer, Moreira e Padilha têm negado a prática de qualquer irregularidade.

Para a Procuradoria, o presidente também cometeu o crime de obstrução de justiça ao dar aval para que o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, comprasse o silêncio do corretor de valores Lucio Funaro, apontado como operador do PMDB.

Em sua delação premiada, Funaro afirmou ter recebido dinheiro de Joesley para que não fechasse um acordo de colaboração. Segundo a Procuradoria, o silêncio do operador beneficiaria o grupo do PMDB próximo a Temer. O presidente nega que tenha dado aval ao executivo da JBS para os pagamentos.

A primeira denúncia contra Temer foi rejeitada pela Câmara em agosto, por 263 votos a 227. 

Em 2ª denúncia, Temer é acusado de dois crimes

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