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Após 3 adiamentos, Lula é interrogado em processo que pode render 2ª condenação

Ex-presidente Lula prestou depoimento como testemunha de Sérgio Cabral (MDB) - Reprodução/5.jun.2018
Ex-presidente Lula prestou depoimento como testemunha de Sérgio Cabral (MDB) Imagem: Reprodução/5.jun.2018

Do UOL, em Brasília

20/06/2018 12h00Atualizada em 20/06/2018 18h43

Preso há mais de dois meses em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá ser interrogado na manhã desta quinta-feira (21) em um processo em que é réu na Operação Zelotes, pelos supostos crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e tráfico de influência nas negociações que levaram à aquisição de 36 aeronaves suecas por US$ 5,4 bilhões, em 2014. A ação penal é julgada pela Justiça Federal do Distrito Federal. O caso pode render a segunda condenação ao petista.

ATUALIZAÇÃO: Juiz desmarca depoimento de Lula na Zelotes previsto para esta quinta 

O petista será ouvido por videoconferência pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, que fica em Brasília. O interrogatório está marcado para as 9h. Lula estará na Superintendência da Polícia Federal na capital paranaense, a pedido de sua defesa. Esta será a segunda vez que Lula vai aparecer em público desde sua prisão, no dia 7 de abril.

Na decisão sobre a data do interrogatório, adiado três vezes, Vallisney afirmou que, como Lula cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão em Curitiba --por conta da condenação em segunda instância no caso do tríplex, da Operação Lava Jato, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro--, a "medida mais adequada" seria a realização do interrogatório via videoconferência.

Para o depoimento como testemunha do ex-governador Sérgio Cabral, que está preso no Rio, equipamentos da Justiça Federal do Paraná foram levados até o prédio da PF para viabilizar a videoconferência no último dia 5. Caso Lula se deslocasse até o prédio da Justiça Federal, como era previsto inicialmente, seria necessário mobilizar agentes policiais e organizar um esquema específico de segurança.

A defesa de Lula afirma que não há provas dos crimes imputados ao ex-presidente, e que ele tem direito a recorrer da condenação no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e no STF (Supremo Tribunal Federal).

As penas previstas para os crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa são, respectivamente, de três a dez anos e de três a oito anos de prisão, além de pagamento de multa. Já tráfico de influência pode render de dois a cinco anos de reclusão e multa.

Também na quinta-feira, serão interrogados outros dois réus: o casal Mauro Machado e Cristina Mautoni, donos do escritório Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia Ltda (M&M). O interrogatório também será realizado por videoconferência, em São Paulo.

Já no dia 29 de junho será a vez de Luis Cláudio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente e também réu no processo, ser interrogado por videoconferência a partir de São Bernardo do Campo (SP).

Entenda o caso

Em dezembro de 2016, a Justiça Federal de Brasília aceitou denúncia do MPF (Ministério Público Federal) acusando Lula de interferir na compra de 36 caças do modelo Gripen, da sueca Saab, pelo governo brasileiro e na prorrogação de incentivos fiscais destinados a montadoras de veículos por meio da MP (Medida Provisória) 627.

Caças suecos Gripen Saab - Reprodução/FAB - Reprodução/FAB
Caças do modelo Gripen, da empresa sueca Saab, foram comprados pelo governo brasileiro
Imagem: Reprodução/FAB
Os casos ocorreram entre 2013 e 2015, quando Lula já não era presidente --à época, a presidente era a também petista Dilma Rousseff. Em depoimento no ano passado, ela negou que Lula tenha cometido tráfico de influência no episódio.

O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, e os principais executivos da Saab, compareceram ao Tribunal Distrital de Estocolmo para depor a pedido da defesa de Lula. O premiê disse não ter conhecimento "sobre qualquer tipo de irregularidade que possa supostamente ter ocorrido no processo".

Segundo o MPF, na condição de ex-presidente, Lula integrou um esquema que vendia a promessa de que ele poderia atuar junto ao governo para beneficiar as empresas MMC (vendedora e fabricante de carros da Mitsubishi); Caoa (vendedora e fabricante de carros da Hyundai); e Saab.

As companhias eram clientes do escritório Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia Ltda (M&M), empresa de lobby do casal Mauro Marcondes e Cristina Mautoni.

Em troca, de acordo com os procuradores, Mauro e Cristina repassaram a Luis Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente, pouco mais de R$ 2,5 milhões.

Quando a Justiça Federal aceitou a denúncia do MPF, a defesa de Lula e Luís Cláudio divulgou nota chamando a decisão de "mais uma acusação frívola contra o ex-presidente e seus familiares".

O texto dizia ainda que a denúncia "faz parte de uma tática de tentar desconstruir a imagem de Lula e de prejudicar a sua atuação política".

Outros processos

Além deste processo, Lula é réu em outras cinco ações penais, sendo três no Distrito Federal e duas no Paraná -- estas, no âmbito da Operação Lava Jato.

Esse é o quarto interrogatório a que Lula será submetido. Esse procedimento é reservado aos réus de um processo, que, via de regra, são os últimos ouvidos na instrução processual. Testemunhas, por sua vez, prestam depoimentos.

As outras três vezes em que ele foi interrogado foram em março, maio e setembro do ano passado. A primeira ocorreu por conta da ação em que o ex-presidente foi denunciado por possível obstrução à Lava Jato, em curso na JF-DF.

Este processo já está pronto para a apresentação da sentença, aguardando apenas a decisão de Ricardo Augusto Soares Leite, juiz substituto da 10ª Vara Federal em Brasília. Neste caso, o MPF (Ministério Público Federal) pediu a absolvição de Lula e do banqueiro André Esteves na ação. 

Já o segundo interrogatório ocorreu na ação do tríplex, em que Lula foi condenado pelo juiz Sergio Moro, de Curitiba. No início desse ano, o ex-presidente teve a condenação confirmada pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), e a pena aumentada de nove anos meio para 12 anos e um mês de prisão.

A terceira vez em que Lula esteve diante de um juiz como réu foi em setembro do ano passado no processo envolvendo corrupção entre a Odebrecht e a Petrobras, que teria rendido vantagens indevidas ao petista na forma de um terreno para seu instituto e do apartamento vizinho ao em que ele vive. Lula foi ouvido por cerca de duas horas por Moro, a quem havia visto pela primeira vez desde a condenação no processo do tríplex. A ação penal ainda aguarda alguns trâmites antes de ser aberto o prazo para as alegações finais, que será seguido pela segunda sentença de Moro.

Lula é pré-candidato do PT à Presidência da República, mas deve ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa e considerado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) caso sua candidatura seja registrada, já que foi condenado em segunda instância. Essa é uma das condições de inelegibilidade da legislação eleitoral.

Desta forma, o interrogatório previsto para esta quinta e uma eventual condenação em primeira instância no processo no Distrito Federal não deverão inteferir nos planos eleitorais do petista, e nem têm relação com as ações em julgamento no Paraná.

A 2ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) marcou para a próxima terça-feira (26) o julgamento de recurso de Lula contra sua condenação na Lava Jato. No recurso, a defesa do ex-presidente pede que o Supremo suspenda os efeitos da condenação. Se o recurso for aceito, ele poderá ser libertado da prisão. 

Uma decisão favorável também pode abrir uma brecha para que os advogados do petista peçam o registro da candidatura de Lula sem que ele seja enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

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