Moro aceita convite e será ministro da Justiça de Bolsonaro
O juiz federal Sergio Moro, que comanda as ações penais da Operação Lava Jato em Curitiba, aceitou o convite e será o futuro ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PSL). O juiz se reuniu na manhã desta quinta-feira (1º) com presidente eleito e, depois de deixar a residência, divulgou nota em que afirma que se sente honrado com o convite e que pretende, como ministro, "consolidar os avanços contra o crime e a corrupção".
Batizado de "superministério", a pasta deve somar as estruturas da Justiça, Segurança Pública (inclusive a Polícia Federal), Transparência e Controladoria-Geral da União, além do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), este último hoje ligado ao ministério da Fazenda.
Moro informou que deve "desde logo" se afastar de novas audiências da Lava Jato, para evitar o que chamou de "controvérsias desnecessárias". No ano passado, Moro condenou em primeira instância o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com a confirmação em segunda instância, o adversário político de Bolsonaro teve sua candidatura à Presidência barrada pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa. A defesa de Lula e PT criticaram em diversos momentos a celeridade da decisão.
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A reunião entre os dois e o economista Paulo Guedes durou cerca de uma hora e meia. "Após reunião pessoal na qual foram discutidas políticas para a pasta, aceitei o honrado convite. Fiz com certo pesar pois terei que abandonar 22 anos de magistratura", escreveu Moro. O comunicado é assinado de Curitiba, apesar de Moro ainda estar no Rio de Janeiro.
No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito a Constituição, a lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão. Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior
Sergio Moro, em nota à imprensa
Em 2016, em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", Moro afirmou que jamais entraria na política. "Não, jamais. Jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política", afirmou.
Almoço em clube de golfe
Depois do encontro e antes de voltar para Curitiba, Moro almoçou rapidamente em clube de golfe na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro. O magistrado estava acompanhado do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.
Logo após o juiz confirmar que aceitou o convite, Bolsonaro usou sua conta no Twitter para dizer que “respeito à Constituição e às leis será o nosso norte!”.
Leia a íntegra da nota de Sergio Moro:
"Fui convidado pelo Sr. Presidente eleito para ser nomeado ministro da Justiça e da Segurança Pública na próxima gestão. Após reunião pessoal na qual foram discutidas políticas para a pasta, aceitei o honrado convite. Fiz com certo pesar pois terei que abandonar 22 anos de magistratura. No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito a Constituição, a lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão.
Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior. A Operação Lava Jato seguira em Curitiba com os valorosos juízes locais. De todo modo, para evitar controvérsias desnecessárias, devo desde logo afastar-me de novas audiências. Na próxima semana, concederei entrevista coletiva com maiores detalhes. Curitiba, 01 de novembro de 2018. Sergio Fernando Moro"
A negociação pela pasta
O futuro ministro chegou nesta quinta e saiu do condomínio onde Bolsonaro mora, na Barra da Tijuca, na zona oeste, em um carro da Polícia Federal e sem falar com a imprensa. O encontro durou cerca de 1h30. Com segurança reforçada, ele evitou contato com moradores e curiosos que aguardavam sua passagem pelo condomínio.
Guedes participou da primeira meia hora de conversa, mas deixou o presidente eleito a sós com Moro nos 40 minutos seguintes.
Na quarta-feira (30), Bolsonaro havia afirmado, pelo Twitter, que todos os ministros seriam anunciados por ele próprio, nas redes sociais. Antes de Moro, foram confirmados quatro nomes: Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para a chefia da Casa Civil; general Augusto Heleno (PRP-DF) para a pasta da Defesa; Paulo Guedes para a Economia; e o astronauta Marcos Pontes para a Ciência e Tecnologia.
O juiz foi citado por Bolsonaro em entrevistas à imprensa como o nome ideal para assumir a pasta no dia seguinte à eleição. O vice do presidente eleito, general Hamilton Mourão (PRTB), porém, disse que a primeira abordagem aconteceu ainda durante a campanha eleitoral.
Interesse em vaga no STF
Na cúpula da campanha, a expectativa era alta de que Moro aceitasse o “superministério”. Segundo uma fonte próxima a Bolsonaro, o plano é que ele assuma uma pasta no governo para depois ser indicado pelo presidente para a próxima vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).
O decano da Corte, ministro Celso de Mello, terá que deixar o posto compulsoriamente em 2020, mas outro ministro pode se aposentar antes, se assim quiser. Circula no entorno de Bolsonaro, inclusive, a informação de que o compromisso com o juiz federal se estende ao vice, general Hamilton Mourão (PRTB), que assumiria o Palácio do Planalto em caso de impedimento ou morte do presidente.
Segundo a colunista do jornal "Folha de S.Paulo", assessores de Bolsonaro afirmaram que Moro pode ser candidato a presidente em 2022, já que Bolsonaro tem afirmado que não se candidatará à reeleição. O magistrado concederá entrevista a jornalistas na próxima semana, para dar maiores detalhes.
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