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Lava Jato: 22 anotações de operador de Cabral relacionam Pezão a R$ 2,2 mi

Eduardo Lucizano

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/11/2018 11h10

  • Governador do Rio, Pezão foi preso nesta quinta em operação da PF
  • Vice, Francisco Dornelles assume o governo do Rio
  • Para PGR, há indícios de que Pezão recebeu propina  durante governo
  • Pezão ficará detido em sala especial da prisão da PM em Niterói
  • Futuro governador, Witzel diz que prisão não afetará transição

A Polícia Federal informou que o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), preso nesta quinta-feira (29) na Operação Boca de Lobo, desdobramento da Lava Jato no estado, foi citado em ao menos 22 anotações de Luiz Carlos Bezerra, ex-assessor de Sérgio Cabral (MDB) e apontado como um dos operadores do ex-governador.

“Em dados da Operação Calicute [desdobramento da Lava Jato], como anotações e bilhetes, que estavam com Luiz Carlos Bezerra, identificamos que um deles é o Pezão, por bilhetes, pelo menos 22 anotações relacionadas a Pezão e com valores de R$ 2,2 milhões”, disse Alexandre Camões Bessa, delegado da Polícia Federal.

Em entrevista em Brasília, o procurador regional da República Leonardo de Freitas disse que as investigações reuniram indícios de que Pezão continuou a receber propina de empresas investigadas no esquema após assumir o governo do estado. "Sim, é possível dizer que a gente tem elementos que os pagamentos continuaram mesmo após o senhor Luiz Fernando Pezão ter assumido o governo do estado do Rio de Janeiro", afirmou o procurador.

Pezão teria operado esquema próprio de corrupção e recebido mais de R$ 39 milhões entre 2007 e 2015, segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República).

A reportagem do UOL busca contato com a defesa do governador, que, ao ser citado em delações premiadas anteriores, sempre negou envolvimento no esquema de Cabral. Ao menos sete suspeitos, entre eles Pezão, foram presos nesta quinta-feira.

Foram três meses de investigação, analisamos e pedimos colaboração de outras operações, [como] a Calicute. Pezão passou a liderar essa organização após a saída de Cabral e a operar com seus próprios operadores financeiros e administrativos, que também estão presos.

Alexandre Camões Bessa, delegado da Polícia Federal

Segundo a PF, Pezão integrava a organização criminosa de Cabral e sucedeu o ex-governador na liderança do esquema. Foram analisadas provas documentais, como dados bancários, telefônicos e fiscais.

“Cabia a Pezão dar suporte político aos demais membros da organização que estão abaixo dele na estrutura do poder público e, para tanto, recebeu valores vultosos, desviados dos cofres públicos e que foram objeto de posterior lavagem”, disse a PGR ao descrever o papel do governador no grupo.

O esquema de corrupção teria tido início com a eleição de Cabral, em 2007, até os dias atuais, segundo investigações da Polícia Federal.

“Esse modus operandi, de cobrança de vantagem indevida, permaneceu durante todo o período. Desde o início das investigações, de 2007 até agora, essa cobrança indevida permaneceu”, disse o delegado Ricardo Saadi. Segundo Saadi, eles recebiam “em média, o percentual de 5% [sobre contratos], valor que manteve-se até os dias atuais”.

Questionado durante a entrevista sobre quais provas embasaram a prisão preventiva (por tempo indeterminado) de Pezão, Saadi disse que este detalhamento poderia atrapalhar o curso da investigação. "Ele solto poderia atrapalhar o andamento deste processo [de apuração]. A decisão é não falar sobre este assunto de maneira mais técnica", resumiu.

Os nomes das empresas que teriam repassado propina para o grupo supostamente liderado por Pezão assim como os valores repassados por elas também não foram revelados, "em nome do rito investigativo". Saadi também não detalhou o papel de cada um dos operadores do esquema, apesar de afirmar que "os atores cumpriam funções bastante específicas, conforme iniciado no mandato de Sérgio Cabral".