Deputados, secretário e ex-presidente do Detran; quem são os alvos da operação no Rio
A Operação Furna da Onça da Polícia Federal e do MPF (Ministério Público Federal) cumpriu nesta quinta-feira (8) mandados de prisão contra dez deputados estaduais do Rio e outras 12 pessoas. A ação é uma nova fase da Operação Cadeia Velha, desdobramento da Lava Jato no estado.
O MPF (Ministério Público Federal) apontou que houve o pagamento de ao menos R$ 54,5 milhões em propinas a deputados da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) ao longo do segundo mandato de Sérgio Cabral (MDB) no governo fluminense (2011-2014).
Segundo a Lava Jato, "a organização criminosa chefiada por Cabral" pagava propina mensal ("mensalinho") a deputados estaduais em troca de apoio. De acordo com a procuradora Renata Ribeiro Baptista, os mensalinhos variavam de R$ 20 mil e R$ 900 mil.
Veja seguir quem são os deputados estaduais presos, o secretário de Pezão envolvido que também foi preso e outros suspeitos:
André Corrêa (DEM) - deputado estadual reeleito
Sétimo mais votado na eleição para deputado estadual deste ano, Corrêa recebeu 66.881 votos. Ele foi reeleito para o sexto mandato. Antes, tentou ser prefeito do Rio de Janeiro em 2004. É oficial de Marinha da Reserva. Ele era candidato à presidência da Alerj.
Segundo as investigações, Corrêa recebia R$ 100 mil por mês no esquema. Ao chegar à PF, ele fez um rápido pronunciamento. "Quem não deve não teme. Sigo deputado e mantenho a minha candidatura à Presidência da Alerj. E sigo com a minha promessa de tirar o PSOL da Presidência da Comissão de Direitos Humanos. Estou tão confiante da minha inocência que não tenho nem advogado", disse.
Chiquinho da Mangueira (PSC) - deputado estadual reeleito
Reeleito para o quinto mandato como deputado estadual com 22.141 votos. Chiquinho da Mangueira é corregedor parlamentar da Alerj e presidente da escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Como corregedor, seu trabalho é fiscalizar os colegas. Segundo a procuradora Renata Baptista, ele recebeu R$ 20 mil por mês, mais R$ 1 milhão para financiar o desfile da Mangueira no Carnaval e outros valores recebidos para campanha eleitoral.
Por meio de sua assessoria, ele declarou que “todas as acusações imputadas a ele através da operação Furna da Onça, realizada pela Polícia Federal, que o levou a prisão temporária, são infundadas e totalmente inverídicas”.
Segundo o advogado Pablo Andrade, da equipe jurídica de Chiquinho da Mangueira, a medida foi "completamente desarrazoada e ficará demonstrado que não houve qualquer ato ilícito praticado pelo deputado".
Marcus Vinícius Vasconcelos Ferreira (PTB) - deputado estadual reeleito
Presidente regional do partido no Rio, Ferreira foi eleito para seu terceiro mandato com 30.454 votos. Em seu perfil da Alerj, o parlamentar diz que “tem o compromisso com todos os cidadãos fluminenses de lutar pelo melhor para o estado, através de um mandato aberto à população e de defesa da transparência da vida política”. Ele recebia R$ 50 mil por mês, segundo o MPF.
Procurada, a assessoria do parlamentar disse que a medida surpreendeu o acusado. "Recebeu a ordem de prisão temporária com muita indignação e estranheza, justo em um período de articulações políticas sobre a votação para a próxima composição da Presidência da Alerj – onde o deputado já havia se manifestado pelo voto a favor do deputado André Corrêa. No entanto, o parlamentar segue seu compromisso com a população de dar transparência a seu mandato, afirmando sua inocência e colaborando com todas as investigações, prestando todos os esclarecimentos à Polícia Federal, Ministério Público e Justiça", informou a assessoria.
Luiz Martins (PDT) - deputado estadual reeleito
Eleito para o terceiro mandato, Martins recebeu 38.449 votos. Economista, ele foi presidente da Comissão de Defesa do Consumidor na segunda metade da gestão Cabral e relator da da CPI das armas em 2016. É líder da bancada na Alerj. Segundo a investigação, o parlamentar recebia mensalmente o valor de R$ 80 mil, além de mais R$ 1,2 milhão para a campanha eleitoral em 2014. Martins ainda não se manifestou sobre o caso.
Marcos Abrahão (Avante) - deputado estadual reeleito
Líder da bancada, foi reeleito para o terceiro mandato como deputado estadual com 24.261 votos. Ele tentou por quatro vezes ser prefeito de Rio Bonito, mas não foi eleito. Antes de ser deputado, Abrahão era da Polícia Militar. Ele recebia o valor de R$ 80 mil por mês, além de R$ 1,5 milhão para a campanha eleitoral em 2014, segundo o MPF. Abrahão ainda não se manifestou sobre o caso.
Coronel Jairo (Solidariedade) - não conseguiu se reeleger
Eleito por quatro vezes deputado estadual, tentou a reeleição neste ano, mas não conseguiu, apesar dos 24.620 votos. Foi presidente da Comissão de Segurança Pública e vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa. Chegou a ser comentarista esportivo na televisão, segundo seu perfil na Alerj. Ele recebia o montante mensal de R$ 50 mil, além de ajuda financeira para campanha eleitoral, segundo o MPF. Ele ainda não se manifestou sobre o caso.
