Ex-contadora de Youssef pede absolvição e diz que Lava Jato não existiria sem ela
Ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Poza pediu perdão judicial e sua absolvição ao juiz federal Sergio Moro. Meire é ré sob acusação de ter usado suas empresas para emitir notas fiscais para simular prestação de serviços. Além de pedir para ser absolvida, a contadora pede que receba os “benefícios próprios de colaboradores”. Condenado por Moro, Youssef é considerado o principal operador de propinas envolvido na Operação Lava Jato.
Em alegações finais no processo, que responde por lavagem de dinheiro, a defesa da contadora salientou que, sem ela, não haveria a Lava Jato. “É induvidoso que a postura colaborativa da peticionária [Meire] e a comprovada imprescindibilidade de sua colaboração para o avanço da operação lhe asseguram a fruição do benefício do perdão judicial.”
No documento apresentado a Moro, a ré mostra trechos de trocas de mensagem com delegados da força-tarefa da PF (Polícia Federal) na Lava Jato. Em conversa de dezembro de 2014, o delegado Marcio Anselmo chegou a dizer que pediria o perdão judicial de Meire caso ela fosse denunciada. Meire chamou sete membros da PF para depor como suas testemunhas de defesa, Anselmo entre eles. A Moro, ele disse não se lembrar se as conversas haviam sido “exatamente nesses termos”.
A contadora temia que a força-tarefa no MPF (Ministério Público Federal) pudesse oferecer uma acusação contra ela, o que aconteceu em novembro de 2016. Os procuradores denunciaram a contadora por tentar esconder a transferência de R$ 2,4 milhões para o ex-deputado federal André Vargas (PT) e seu irmão, o empresário Leon Vargas. Ambos negam as acusações.
“Interessante destacar, a demonstrar que a colaboração de Meire Poza, induzida pelos investigadores, representou verdadeiro divisor de águas no curso da Operação Lava Jato”, disse a defesa. Para seus advogados, não fosse a contadora, outros delatores não teriam feito acordo de colaboração com a força-tarefa. “Sem a contribuição da peticionária, certamente não teria sido possível identificar e comprovar a maior parte das práticas criminosas apuradas no presente feito”.
“[Em 2014,] não era comum a utilização do instituto da colaboração premiada, circunstância que fez com que a ajuda prestada por Meire fosse o mais importante instrumento de obtenção de informações disponível aos investigadores”, complementaram os advogados. Para a defesa, a contadora foi a “primeira pessoa a efetivamente colaborar com as atividades investigatórias empreendidas pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato”. Ela se mostrou disposta a passar informações à PF em mensagem enviada em maio de 2014.
Um acordo de colaboração chegou a ser oferecido à contadora, mas ela o teria recusado. Ela conversava com membros da Lava Jato sem a orientação de advogados. Segundo ela, isso aconteceu por sugestão dos representantes da operação. Meire, então, foi utilizada como testemunha de acusação, solicitadas pelo MPF, em processos da Lava Jato.
Segundo a defesa da contadora, “todos os elementos de prova” mencionados pelos procuradores nas alegações “foram fornecidos por Meire ou foram decorrências diretas de sua colaboração com as investigações”.
A contadora, que não é ré em outros processos na Lava Jato, assumiu ter emitido as notas fiscais simulando prestação de serviços, o que fez por amor a Enivaldo Quadrado, condenado no escândalo do mensalão e em processos da Lava Jato que trabalhava com Youssef."Eu fiz isso porque eu era apaixonada pelo Enivaldo Quadrado e ele precisava de dinheiro", afirmou em seu interrogatório, em dezembro do ano passado.
Sobre o posicionamento de Meire contra a força-tarefa, o MPF disse que “houve colaboração espontânea” por parte da contadora e que caberia à Justiça avaliar se ela foi “efetiva a ponto de impactar a sentença". A PF não se manifestou a respeito das declarações de Meire.
A Moro, o MPF pediu a condenação de Meire. A partir de agora, o juiz poderá apresentar sua sentença, o que não tem data para acontecer.
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