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Inspeção na Papuda localiza caderno em que Dirceu teria pedido autorização de visitas a Estevão

4.mai.2017 - O ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula) cumpre pena na Papuda, em Brasília - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
4.mai.2017 - O ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula) cumpre pena na Papuda, em Brasília Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

18/06/2018 13h31

Uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal realizada neste domingo (17) no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, localizou um caderno do ex-ministro José Dirceu (PT) com anotações que indicam que o ex-senador cassado Luiz Estevão (DF), preso na mesma cela do petista, seria uma espécie de "mandachuva" da unidade prisional. A referência foi feita pela polícia sobre o fato de, em um manuscrito nesse caderno, Dirceu ter pedido autorização a Estevão para visitas fora do horário.

A mesma ação, autorizada em mandados de busca e apreensão concedidos pela Justiça no curso de quatro meses de investigação, encontrou também chocolates importados, cereais, anotações e cinco pendrives com Estevão. Os mandados foram cumpridos durante a o jogo Brasil x Suíça,  pela Copa da Rússia, ontem, a partir das 15h. 

O ex-senador cassado Luiz Estevão - Sergio Lima/Folhapress - Sergio Lima/Folhapress
O ex-senador cassado Luiz Estevão cumpre pena na Papuda
Imagem: Sergio Lima/Folhapress

A operação foi realizada pela Coordenação de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Polícia Civil do DF e pela Promotoria de Execução Penal do Ministério Público do DF após denúncia de presos de que Estevão e o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB-BA), detento na unidade, mas em outra cela e ala, estariam tendo regalias dentro da prisão.

Os itens alimentícios, os pendrives e os documentos apreendidos ontem serão analisados ao longo da semana pela Polícia Civil a fim de se averiguar, perante a Vara de Execuções Penais, se havia autorização para estarem ali. Ano passado, outra inspeção havia identificado itens proibidos nas dependências usadas pelo ex-senador cassado. 

Em entrevista coletiva concedida pela manhã, o delegado da Difac (Divisão de Facções Criminosas), Thiago Boeing, afirmou que o fato de haver apenas dois presos na cela de Estevão --além dele, também Dirceu --chamou a atenção dos policiais. A média de detentos por celas na mesma ala, explicou, é de sete pessoas. Essa cela, aliás, disse o policial, já é “um pouco maior” que as demais.

Outra situação salientada pelo policial foi a localização de um caderno, com Dirceu, com manuscritos sobre autorização de visitas supostamente pedida por ele a Estevão.

“Chamou atenção que o caderno do José Dirceu tinha um manuscrito em que ele disse que teve de pedir autorização para o Luiz Estevão para ter acesso com visitante”, afirmou o delegado. Segundo Boeing, era uma anotação do tipo “pedi para Luiz Estevão conseguir a visita de um menor fora do horário [oficial de visitas]”, complementou.

Além dos artigos alimentícios, dos pendrives e de documentos apreendidos com Estevão, o delegado declarou ter sido encontrada com Estevão também uma tesoura – objeto proibido em todo o sistema prisional por questões de segurança.

A investigação vai apurar se houve algum crime por parte de funcionários ou dos presos, se confirmado algum esquema irregular de regalias. De todo modo, assinalou o delegado, o episódio reforça a suspeita de que Estevão seja uma espécie de “chefe” informal entre os presos.

“A partir do ano passado, surgiram indícios de várias regalias [a Estevão] – há a suspeita de que ele seria o mandachuva, o dono da cadeia”, observou. “Agora, a suspeita foi reforçada.”

A inspeção apreendeu também quatro pilhas de documentos e dezenas de pastas que, de acordo com a Polícia Civil, pertencem a Estevão. O material estava na biblioteca localizada na mesma ala em que o ex-senador cassado está acondicionado.

“A biblioteca mais parecia um escritório dele [Estevão] que uma área comum dos demais presos”, concluiu o delegado.

A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Dirceu e Estevão.

SSP abre investigação

Por meio de nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal) informou que a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) “abrirá sindicância para apurar as circunstâncias da entrada de objetos não permitidos dentro do Centro de Detenção Provisória, a fim de saber se houve envolvimento de servidores, visitantes e/ou advogados.”

A nota diz ainda que a Sesipe também vai instaurar “inquérito disciplinar para investigar falhas cometidas por internos.”