Marcelo Simão (PP) - não conseguiu se reeleger
Foi vereador em São João de Meriti e está sem seu primeiro mandato como deputado estadual, mas não conseguiu a reeleição. É presidente de Comissão de Transporte e recebeu 26.552 votos na eleição deste ano. Ele recebia o valor mensal de R$ 20 mil, segundo o MPF. Simão ainda não se manifestou sobre o caso.
Affonso Monnerat (MDB) - secretário de Pezão
Secretário de estado do governador Luiz Fernando Pezão desde 2012, Monnerat foi chefe de gabinete do governo do Rio de Janeiro em 2016 e prefeito da cidade de Bom Jardim.
Ele compõe a Comissão de Transição Governamental de Pezão para o governador eleito Wilson Witzel (PSC) e chegou a ser levado de forma coercitiva para depor na Operação O Quinto do Ouro em abril de 2017.
Em 2012, o MPF-RJ propôs ação de improbidade administrativa contra Monnerat, então subsecretário extraordinário para a reconstrução da região serrana, por irregularidades na contratação de empresas para reconstrução de pontes destruídas na tragédia de janeiro de 2011, quando mais de 900 pessoas morreram em decorrência das fortes chuvas.
Monnerat aparece na planilha apreendida na fase ostensiva da operação Cadeia Velha como detentor de cinco postos de trabalho, inclusive no Detran-RJ, e foi citado em diálogo travado entre Aloysio Neves, então conselheiro do TCE-RJ, e André Vinícius Gomes da Silva, no qual se discute a possibilidade de obter a indicação a cargos no posto do Detran-RJ, em Magé, segundo a PF. Ele ainda não se manifestou sobre o caso.
Vinícius Farah (MDB) - eleito deputado federal
Ex-presidente do Detran, Farah foi eleito deputado federal pelo MDB neste ano com 57.707 votos. Natural de Três Rios, foi vereador da cidade e depois prefeito por duas vezes. Conforme interceptação telefônica, foi indicado ao cargo pelo deputado estadual Picciani, com referendo do deputado estadual Paulo Melo e garantiu a manutenção do esquema ilícito de distribuição de cargos no âmbito do Detran-RJ, diz a PF.
A defesa do acusado esclareceu que ele está em Brasília e, por isso, apresentou-se no período da tarde. "O sr. Vinicius Farah confia na Justiça e afirma que a situação será devidamente elucidada. Ele já se apresentou às autoridades em Brasília para os devidos esclarecimentos. Ele estava na cidade para agenda de trabalho", afirmou a defesa, através de nota oficial.
Leonardo Silva Jacob - presidente do Detran
Atual presidente do Detran, Jacob (na foto está à esquerda) foi secretário de Governo e Planejamento em Três Rios durante a gestão de Vinícius Farah, seu antecessor na presidência do Detran. Jacob ainda não se manifestou sobre o caso. Jacob foi chefe de gabinete de Farah enquanto este exercia a presidência do Detran-RJ, substituindo-o em função do afastamento para concorrer ao cargo de deputado federal.
Segundo a investigação, o acusado assumiu o comando do Detran e contratou sem licitação, de forma ilícita, a empresa Probid, sucessora dos serviços de terceirização de mão de obra prestados pelo Grupo Facility/Prol na autarquia. Ele também teria participado da operação que ajudou a manter o esquema de corrupção aos parlamentares e favorecimento de cargos no Detran. Procurada, a sua defesa não se manifestou sobre a acusação.
Deputados estaduais que já estavam presos
Jorge Picciani (MDB)
Presidente afastado da Alerj, Picciani foi preso em novembro do ano passado acusado de participar de esquemas de propina ligados a empresas de ônibus. Em 28 de março, passou a cumprir prisão domiciliar por motivos de saúde após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Segundo delação, Picciani teria recebido do ex-governador Sérgio Cabral (MDB-RJ) uma mesada de R$ 400 mil entre 2011 e 2014, período no qual ele ficou sem mandato eletivo após perder a disputa para o Senado, em 2014.
Picciani foi presidente do Parlamento em 2003, logo após Cabral se eleger senador. Candidato nas eleições de 2014 a deputado estadual, Picciani recebeu 76.590 votos. Ele recebia R$ 400 mil por mês, segundo o MPF.
Na época da prisão, Picciani divulgou nota e afirmou que as acusações contra ele e sua família são falsas.
Edson Albertassi (MDB)
Eleito vereador em Volta Redonda em 1996, foi eleito cinco vezes deputado estadual. Foi vice-presidente da Alerj e presidente da Comissão de Constituição e Justiça. Albertassi foi preso pela Operação Cadeia Velha, junto de Picciani (MDB) e do deputado estadual Paulo Melo (MDB). Eles foram acusados de receber propina em esquemas de corrupção na Alerj. Ele recebia R$ 80 mil por mês, além de R$ 1 milhão para a campanha eleitoral em 2014.
Procurada, a defesa do advogado contestou as alegações da procuradoria. "O deputado nunca participou de qualquer ato criminoso durante seus mandatos e reafirma sua inocência", disse.
Paulo Melo (MDB)
Preso com Picciani e Albertassi, Melo presidiu a Comissão de Constituição e Justiça e já exerceu os cargos de líder do governo e presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.
Presidiu a CPI do extermínio de menores no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense. Ele presidiu ainda, em 2003, a CPI do Propinoduto, que investigou um esquema de corrupção na Secretaria de Fazenda. Ele recebia R$ 900 mil por mês, segundo o MPF.
Na ocasião, Melo disse estar à disposição da Justiça e pronto para contribuir com as investigações. "Não tenho nada a esconder. Minha vida política sempre foi muito clara, todas as contribuições recebidas foram legais e declaradas na justiça eleitoral", afirmou, em nota.
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