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Após encontro na PF, Mujica diz que Lula está mais magro, mas com "bom ânimo"

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

21/06/2018 17h04Atualizada em 21/06/2018 18h13

O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica disse nesta quinta-feira (21) que encontrou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso desde o dia 7 de abril, com “muito bom ânimo” e “alguns quilos a menos”.

Mujica visitou Lula na sede da Superintendência da PF (Polícia Federal) em Curitiba ao lado da presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman (PR). Segundo o ex-governante uruguaio, Lula está lendo muitos livros e está preocupado com o destino do Brasil e da América Latina.

“[Foi uma visita] muito cordial. Fazia tempo que não o via”, disse Mujica, que afirmou ter conversado com Lula sobre a “preocupação com o que se passa na América”.

“Eu pertenço a um pequeno país, e quando Lula foi presidente deste país gigantesco, teve uma atitude de muita consideração aos países pequenos da América Latina”, afirmou.

Questionado sobre o que pensa do atual cenário político no Brasil, Mujica afirmou: "Não penso, vejo. Me faço perguntas e tenho incerteza. O que mais me preocupa é que o povo brasileiro pode direcionar seu futuro, enfrentar suas contradições, não perder sua alegria e não cair em uma confrontação penosa".

O ex-presidente uruguaio ainda disse que seu desejo de que o Brasil supere seus problemas não é "gratuito", já que o Uruguai se encontra entre os "gigantes" Brasil e Argentina --e que, quando um deles se resfria, os uruguaios se gripam.

"Se o Brasil está bem, nós também estamos bem. Mas se o Brasil está mal, nós também estamos mal", disse. "Minha pátria se chama América Latina". 

Mujica, que hoje é senador, ocupou o cargo de presidente do Uruguai de 2010 a 2015. Nas décadas de 1960 e 70, foi guerrilheiro do movimento tupamaro, que lutou contra a ditadura militar no Uruguai. Nesse período, ele foi preso pelo menos quatro vezes e passou, no total, quatorze anos de sua vida atrás das grades.

Pouco antes de Mujica entrar na PF para ver Lula, o PT divulgou um vídeo em que o ex-governante uruguaio diz que podem prender o corpo do petista, mas não seu coração e sua cabeça. O discurso é semelhante ao que foi dito pelo próprio Lula antes de ser preso, quando o petista afirmou que não poderiam aprisionar suas ideias.

“Existe um slogan por aí que diz ‘Lula livre’. Na verdade, sua cabeça nunca pode ser presa. Podem prender seu corpo, mas não seu coração, sua cabeça”, diz Mujica na mensagem gravada.

A última vez em que Mujica e Lula se encontraram foi durante a caravana do petista pela região sul do país, no mês de março. Os ex-presidentes participaram de um ato político em Santana do Livramento (RS), que faz fronteira com a cidade de Rivera, no Uruguai.

Na ocasião, em seu discurso, Mujica disse que a militância não teria o petista “eternamente”. A declaração foi dada dentro de uma análise crítica da atuação política da esquerda, na qual Mujica defendeu que é necessário fortalecer os partidos e não depender de uma só liderança.

"Mas digo ao PT e à força de esquerda: as mudanças não se podem respaldar em uma única figura. Porque, amanhã, não está a figura. E a luta continua", disse Mujica. "Sorte que vocês têm Lula. Mas não o terão eternamente, e a luta dura. Tem que gerar gerações de militantes e de lutadores sociais, e construir, coletivamente, ou aprender a perdoar-se quando cometem erro."

Gleisi e Lula trataram sobre campanha

Após encontrar-se com Lula na PF, a senadora Gleisi Hoffmann disse, em entrevista a jornalistas, que sua visita foi para tratar sobre atividades e materiais para a pré-campanha do petista à Presidência da República.

Segundo Gleisi, Lula “pediu e deu” orientações sobre a campanha. A senadora afirmou ainda que ele pediu atenção especial para as propostas da área econômica. Segundo ela, o ex-presidente irá escrever toda semana uma carta ao povo brasileiro.

“Ele vai escrever toda semana ao Brasil sobre temas que ele acha importante para passar sua mensagem, sua proposta”, disse.

Condenado em segunda instância, Lula se encontra, em tese, inelegível pela Lei da Ficha Limpa. O PT, no entanto, insiste que Lula será o candidato do partido para a eleição presidencial deste ano.