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PMDB pagou hospedagem de pai de santo que benzeu Temer, informa hotel

Temer foi benzido por Pai Uzêda durante convenção do PMDB, em Brasília - Igo Estrela 19.dez.2017 /PMDB/AFP
Temer foi benzido por Pai Uzêda durante convenção do PMDB, em Brasília Imagem: Igo Estrela 19.dez.2017 /PMDB/AFP

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

20/12/2017 15h46

O homem que se apresenta como pai de santo e que nesta terça-feira (19) benzeu o presidente Michel Temer durante a convenção nacional do PMDB teve sua hospedagem em um hotel de quatro estrelas de Brasília paga pelo partido.

De acordo com a administração do San Marco Hotel, as despesas com quatro diárias e alimentação de Roberval Batista de Uzêda, 52, conhecido como Pai Uzêda, foram faturadas em nome do diretório nacional do PMDB, que também hospedou outros participantes do evento no local.

A informação foi antecipada nesta quarta (20) pela coluna "Expresso", da revista "Época".

Questionado pela reportagem do UOL nesta terça, ainda durante a convenção, o presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá (RR), descartou a relação do partido com o pai de santo e disse que Uzêda não foi contratado pela legenda.

Em seguida, Jucá fez movimentos circulares com o dedo ao redor da orelha, gesto que indica que alguém é doido.

Uzêda, que é filiado ao PP do Rio de Janeiro, circulou pela convenção com uma credencial do PMDB com a inscrição "convidado".

Nesta quarta, a assessoria da legenda informou que o partido é responsável por arcar com despesas de participantes da convenção, e que estes são indicados pelos Estados.

hotel bsb - Divulgação/Hotel San Marco - Divulgação/Hotel San Marco
Piscina do hotel San Marco, em Brasília, em foto divulgada no site oficial
Imagem: Divulgação/Hotel San Marco

O hóspede ficou de sábado (16) até ontem em um quarto individual, cuja diária custa R$ 609 se for paga diretamente na recepção do hotel. Segundo a administração do espaço, os custos foram reduzidos e giraram em torno de R$ 220 porque foram incluídos em um pacote maior em razão da convenção.

O valor total, no entanto, não foi revelado por questões de confidencialidade.

Nesta quarta, por telefone, Uzêda voltou a afirmar que teve sua hospedagem paga pelo PMDB, reforçando o que havia dito a jornalistas durante o evento.

Temer foi "benzido" contra doenças

Vestido de branco, ele benzeu Temer com ramos de uma planta chamada guiné, "usada contra morte e doença". O presidente abriu os braços para receber o "passe".

Uzêda afirmou que esteve no Palácio do Jaburu, residência oficial do peemedebista, e no gabinete de Temer no Palácio do Planalto. Na ocasião, ele também disse ter sido trazido do Rio de Janeiro para Brasília para benzer e livrar Temer de "macumba".

"Fizeram um trabalho de vodu contra Temer, por isso que ele teve doença. Jogaram pesado contra o presidente", declarou.

O peemedebista passou por mais um procedimento cirúrgico na semana passada para desobstruir a uretra. No mês passado, o presidente foi submetido a uma angioplastia de três artérias do coração com implante de stent (uma prótese extensora vascular).

Ele diz ter sido chamado por Temer e pela primeira-dama Marcela, da qual afirma ser pai de santo. O Palácio do Planalto nega qualquer relação de Uzêda com o casal.

Um assessor presidencial disse que ele tenta "faturar" com todos os presidentes desde Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

De fato, Uzêda é presença frequente em Brasília e costuma distribuir cartões de visitas a parlamentares no Congresso Nacional.

Na identificação, ele "oferece serviço espiritual de limpeza do corpo através de defumação, jogo de búzios africanos e defumações em residências e escritórios para eliminar trabalhos de macumba e olho gordo".

Uzêda afirma seguir a linha branca da umbanda. Em 2014, ele foi candidato a deputado estadual do Rio de Janeiro pelo PP. Com apenas 108 votos, não conseguiu se eleger.

No ano passado, tentou uma vaga na Câmara dos Vereadores do Rio, mais uma vez sem sucesso. Obteve 50 votos a menos que no pleito anterior.

Quando preencheu seus dados na Justiça Eleitoral em ambas as ocasiões, Uzêda afirmou que sua ocupação era "escritor e crítico" e disse ter ensino médio completo.

Em março de 2015, ele invadiu o Palácio do Planalto para, segundo informou, tentar alertar a então presidente Dilma Rousseff (PT) em relação ao então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Nove meses depois, o então presidente da Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment, o que levou à saída da petista da Presidência.