Ex-ministro diz que Lula tinha dúvidas sobre comprar sítio em Atibaia
O ex-ministro Gilberto Carvalho disse em depoimento nesta quarta-feira (9) ao juiz federal Sergio Moro que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a ficar em dúvida se comprava ou não o sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP). Carvalho contou que Lula mencionou o fato um dia após a realização de uma festa junina no sítio, sem especificar o ano, durante uma caminhada pela propriedade. Ele foi ouvido como testemunha arrolada pela defesa de Marcelo Odebrecht por meio de videoconferência, em Brasília.
“Depois da festa a gente foi dormir e, de manhã, o presidente Lula me fez circular com ele para mostrar para mim como era a chácara” conta.
Segundo Carvalho, Lula disse que, no dia 15 de janeiro de 2011, quando estava de férias no Guarujá (SP), a ex-primeira-dama Marisa Letícia havia dito que tinha "uma surpresa para ele" e que o empresário Fernando Bittar, um dos sócios de um filho do ex-presidente e um dos donos do sítio, estava oferecendo o local para que eles usassem “como quisessem”.
“Depois de me mostrar [o sítio], ele me disse: ‘Estou com uma dúvida, porque a Marisa gosta muito daqui e o Fernando está até disposto a vender para a gente, mas não sei se é o caso porque essa chácara é muito longe, prefiro algo mais perto da [represa] Billings’. Foi algo nessa linha”, contou Carvalho a Moro.
Em depoimento concedido na segunda (7), o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, também disse que o ex-presidente avaliou, em 2015, comprar o sítio. Jorge Samek, ex-diretor da usina hidrelétrica de Itaipu, também depôs na segunda e declarou que Lula considerou comprar a propriedade naquela época. Ambos também prestaram depoimento a Moro como testemunhas de defesa.
O caso faz parte da terceira denúncia contra Lula no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo a acusação, a Odebrecht, a OAS e também a empreiteira Schahin, com o pecuarista José Carlos Bumlai, gastaram R$ 1,02 milhão em obras de melhorias no sítio em troca de contratos com a Petrobras.
A denúncia inclui ao todo 13 acusados, entre eles executivos da empreiteira e aliados do ex-presidente, até seu compadre, o advogado Roberto Teixeira.
A defesa do ex-presidente afirma que Lula nunca recebeu ou solicitou qualquer benefício, favorecimento ou vantagem indevida de qualquer empresa.
O imóvel foi comprado no final de 2010, quando Lula deixava a Presidência, e está registrado em nome de dois sócios dos filhos do ex-presidente, Bittar --filho do amigo e ex-prefeito petista de Campinas Jacó Bittar-- e Jonas Suassuna. A Lava Jato sustenta que o sítio é de Lula. O ex-presidente nega as acusações.
Lula está preso desde o dia 7 de abril, cumprindo pena de 12 anos e um mês após ter sido condenado, em segunda instância, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no chamado caso do tríplex. Sua defesa afirma que não há provas dos crimes imputados ao ex-presidente.
Ao ser questionado por um dos advogados da defesa do ex-presidente se sítio seria de Fernando Bittar, Gilberto Carvalho disse: “Para mim, a chácara era do Fernando, que ofereceu para eles”, contou.
Ainda sobre a festa junina, o ex-ministro disse ter sido convidado pelo próprio Fernando Bittar. “Tinha uma tradição de ser o rezador do terço na festa junina aqui em Brasília, eles queriam fazer uma homenagem para Dona Marisa e reproduziram a festa lá. Fernando me ligou para que eu fosse lá”, disse.
“De tudo o que eu sei, eles acabaram falando com Fernando e ele acabou emprestado aquela chácara, para que eles usassem”, acrescentou.
Durante o depoimento, o ex-ministro, que chefiou o gabinete pessoal do ex-presidente Lula nos oito anos do mandato do petista, e foi ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo Dilma, também falou da proximidade entre as famílias de Lula e de Bittar. Carvalho afirmou que que Lula e Jacó, junto com o ex-governador do Rio Grande Sul Olívio Dutra (PT), formavam o “um triunvirato na fundação do PT”.
“Ligação do Lula com Jacob era muito fraterna. Os meninos [os filhos dos dois] cresceram juntos, sou testemunha disso. Não tinha uma visita que a família do Lula fazia a Brasília que não vinha junto alguém da família Bittar. Era proximidade enorme”, disse.
Assessor que “comandava” obras era faz-tudo da família Lula
Gilberto Carvalho disse conhecer um dos assessores de Lula Rogério Aurélio Pimentel, apontado como um dos que comandavam as obras feitas no sítio de Atibaia, com que trabalhou ao longo dos oito anos que fez parte do governo, mas que nunca soube de nada relacionado ao sítio.
O ex-ministro conta que Aurélio era uma espécie de “faz tudo” da família Lula e que era chamado para resolver questões tanto em Brasília quando em São Paulo.
“Ele era uma espécie de faz tudo para dona Marisa e também ao presidente Lula quando havia necessidade. Por exemplo, quando era para os meninos irem para Brasília, ou algum problema que ocorria na casa em São Paulo, o Aurélio junto com outro companheiro, que era o Freud, fazia parte desse cuidado da família em Brasília e em São Paulo”, contou.
“Não tive ciência, nunca foi comentado comigo por parte do Aurelio ou qualquer pessoa essa história de chácara. Vim saber depois disso”, complementou.
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