Há uma ação política muito mais forte que jurídica, diz Lula
Um dia após o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) marcar a data do julgamento da apelação que pode determinar a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial de 2018, o petista afirmou ver com muita tristeza o funcionamento do judiciário. "Isso [o andamento do processo] me fez concluir que havia uma ação política muito mais forte do que uma ação jurídica", declarou nesta quarta-feira (13).
Lula se diz alvo de perseguição política porque acredita que nem a força-tarefa da Operação Lava Jato no MPF (Ministério Público Federal) no Paraná tinha elementos para denunciá-lo nem o juiz federal Sergio Moro tinha provas para condená-lo a nove anos e seis meses de prisão. “Eu ficava na expectativa de o juiz falasse que isso aqui é uma blasfêmia”, disse.
“Se tem uma coisa que eu não abro mão é a minha honra. Nem por Moro nem por Gebran [relator da apelação de Lula no TRF-4]. E eles têm que saber que estão lidando com um cidadão com muito caráter”.
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Na terça-feira (12), o TRF-4, que é a segunda instância da Lava Jato de Curitiba, informou que o julgamento do recurso de Lula contra a sua condenação no processo do tríplex será no dia 24 de janeiro.
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Líder em todas as pesquisas de intenção de voto sobre a disputa pelo Planalto em 2018, Lula pode cair na “Lei da Ficha Limpa” caso o TRF-4 confirme a condenação de Moro. Recursos, porém, podem garantir a presença do petista no pleito.
Em evento com as bancadas do PT no Congresso, Lula disse que seria “leviandade” ele querer disputar a eleição por causa dos processos em que é réu. “Não quero ser candidato por ser candidato. Eu não quero ser candidato se eu for culpado. Seria leviandade da minha estar brigando para ser candidato para ocultar minha culpabilidade. Eu quero brigar para provar minha inocência”, declarou.
Eu quero ser inocentado para poder ser candidato
Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República
Em seu discurso, o petista disse acreditar que “todo santo dia estão tentando destruir nossa candidatura”. “Só tem um jeito: é reagir. Quem achar de nós que vai sobreviver ficando quieto, pode ficar quieto que não vai sobreviver”.
O ex-presidente ainda defendeu o PT. “Com todos os erros que nosso partido tenha cometido, nós somos infinitamente melhores do que essa turma que está governando o país”.
Sobre a reclamação feita por seus advogados em relação à velocidade do processo no TRF-4, Lula disse que passou a vida inteira criticando a morosidade da Justiça. “Agora eu não vou criticar”, afirmou. “Eu marcaria a data para depois das eleições”, brincou. “Eles façam o que eles quiserem”.
Para Lula, as investigações transformaram “todo e qualquer dinheiro de campanha em propina”. “Isso foi aceito com uma certa normalidade. Fico muito puto quando a classe política não reage”.
“Se esse país não voltar à normalidade e as instituições não voltarem a funcionar, esse país não tem jeito. Vai ser difícil você recuperar esse país”, disse.
Na tarde desta quarta-feira, o ex-presidente cumpriu sua segunda agenda do dia na capital federal. Lula foi recebido com festa em um evento de catadores em Brasília.
Petista saem em defesa de Lula
O pronunciamento do ex-presidente foi feito durante reunião das bancadas do PT no Parlamento, em Brasília, que anunciou o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) como novo líder do partido na Câmara, que assumirá a posição no ano que vem.
Integrantes do PT presentes na reunião desta quarta-feira criticaram o TRF-4. Para Paulo Pimenta, o julgamento ter sido marcado para 24 de janeiro foi uma desfaçatez, “dia que completo um ano que a [ex-primeira-dama] Marisa [Letícia] teve um AVC”. A mulher do ex-presidente morreu em fevereiro deste ano.
“Desfaçatez também ter marcado numa data em que o STF [Supremo Tribunal Federal] e o STJ [Superior Tribunal de Justiça] não vão estar em funcionamento”. O recesso das instâncias superiores termina em fevereiro.
Atual líder do partido na Câmara, o deputado federal Carlos Zarattini (SP) disse que “eleição sem Lula é fraude”. “E condenação sem prova é fraude também”. O líder do PT no Senado, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), voltou a dizer que “não há plano B” caso Lula não possa disputar a eleição.
Já o deputado federal José Guimarães (PT-CE) sugeriu que as lideranças do PT estejam em Porto Alegre, onde está sediado o TRF-4, para mostrar que os petistas não aceitam uma condenação de Lula.
Para a presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o julgamento de Lula no TRF-4 é a “terceira fase do golpe”, sendo as duas primeiras, na visão dela, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e as reformas do atual governo, de Michel Temer (PMDB). “[A terceira fase] foi descortinada ontem”.
“O problema é inverter a ordem cronológica dos processos. Lula vê seus processo serem tratados com maior agilidade. Mas e o dos demais [réus] que estão esperando seus processos serem julgados? Por que inverter essa ordem cronológica?”, questionou.
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