"Não sou Adhemar de Barros 'rouba, mas faz', sou realizador", diz Cabral ao negar cartel
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) entrou em debate com o juiz Marcelo Bretas, em audiência na 7ª Vara Federal Criminal (RJ), nesta terça-feira (5), ao falar sobre obras realizadas durante o seu governo (2007-2014). A ação penal apura formação de cartel e fraudes a licitações na reforma do Maracanã, palco da final da Copa do Mundo de 2014, e em obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para urbanização de grandes favelas do Rio.
Cabral defendeu que não tinha ingerência sobre que empreiteira era ou não contratada, uma vez que nem conhecia quem participava do gabinete montado pelo atual governador e então secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e que seu interesse era exclusivamente na realização das obras.
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Ao começar a citar, mais uma vez, seus feitos como governador, foi questionado por Bretas. “O senhor concorda que um governante que tenha feito tudo isso, mas que se corrompeu nessa tarefa terá perdido todo o louro dessa execução?”, questionou Bretas. Cabral anuiu e seguiu defendendo seus feitos.
O magistrado o interrompeu e questionou a forma como foram “azeitadas” essas relações. "O senhor não vê um vínculo entre essas contribuições oficiais --não estou falando das oficiosas-- e logo depois a proximidade que se criou?", perguntou o juiz.
“Não sou Adhemar de Barros ‘rouba, mas faz’, sou um realizador”, retrucou Cabral, reafirmando que todos os valores que recebeu de empresas como caixa dois foram sobras de campanha.
Prefeito e duas vezes governador de São Paulo entre os anos 30 e 60, Adhemar de Barros ficou conhecido pelo bordão "rouba, mas faz". A frase foi cunhada por um adversário, mas acabou sendo usado em campanha eleitoral de Adhemar, acusado de desvio de verbas públicas.
Esse não foi o primeiro “debate” entre os dois. Em audiência anterior, o juiz chegou a determinar que Cabral fosse transferido para um presídio federal depois que o peemedebista citou informações sobre sua família.
Bretas condenou o peemedebista a 58 anos de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e supostamente exercer a liderança de organização criminosa, em duas ações penais.
"É no mínimo suspeito e inusitado o acusado, que não só responde a este processo como a outros, venha aqui trazer em Juízo informações sobre a rotina da família do magistrado. Além de causar espécie, como bem observou o Ministério Público Federal, de que apesar de toda a rigidez ele tenha se privilegiado de informações que talvez ele não devesse", argumentou Bretas na ocasião.
Ação apura cartel em licitações
A audiência desta terça diz respeito ao processo que apura formação de cartel e fraudes a licitações da reforma do Maracanã, palco da final da Copa do Mundo de 2014, e das obras de urbanização do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) realizadas em grandes favelas do Rio de Janeiro.
De acordo com o MPF (Ministério Público Federal), a empreiteira Delta pagou propina a Cabral e a outros agentes públicos a fim de fazer parte de consórcios que venceram licitações realizadas pelo Executivo fluminense.
Foram denunciados à 7ª Vara Federal Criminal (RJ), em 19 de abril deste ano, Cabral, o ex-subsecretário de Obras do Estado Hudson Braga, Cavendish e outras 17 pessoas.
Além do ex-governador, a Justiça ouviu nesta terça o ex-secretário de Governo de Cabral Wilson Carlos e o ex-secretário de Obras Hudson Braga, também presos preventivamente em Benfica. Enquanto Wilson Carlos preferiu ficar em silêncio, Braga passou seu depoimento negando qualquer conhecimento de cartel ou propina nas obras do Estado.
Ex-executivo da Delta, Paulo Meriade Duarte negou nesta terça ter qualquer envolvimento no suposto cartel formado por empreiteiras para participar de obras do Estado. "Eu não deveria estar aqui. Fui incluído em uma denúncia em que não tive participação de nada. Não fiz tratativas com ninguém do governo, nunca fiz isso", afirmou.
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