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Funaro cumpre prisão domiciliar com piscinas e quadra de tênis, e divide cidade

Funaro pede para receber visita de "parceiro de tênis"

UOL Notícias

Luis Kawaguti

Do UOL, em Vargem Grande do Sul (SP)

22/12/2017 04h00

Moradores da pequena Vargem Grande do Sul, a 240 quilômetros ao norte da capital de São Paulo, dizem estar curiosos para saber como será a queima de fogos neste ano. Segundo eles, sempre que Lúcio Bolonha Funaro, o operador financeiro de esquemas de corrupção do PMDB na Câmara, está na cidade, o show pirotécnico é farto.

“Todos os anos tinha uma grande queima de fogos que dava para ver de todos os pontos da cidade, diziam que era o Lúcio Funaro quem fazia. No ano passado, quando ele estava preso, não teve”, disse ao UOL uma moradora que pediu para não se identificar.

Mas Funaro voltou à cidade nesta semana para cumprir o resto de sua pena em prisão domiciliar, após receber autorização do juiz da 10ª Vara Federal Vallisney de Souza Oliveira para deixar o presídio da Papuda, em Brasília.

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A propriedade fica no bairro Jardim São Joaquim. Ela tem ao menos três piscinas, uma quadra de tênis, um heliponto e uma extensa área verde.

Funaro confessou diversos atos de corrupção e aceitou delatar políticos de alto escalão do PMDB – entre eles o ex-ministro Geddel Vieira Lima e o ex-deputado Eduardo Cunha – para ter a sua pena amenizada. Dados revelados por ele ajudaram a levar à apreensão de R$ 51 milhões em um apartamento atribuído a Geddel.

Suas informações foram também usadas pela Procuradoria-Geral da República para denunciar, pela segunda vez, o presidente Michel Temer. A denúncia, tal como a primeira, foi suspensa pela Câmara dos Deputados.

Pelo acordo com a Justiça, Funaro não poderá sair da casa pelos próximos dois anos, exceto se receber autorização da Justiça para atividades específicas, como ir ao médico ou estudar em uma instituição de ensino.

Depois desse período, terá que cumprir mais dois anos em regime domiciliar semiaberto (quando poderá sair durante o dia para trabalhar, por exemplo) e outros dois em domiciliar aberto, com restrições mínimas.

"Filho dessa terra"

A chegada de Funaro agitou a cidade de cerca de 40 mil habitantes.

Muitos disseram à reportagem ter ouvido na manhã de quarta-feira (20) o barulho do helicóptero que antes, habitualmente, pousava no heliponto da casa trazendo o operador financeiro às sextas-feiras e o levando embora nos domingos – tudo isso antes de sua prisão em 2016.

Mas foi só impressão. Segundo seu advogado Bruno Espineira, ele chegou de carro no meio da madrugada.

O dono de uma banca de jornais disse que um empregado de Funaro foi buscar os periódicos para ele já antes das 8h.

Lúcio Funaro cresceu na cidade de Vargem Grande do Sul - UOL - UOL
Lúcio Funaro cresceu na cidade de Vargem Grande do Sul
Imagem: UOL

Um amigo de infância do operador, que pediu para não ter o nome revelado, disse que apesar de não concordar com corrupção, se solidariza com a volta do amigo.

Um homem que já prestou serviços na casa da família de Funaro disse estar feliz com a volta dele. “Ele fez muito bem para esta cidade. Ele ia a leilões de gado, arrematava e doava para a Igreja. É uma pessoa muito boa. Ele sempre ia à missa todos os domingos e andava aqui no meio do povo”, disse o ex-funcionário, que também pediu para seu nome ser mantido em sigilo.

O UOL foi até a igreja local para tentar confirmar as informações, mas o padre não conseguiu achar tempo em sua agenda para dar entrevista.

Outro morador também demonstrou simpatia por Funaro. “Não me peça para falar dele. Apesar do que fez, ele é um filho dessa terra”, ponderou.

Imagem ruim para a cidade

Funaro, de fato, cresceu em Vargem Grande do Sul. A família Bolonha é tradicional da região e ficou muito conhecida no passado por atuação no setor de cerâmica – atividade muito comum lá e nos municípios vizinhos.

Mas imagem que uma boa parte dos moradores têm dele não é tão positiva.

“Ele chegava de helicóptero dando rasante, passava nos carros caros que eu nem sei dizer o tipo”, disse o aposentado Antônio Carlos Ferreira. “Me sinto envergonhado, não só da minha cidade, dele ser vargem-grandense, mas como brasileiro também”.

O morador Antônio Carlos Ferreira diz que presença de Funaro pode ser negativa para Vargem Grande do Sul - UOL - UOL
O morador Antônio Carlos Ferreira diz que presença de Funaro pode ser negativa para Vargem Grande do Sul
Imagem: UOL

Outro morador, que pediu para não ter o nome revelado, afirmou que Funaro nunca foi muito bem visto na cidade e já teria se envolvido em desavenças.

Já para Humberto Coteco, que também é morador de lá, a volta de Funaro pode ser prejudicial à imagem do município. “Eu acho que é ruim, porque a cidade vai ficar falada negativamente”, disse. “Ele tinha que estar lá (preso em regime fechado) igual os outros presos estão”.

Sistema de câmeras

O cumprimento da pena de Funaro em prisão domiciliar foi possível somente com uma condição, imposta pelo juiz Vallisney De Souza Oliveira: como há uma falta de tornozeleiras eletrônicas, a vigilância está sendo feita por meio de um sistema de câmeras de segurança instalado a pedido do próprio delator.

As imagens são transmitidas em tempo real para a Justiça Federal. Funaro explicou o sistema em audiência com o juiz Vallisney.

“O senhor, a qualquer hora do dia, vai poder entrar na câmera e falar: pede pro Lúcio entrar na frente da câmera. E eu vou estar na frente da câmera”, prometeu.

Ele também se comprometeu a não sair da casa sem autorização. “O senhor pode ter certeza que se eu puser meio pé na rua, vai ter 300 pessoas falando que eu pus o pé na rua. Porque tem 300 pessoas lá que, no mínimo, não devem gostar de mim. Vão denunciar aqui para o senhor na hora”, disse.

A última das promessas do operador foi sobre seu futuro: ele garante que vai se regenerar. “O que eu mais quero é poder sentar nessa cadeira, daqui a cinco ou seis anos, e mostrar para o senhor que uma pessoa que vivia num mundo que não era correto conseguiu se reciclar e passar a ter uma vida correta, digna e com todos os seus desejos supridos”, afirmou. “Isso vai ser a maior lição que vai ficar para todos os colaboradores, que a colaboração compensa”.