Lula diz em interrogatório sobre o sítio que sua prisão é um "troféu" da Lava Jato
Terminou por volta das 17h40 desta quarta-feira (14) o interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no processo da Operação Lava Jato sobre o sítio de Atibaia (SP). Lula foi ouvido pela juíza Gabriela Hardt na sede da Justiça Federal no Paraná, em Curitiba, por aproximadamente duas horas e meia.
Hardt substitui Sergio Moro, que entrou de férias desde que aceitou o convite para ser o ministro da Justiça do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
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Durante o depoimento, Lula negou qualquer relação com as obras no sítio de Atibaia e afirmou que sua prisão seria um "troféu" da Operação Lava Jato.
Eu era um troféu que a Lava Jato precisava entregar. Não sei por que que não gostam de mim, mas era um troféu que precisava entregar. Eu via pela imprensa vários jornalistas dizendo que 'se não entregar o Lula não vale, se o Lula não for preso, não vale'
Ex-presidente Lula, durante interrogatório
O ex-presidente não falou da eleição presidencial nem da entrada de Moro para o governo Bolsonaro ao longo do depoimento. A juíza Gabriela Hardt conduziu o depoimento de maneira a não deixar que outros assuntos além do processo fossem discutidos.
Em determinados momentos, porém, Lula fez críticas indiretas a Moro, dizendo que o juiz foi "obrigado" a condená-lo no processo do tríplex e o acusando de ser "amigo" do doleiro Albertou Yousseff, um dos delatores da operação. Nas duas situações, Hardt pediu que o ex-presidente respeitasse o magistrado e disse que não permitiria que Lula se referisse daquela maneira ao colega.
Os embates entre Lula e Hardt, por sinal, marcaram a oitiva desde o início. Em diversos momentos, a juíza interrompeu o réu - a quem chamou de "doutor" ou "senhor ex-presidente" - e foi dura nos questionamentos. Foi o primeiro encontro entre eles, já que os dois interrogatórios anteriores de Lula na Lava Jato foram conduzidos por Sergio Moro.
Na oitiva, Lula disse que estava "constrangido e que seu esforço agora "é tentar desmentir as mentiras contadas a meu respeito”.
Após o interrogatório, Lula deixou o prédio da JF às 17h55, em uma viatura policial, e retornou para a sede da Polícia Federal na capital paranaense, onde cumpre sua pena pela condenação no caso do tríplex, também da Lava Jato. Ele chegou à Superintendência às 18h e entrou pelo portão do fundo, onde havia um pequeno grupo de apoiadores. O transporte foi feito pela PF, com escolta. Militantes exaltaram Lula na saída dos carros. Já moradores da região gritaram "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão".
Militantes e parlamentares do PT aguardavam a saída do ex-presidente da Justiça Federal nas proximidades do prédio, na esperança de que o comboio de viaturas da PF, responsável pelo transporte de Lula, passasse em frente a eles. Os veículos, no entanto, fizeram outro caminho.
A senadora e presidente do PT Gleisi Hoffmann, que disse ter conversado com o advogado de defesa José Roberto Batochio após ele deixar a audiência, afirmou que o defensor disse que Lula foi “muito bem” em seu depoimento.
Primeira saída em sete meses
Esta foi a primeira vez em que Lula deixou a carceragem da PF desde que foi preso, em abril. O esquema de segurança para sua ida ao interrogatório contou com cerca de 250 policiais militares.
Políticos como Gleisi e o o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que disputou a Presidência da República pelo PT acompanharam a chegada de Lula para depor, assim como um grupo de aproximadamente 200 militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra).
Pela manhã, Haddad se encontrou com Lula na PF, onde cerca de 100 apoiadores do ex-presidente estavam reunidos, assim como parlamentares do PT. Segundo Haddad, Lula leu os depoimentos de testemunhas do processo e estava "muito tranquilo" para o depoimento.
A força-tarefa do MPF (Ministério Público Federal) na Operação Lava Jato acusa Lula de ter cometido os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo os procuradores, o ex-presidente teria favorecido as construtoras Odebrecht e OAS em quatro contratos no esquema de corrupção na Petrobras.
O MPF também afirma que Lula recebeu cerca de R$ 1 milhão em propina da Odebrecht, da OAS e de Bumlai na forma de obras no sítio de Atibaia, e que a vantagem indevida seria decorrente do esquema de corrupção na Petrobras.
A defesa do ex-presidente nega todas as acusações e diz que ele é alvo de perseguição política.
Processo entra na reta final
O ex-presidente foi o último dos 13 réus do processo a ser interrogado pela magistrada. Nesta quarta-feira, último dia de audiências, também foi ouvido o pecuarista José Carlos Bumlai.
Com o fim da etapa de interrogatórios dos réus, tanto as defesas quanto a acusação terão prazo para fazer seus últimos pedidos à Justiça dentro do processo na primeira instância. Na sequência, a juíza Gabriela Hardt vai abrir prazo para as alegações finais, última oportunidade que as partes terão para mostrar seus argumentos. Depois disso, a magistrada poderá proferir sua sentença.
Existe a possibilidade de que a juíza substituta já não esteja à frente do processo quando a sentença for apresentada. Isso porque Moro irá pedir exoneração do cargo para assumir o ministério apenas em janeiro. É a partir da exoneração que a Justiça Federal irá iniciar o processo de escolha do substituto ou substituta de Moro como titular da 13ª Vara Federal em Curitiba.
O novo responsável pela Lava Jato em Curitiba deverá ser conhecido ainda no primeiro trimestre de 2019. Se Hard não tiver proferido a sentença até lá, caberá ao novo titular.
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