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Em depoimento, Duque reitera propina a Lula; Vaccari permanece calado

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

03/08/2018 20h41Atualizada em 03/08/2018 23h30

Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro nesta sexta-feira (3), o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, reafirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu propina dentro de um esquema de corrupção envolvendo a empresa Sete Brasil, criada com o objetivo de fornecer sondas para a Petrobras.

De acordo com Duque, dois terços da propina arrecadada eram destinados ao PT. Dentro dessa parcela, segundo ele, havia ainda outra divisão: “seriam divididos entre Lula, [o ex-ministro] José Dirceu e o partido”. 

Duque afirmou ainda que quem determinou que essa parcela da vantagem indevida seria repassada ao PT foi o ex-ministro Antônio Palocci. “Quem está cuidando desse assunto é o doutor Antônio”, teria dito o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, a Duque.

“Lula quem cuidaria [da propina] seria o Palocci. Zé Dirceu receberia através da Engevix, o agente seria o Milton Pascowich, e o partido seria por conta do Vaccari”, relatou Duque.

Em nota, a defesa de Lula afirmou que o ex-presidente teve "todas as suas contas vasculhadas" e que "jamais recebeu valores ilegais ou teve em Palocci seu representante para receber qualquer valor". "Não vamos comentar declarações sem nenhuma prova de presos que buscam fechar acordos para obter benefícios judiciais", diz o texto.

Condenado em pelo menos seis processos, Duque é apontado como operador do PT em esquemas de corrupção investigados na Operação Lava Jato. O ex-diretor da Petrobras já fez negociações para uma possível delação premiada, mas ainda não possui um acordo com a Justiça. Ele está preso em Curitiba.

Nesta ação penal, Vaccari, Duque, o lobista Guilherme Esteves de Jesus, o ex-presidente da Sete Brasil, João Carlos de Medeiros Ferras, e os ex-gerentes da Petrobras Pedro Barusco e Eduardo Musa são réus pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Nesta sexta, Moro interrogou quatro dos réus, entre eles Vaccari, que permaneceu em silêncio por orientação de seus advogados.

A denúncia do MPF (Ministério Público Federal) aponta que a Sete Brasil reproduzia o esquema de corrupção da Petrobras. De acordo com os procuradores da Lava Jato, a propina seria cobrada em 0,9% sobre o valor dos contratos e então dividida entre os acusados. Os pagamentos seriam feitos por meio de off-shores.

O 1/3 restante da propina após o repasse feito ao PT, segundo Duque, era destinado à “Casa”, ou seja, aos executivos da Sete Brasil e da Petrobras envolvidos no esquema –entre eles, Barusco, Ferraz, Musa e o próprio Duque.

“Quando se definiu um terço para a casa e dois terços para o partido, o Barusco me procurou e disse o seguinte: vamos fazer um terço. Vamos dividir esse um terço entre 'casa 1' e 'casa 2'. Você fica com 'casa 1', e nós com 'casa 2'. 'Casa 2' seria o Barusco, Ferraz e Musa. E eu vou dentro desse 'casa 1' que é você, você recebe um percentual por estar cedendo a conta”, disse.

Questionado por Moro sobre o motivo dos repasses ao PT, Duque afirmou que a orientação veio do próprio partido. “Por que o Barusco dividiu? O Barusco, justamente, ele questionou que ficaria com a menor parte, [dentro de] um terço, e o partido dois terços, já que ele tinha feito tudo. E o que foi dito foi o seguinte: você só está aí porque o partido te apoia. Se você não concordar, você vai ser tirado”.

Duque afirmou ainda que o pagamento de propinas era “institucionalizado” na Petrobras e que o mesmo aconteceu na Sete Brasil. Segundo ele, as vantagens indevidas eram pagas “no sentido de continuar com a política de bom relacionamento”.