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Temer mostra força, mas classe política sai enfraquecida, diz sociólogo

Em 2ª denúncia, Temer foi acusado de dois crimes

UOL Notícias

Guilherme Azevedo

Do UOL, em São Paulo

25/10/2017 22h33

O sociólogo Wagner Tadeu Iglecias, professor de políticas públicas da USP (Universidade de São Paulo) Leste, afirma que a rejeição da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) dá força ao governo, mas enfraquece a classe política em geral, podendo abrir caminho para uma figura fora da política nas eleições de 2018.

Para Iglecias, Temer "sai fortalecido do jogo institucional", em sua relação com o Judiciário, na figura da Procuradoria-Geral da República, após a saída de Rodrigo Janot do cargo e a posse de Raquel Dodge. Também ganhou na relação com o Legislativo.

Ele diz não acreditar numa nova denúncia da Procuradoria contra o presidente, agora sob o comando de Dodge.

O sociólogo pondera, contudo, que o presidente sai com a imagem ainda mais arranhada do ponto de vista da opinião pública. "[O arquivamento da denúncia] É uma decepção profunda para a sociedade. O desgaste de Temer é cada vez maior."

Do lado do cidadão comum, cresce também a desconfiança em relação às instituições do país e sobretudo em relação aos políticos e aos partidos tradicionais. Isso, na visão do especialista, poderá fomentar a busca no pleito de 2018 por um "outsider", alguém de fora da política, ou dar força ao movimento de volta ao poder do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Iglecias diz notar, como consequência dos desmandos na política, de que fazem parte os arquivamentos das denúncias contra Temer, um movimento crescente de "saudosismo" de épocas com índices econômicos positivos. Isso, por parte de parcela do eleitorado, significa a manifestação do desejo de volta dos militares ao poder ou de algum salvador da pátria com alguma solução mágica e forte.

Com o "desgaste das instituições", diz, a tendência pode ser de que se vote muito mais baseado em rejeição do que escolha. "Seria a rejeição de tudo que está aí, o que nunca é um voto bom."