Topo

Para governo, documento não tira prestígio de militares; general questiona interesse político

O ministro Raul Jungmann e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz (de preto) durante entrevista - Luciana Amaral/UOL
O ministro Raul Jungmann e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz (de preto) durante entrevista Imagem: Luciana Amaral/UOL

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

11/05/2018 16h17Atualizada em 11/05/2018 16h38

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e o secretário nacional de Segurança Pública, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, afirmaram nesta sexta-feira (11) que a revelação de documentos da CIA, agência de inteligência americana, indicando o aval de ex-presidentes militares brasileiros para execuções de opositores ao regime militar, não tira o prestígio das Forças Armadas.

Jungmann disse que o governo brasileiro ainda não tem conhecimento oficial sobre o que diz o documento e que, para se ter um pronunciamento desse assunto, é preciso acesso “de governo a governo”. Ele disse que uma solicitação aos papéis ao governo norte-americano não cabe ao Ministério da Segurança Pública, mas acredita que “alguma medida deve ser tomada”.

Leia mais:

“O prestígio das Forças Armadas eu acredito que permanece nos mesmos níveis em que elas se encontram até aqui por uma razão muito simples. As Forças Armadas brasileiras são um ativo democrático que o país hoje tem. Isso evidentemente que não é tocado por uma reportagem”, declarou Jungmann.

O general Santos Cruz corroborou a fala do ministro de que o conteúdo das supostas autorizações a execuções a opositores dos militares “não arranha em nada o prestígio” das Forças Armadas. Ele ainda indagou quais seriam os interesses políticos por trás da divulgação dos documentos, especialmente em um ano eleitoral como 2018.

“Até mesmo porque tem de ler com bastante profundidade esse documento e não ficar só na manchete, né? Esse ano é um ano eleitoral, uma eleição que vem com pesquisas...foram publicadas várias notícias de que um número maior de militares está participando nessa próxima eleição. Então tudo isso aí. Tem que ver também interesses políticos nesse tipo de divulgação”, falou. “Tem que ver o contexto político em que isso aí está colocado.”

Questionado pelo UOL se considera a divulgação do documento uma retaliação aos militares, o general negou.

Até o momento, o presidente Michel Temer (MDB) manteve o silêncio sobre o assunto. Procurada pelo UOL, a Presidência da República também não retornou contato.

Nesta sexta, Jungmann e Santos Cruz convocaram coletiva de imprensa para lançar a Operação Tiradentes II, força-tarefa de órgãos de segurança militares estaduais com duração de 24 horas. Além do combate à violência, o governo informou que o objetivo da ação é “mostrar à sociedade o impacto de 24 horas do trabalho das corporações militares no país”.

O ato simbólico para o início da operação aconteceu no gramado da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em que reuniram dezenas de policiais e bombeiros militares junto aos respectivos veículos, inclusive com helicóptero e embarcação marítima.

Autorização para executar opositores

O memorando da CIA foi revelado nesta quinta (10) pelo pesquisador da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Matias Spektor. De acordo com o estudioso, documento de 11 de abril de 1974, elaborado pelo então diretor da CIA, William Egan Colby, e endereçado ao secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, revelou que Geisel sabia e autorizou execução de opositores durante seu governo. 

Em nota divulgada também nesta quinta (11), o Exército disse que os documentos relativos à atuação dos órgãos citados no memorando não existem mais. Assim, a corporação não poderia confirmar a veracidade dos fatos descritos pela CIA.

“O Centro de Comunicação Social do Exército informa que os documentos sigilosos, relativos ao período em questão e que eventualmente pudessem comprovar a veracidade dos fatos narrados, foram destruídos, de acordo com as normas existentes à época — Regulamento da Salvaguarda de Assuntos Sigilosos (RSAS)”, informou a nota do Exército.