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Cunha diz que vai "desmentir tudo" que Funaro falou sobre ele em delação

Veja os principais pontos da delação de Funaro

UOL Notícias

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

27/10/2017 20h09Atualizada em 30/10/2017 19h52

Após interrogatório do corretor de valores Lúcio Funaro na Justiça Federal do Distrito Federal, realizado nesta sexta-feira (27) em Brasília, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou que vai "desmentir tudo" o que o depoente afirmou sobre ele. Cunha estava presente na audiência de Funaro e acompanhou o depoimento na 10ª Vara Federal de Brasília.

"Eu vou desmentir tudo. É uma repetição do que já está na delação, e no meu interrogatório eu vou fazer a minha defesa e mostrar as mentiras que estão sendo faladas", declarou, ao fim da audiência, por volta das 19h45.

Funaro, apontado como operador do PMDB, afirmou na audiência ter entregue dinheiro pessoalmente ao ex-ministro Henrique Alves (PMDB-RN) e disse “ter certeza” que o ex-ministro foi beneficiado com recursos do esquema de propina supostamente montado por Cunha na Caixa Econômica. Ele disse ainda que o presidente Michel Temer (PMDB) tinha conhecimento do esquema.

"Entreguei para ele [Alves] mesmo, nas mãos dele em São Paulo", disse Funaro, que é réu no processo em que Cunha e Alves são acusados de participar de um esquema de corrupção na Caixa Econômica Federal para liberação de recursos do FI-FGTS, fundo de investimento estatal.

O deputado Eduardo Cunha (à esq.) e o corretor Lúcio Funaro (dir.) ficaram frente a frente em depoimento na Justiça Federal, em Brasília - Reprodução 26.out.2017 - Reprodução 26.out.2017
Cunha (à esq.) e Funaro (dir.) ficaram frente a frente em depoimento na Justiça Federal, em Brasília
Imagem: Reprodução 26.out.2017

“Eu tenho certeza que ele [Cunha] repassou dinheiro para o Henrique Alves”, disse o delator, respondendo a perguntas do juiz Vallisney de Oliveira, de Brasília.

Vallisney anunciou que o retorno de Cunha para o Paraná está suspenso até que o depoimento dele seja realizado. A transferência estava inicialmente prevista para este sábado (28). O interrogatório foi marcado para o dia 6 de novembro, às 9h.

Na próxima terça (31), os advogados do ex-deputado vão apresentar questionamentos a Funaro, também a partir das 9h. 

Na saída da audiência, Cunha falou que não daria entrevista hoje a pedido do juiz. "Estou sob a dependência dele, não posso desrespeitar a custódia, que seria uma coisa desagradável. Falo depois do interrogatório", declarou. "Estou com muitas saudades de vocês", brincou, despedindo-se dos jornalistas.

Encontro

Presente à audiência, Cunha demonstrou contrariedade com o relato de Funaro sobre a suposta participação do ex-deputado no esquema.

"Ele [Cunha] sempre foi muito correto. Nunca tive problema nenhum de contabilidade com ele", disse Funaro. Do outro lado da mesa na sala de audiência, Cunha balançou a cabeça em sinal de negativa à afirmação.

Os dois ficaram frente a frente pela primeira vez desde que foram presos --Cunha, em outubro do ano passado, e Funaro, em junho de 2016-- na tarde desta quinta-feira (26), durante depoimento do ex-vice presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Fábio Cleto.

Cleto afirmou que a aprovação de projetos de empresas pela Caixa sofria influência de Cunha e de Funaro. "Desde o início comecei sob orientação de Lúcio Funaro ou de Eduardo Cunha", disse.

Durante o depoimento, Funaro disse ratificar "110%" todos os termos de depoimento de sua delação premiada. O corretor afirmou ainda que Cunha foi “centenas de vezes” ao seu escritório, em São Paulo.

"Em época de eleição, o deputado Eduardo Cunha estava toda segunda-feira no meu escritório. Ele tinha tanta intimidade que a ordem para a minha secretária era que ele entrasse na minha sala, sentasse na minha cadeira e recebesse quem ele tivesse que receber", declarou.

Outro lado

Eduardo Cunha tem negado o envolvimento em qualquer prática ilegal. A defesa de Henrique Alves afirma que não há provas contra ele. A defesa de Temer e Moreira Franco negam a participação no suposto esquema de propina do PMDB.

Questionada a respeito das declarações de Funaro, a Secretaria de Comunicação da Presidência afirmou, por meio de nota, que "o presidente contesta de forma categórica qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos, ainda mais partindo de um delator que já mentiu outras vezes à Justiça".