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Marun defende Cristiane Brasil e chama críticos de "talibãs enrustidos"

Em lancha, Cristiane Brasil questiona "direito" a ação trabalhista - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Em lancha, Cristiane Brasil questiona "direito" a ação trabalhista
Imagem: Reprodução/Facebook

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

30/01/2018 17h38Atualizada em 30/01/2018 18h33

Ao defender nesta terça-feira (30) a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), indicada ao Ministério do Trabalho, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (PMDB), chamou os críticos do vídeo dela de “talibãs enrustidos” e perguntou à imprensa se a população usa burcas para ir à praia. Talibã é um movimento radical que prega uma leitura radical da lei islâmica.

Em um vídeo divulgado nesta segunda (29), Cristiane aparece em uma lancha, cercada de homens sem camisa, e questiona "quem tem direito" de mover ações trabalhistas. A fala gerou reações negativas nas redes sociais.

“Será que todas as pessoas que andam de lancha no litoral do Rio de Janeiro são amorais ou imorais? [Tem] muita gente que bate bumbo pela liberdade, mas na verdade são uns ‘talibãs enrustidos’, certo? Queria que ela estivesse de burca, eu acho. Na praia a gente anda assim. Eu quando vou à praia – não sei vocês se vão de quimono, de burca – devo confessar a vocês que vou de calção de banho”, declarou.

A coletiva no Palácio do Planalto foi convocada pelo próprio ministro para falar do que considera um avanço no apoio da reforma da Previdência. A medida adotada por Marun tem se tornado comum para tentar reforçar a importância do assunto perante a população. O objetivo do governo é aprovar a reforma em 20 de fevereiro no plenário da Câmara.

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Mais cedo, Cristiane recebeu críticas do pai, Roberto Jefferson, que também é presidente nacional do PTB, partido que indicou Cristiane para a pasta. Jefferson afirmou que a repercussão do vídeo com a filha questionando "quem tem direito" de entrar com ações na Justiça, especialmente na do Trabalho, “fala por si”. 

Jefferson afirma ainda que “uma figura pública deve se portar como uma figura pública, e usar ferramentas como Facebook e Instagram apenas em caráter institucional”. No entanto, defendeu que houve “muita deturpação” e pediu “menos moralidade e menos machismo” aos críticos nas redes sociais.

A mesma linha foi adotada por Marun, que chamou a imprensa nesta terça de “baluartes da moral, dos bons costumes e até quem sabe do estabelecimento de roupagem adequada”. “Burca talvez até seja um caminho”, falou. O ministro ainda questionou se uma repórter presente à coletiva nunca havia andado de lancha.

Ao ser informado de que as críticas sobre o vídeo não estavam apenas no contexto da fala, mas no conteúdo da declaração de Cristiane, Marun preferiu não comentar.

Antes, ressaltou que “o que deveria estar em discussão” é o fato de um juiz de primeira instância poder barrar a indicação de um ministro pelo presidente da República.

Indicação barrada na Justiça

Cristiane foi indicada pelo presidente da República, Michel Temer (PMDB), para assumir o Ministério do Trabalho no início de janeiro e chegou a ter a nomeação publicada no Diário Oficial da União. No entanto, a posse como ministra foi barrada pela Justiça. O governo tem recorrido das decisões contrárias, mas ainda não obteve êxito.

Cinco ações foram movidas por um grupo de advogados do Rio de Janeiro com o objetivo de barrar a indicação da deputada para o Ministério. Os processos foram apresentados após ser revelado que Cristiane foi condenada em uma ação trabalhista por não assinar a carteira nem pagar direitos trabalhistas a um motorista que trabalhava cerca de 15 horas por dia para ela e sua família.

Outro lado

Procurada pelo UOL, a assessoria da deputada informou, em nota, que a "gravação e a divulgação do vídeo foi uma manifestação espontânea de um amigo, utilizada fora do contexto". A assessoria também informou que Cristiane Brasil "reitera ainda o seu respeito à Justiça do Trabalho e à prerrogativa do trabalhador reivindicar seus direitos".

A reportagem ainda perguntou à assessoria de imprensa da deputada quando o vídeo foi gravado e quem são as pessoas junto a ela, mas não obteve resposta.

UOL também procurou a Presidência da República sobre o vídeo, as declarações e o contexto do vídeo. Oficialmente, não houve resposta.