Moro fará "combate à corrupção de modo sustentável", dizem delegados da PF
A ADPF (Associação dos Delegados da Polícia Federal) vai pedir uma reunião com o futuro ministro da Justiça, o juiz Sergio Moro, para discutir o comando da Polícia Federal e a política de enfrentamento à corrupção e ao crime organizado. A ideia é marcar o encontro a partir da semana que vem. Segundo o presidente da entidade, o delegado Edvandir Paiva, o objetivo é conversar sobre novas leis e práticas para combater a macrocriminalidade.
“Será uma conversa importante para descobrir como será a Polícia Federal no governo [do presidente eleito Jair] Bolsonaro [PSL]”, contou ele ao UOL na manhã desta quinta-feira (1º).
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Juiz mais famoso da Operação Lava Jato, Moro aceitou o convite de Bolsonaro para comandar um superministério que unirá as pastas da Justiça e da Segurança Pública, além de coordenar a CGU (Controladoria-Geral da União) e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal.
Hoje, a Polícia Federal é comandada por Rogério Galloro, que assumiu este ano após uma crise na instituição que derrubou Fernando Segovia. Paiva afirmou ao UOL que a ADPF não discutiu internamente se vai defender a permanência de Galloro no cargo. A entidade enviou uma lista tríplice com o nome da delegada da Lava Jato Érika Marena ao presidente Michel Temer (MDB) em 2017, mas o nome de Galloro não constava no grupo. No entanto, ele preferiu nomear Segovia e, depois, Galloro.
A gente vai começar a fazer os contatos, para a gente bater um papo, para saber quais são as ideias que ele tem sobre a Polícia Federal", contou Paiva. "Que tipo de nova legislação a gente pode encaminhar e ter o apoio do governo federal para proteger a Polícia Federal dessas intempéries que a gente passou tantas vezes agora nos últimos tempos."
O delegado afirma que o Executivo precisa de reformas e novas leis no combate à macrocriminalidade. “Talvez ele tenha autoridade para conduzir essa mudança. Será um ministro voltado para fazer mudanças e reformas necessárias para preparar o país para os próximos anos, para fazer combate à corrupção de maneira sustentável.”
O presidente da associação de delegados entende que Moro pode deixar um legado importante quando deixar o Ministério da Justiça. “O Moro tem que tentar deixar, quando deixar o ministério, um legado de proteção e fortalecimento das instituições para que elas possam fazer o trabalho independentemente de quem esteja lá.”
Corrupção no governo
Segundo ele, as instituições “precisam ficar fortes, porque corrupção vai haver sempre”. A reportagem questionou se deve haver corrupção no governo Bolsonaro. “Qualquer local onde houver humanos vai haver corrupção, até porque há corrupção nos países mais desenvolvidos do mundo”, respondeu Paiva.
“A diferença é se as instituições são fortes e funcionam regularmente. Que fique bem claro que estou falando de corrupção em qualquer local, não estou dizendo que haverá corrupção no governo Bolsonaro. Onde tem dinheiro e poder, a possibilidade haver corrupção é grande. Precisa ter mecanismos de combate, de prevenção e repressão.”
Paiva afirmou que acredita que, com Moro no governo, há chances de o presidente eleito Jair Bolsonaro apoiar as 70 novas medidas contra corrupção, feitas pela campanha “Unidos Contra Corrupção”, e apoiadas por procuradores da Operação Lava Jato, como Deltan Dallagnol. Como mostrou o UOL, a campanha do candidato do PSL não se comprometeu com as medidas, ao contrário do que fizeram Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSOL).
Segundo Paiva, “parece” que Moro “é um defensor de várias das medidas”. “Não acredito em pacotes fechados, existem medidas boas e não tão boas. Acredito que, pela aceitação do cargo, ele entende que pode contribuir para modernização da legislação, procedimentos e instituição. É isso que esperamos.”
Moro viajou de Curitiba para o Rio, ao encontro do presidente eleito, segurando livro com as 70 medidas anticorrupção da Campanha Unidos contra a Corrupção.
Supremo Tribunal Federal
A ADPF tinha a expectativa dos delegados que Moro sequer fosse convidado para o cargo. “A gente acreditava que, no futuro, ele pudesse ser convidado para ser ministro do Supremo”, disse. Ainda assim, o delegado entende que, do ponto de vista técnico, “não poderia haver nome melhor” para o ministério.
Moro vai comandar não só o combate ao crime de colarinho branco, como também às grandes quadrilhas de narcotráfico, contrabando, facções e administração de presídios frequentemente alvos de rebeliões. “Nos locais em que ele não tenha tanto conhecimento técnico, ele vai saber escolher pessoas que tenham esse conhecimento. Ter sob o Ministério da Justiça todos os órgãos de controle do Estado talvez seja uma excelente ideia. Ele vai conseguir fazer uma coordenação melhor.”
“Narrativa exagerada”
Para Paiva, a Lava Jato não perderá eficiência sem Moro. O delegado entende que há outros juízes capacitados, muitos já atuando, e que a operação é feita por outros órgãos, como a polícia, o Ministério Público e os tribunais. “O Judiciário tem outros quadros.”
Porém, o delegado acredita que vão aumentar as críticas à parcialidade de Moro em relação ao ex-presidente e presidiário Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Não vai mudar, mas talvez haja a possibilidade de essa narrativa ficar um pouco mais violenta, mais exagerada. Mas, entre prós e contras, o Brasil ganha.”
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