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Funaro diz que campanha de Temer recebeu dinheiro de propina na Caixa

Apontado como operador do PMDB, Funaro é delator - Reprodução/Divulgação
Apontado como operador do PMDB, Funaro é delator Imagem: Reprodução/Divulgação

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

31/10/2017 11h02Atualizada em 31/10/2017 14h13

No segundo dia de seu depoimento à Justiça Federal, o delator e corretor de valores Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB, afirmou nesta terça-feira (31) que o presidente Michel Temer (PMDB) recebeu dinheiro com origem no esquema de propina na Caixa Econômica e no FI-FGTS (fundo de investimentos) para campanha de 2010, quando ele foi candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff (PT).

Os pagamentos, segundo Funaro, tinham como contexto a aprovação de um financiamento do FI-FGTS para o grupo Bertin, e seriam utilizados em campanhas políticas do PMDB e do PT em 2010.

O delator afirmou que o valor do repasse foi negociado numa reunião que teve a participação de sócios do grupo Bertin, o ex-deputado e presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-deputado Cândido Vaccarezza (sem partido), à época uma das lideranças do PT.

"Se não me engano, Eduardo Cunha [ex-deputado federal e presidente da Câmara] ficou com um milhão [de reais]", disse. "Dois milhões, dois milhões e meio [de reais] foram destinados ao presidente Michel Temer, e um valor acho que um milhão, um milhão e meio [de reais], ao deputado Cândido Vaccarezza [ex-deputado federal pelo PT]", disse Funaro.

"O do Temer acho que foi doação oficial para o PMDB nacional", disse o delator.

Funaro presta depoimento nesta terça-feira na 10ª Vara Federal de Brasília. O delator é réu no processo em que Cunha e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) são acusados de participar de um esquema de corrupção na Caixa Econômica Federal para liberação de recursos do FI-FGTS, fundo de investimento da estatal.

Em nota, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República afirmou que Temer "contesta de forma categórica qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos, ainda mais partindo de um delator que já mentiu outras vezes à Justiça".

A Presidência também comentou as doações do PMDB recebidas naquele ano e afirmou que as contribuições não têm relação com a financiamentos do FI FGTS. "Em 2010, o PMDB recebeu R$ 1,5 milhão em três parcelas de R$ 500 mil como doação oficial à campanha, declarados na prestação de contas do Diretório Nacional do partido entregue ao TSE. Os valores não têm relação com financiamento do FI FGTS", diz a nota.

Funaro chora ao falar de delação e diz que Temer sabia de esquema

UOL Notícias

Funaro diz que Temer conhecia esquema

O depoimento de Funaro começou na última sexta-feira (27). Naquela audiência, o delator afirmou que Temer, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e o ex-ministro Geddel Vieira Lima tinham conhecimento do esquema na Caixa.

Ele fez a afirmação ao ser questionado pelo representante do Ministério Público Federal sobre quem do PMDB sabia do esquema.

"Esse grupo maior do PMDB na Câmara sabia desse esquema que envolvia Fábio Cleto?", perguntou o procurador da República Anselmo Lopes.

"Geddel com certeza [sabia], o Lúcio, irmão do Geddel, com certeza, Henrique Alves, Michel Temer, Moreira Franco, Washington Reis [deputado federal]", respondeu Funaro.

Funaro também apontou a participação de Henrique Eduardo Alves no esquema na Caixa.

"Entreguei para ele [Alves] mesmo, nas mãos dele em São Paulo", disse Funaro.

“Eu tenho certeza que ele [Cunha] repassou dinheiro para o Henrique Alves”, disse o delator, respondendo a perguntas do juiz Vallisney de Oliveira.

Funaro afirmou ter entregue em uma ocasião cerca de R$ 150 mil pessoalmente a Alves num hotel em São Paulo e disse também ter emprestado um avião particular para que um funcionário do ex-ministro levasse uma mala com cerca de R$ 5 milhões de reais que seria utilizado na campanha de Alves ao governo do Rio Grande do Norte.

A defesa de Henrique Alves afirma que não há provas contra o ex-ministro.

A denúncia contra Cunha e Alves teve como base as investigações da Operação Sepsis. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), entre os anos de 2011 e 2015, o então deputado Cunha atuou em um esquema de cobrança de propina a empresas beneficiadas pela Caixa Econômica Federal e ao FI-FGTS.

O esquema teria contado com a participação de Fábio Cleto, ex-vice-presidente de Loterias da Caixa Econômica Federal que posteriormente assinou um acordo de delação premiada.
Além de Cleto, Cunha e Alves, também foram denunciados no processo o corretor Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB, e o empresário Alexandre Margotto.

Cleto, Funaro e Margotto, réus nesse processo, firmaram acordos de colaboração premiada com a Justiça.

O que dizem os acusados

Cunha tem negado o envolvimento em qualquer prática ilegal. A defesa de Henrique Alves afirma que não há provas contra ele. A defesa de Temer e Moreira Franco negam a participação no suposto esquema de propina do PMDB.

Em manifestação na Câmara dos Deputados, o advogado de Temer, Eduardo Carnelós, e o do ministro Moreira Franco, Antonio Sergio Pitombo, criticaram a denúncia apresentada contra o grupo do PMDB na Câmara e afirmaram não haver provas de irregularidades.

Em nota, o advogado Gamil Föpel, que representa Geddel e Lúcio Vieira Lima, afirmou que as declarações de Funaro são "vazias e inverídicas", que o ex-ministro --atualmente preso em Brasília-- "jamais participou de qualquer irregularidade na gestão da Caixa e nem em qualquer outro órgão público que tenha integrado", e que o deputado federal tem "conduta proba e lícita".

A reportagem não conseguiu entrar em contato o deputado Washington Reis (PMDB-RJ).