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"Rei dos Ônibus" diz que Cabral recebeu R$ 145 milhões em propina

O empresário Jacob Barata Filho em foto de 2013 - Daniel Marenco/Folhapress
O empresário Jacob Barata Filho em foto de 2013 Imagem: Daniel Marenco/Folhapress

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

12/12/2018 18h15Atualizada em 12/12/2018 19h26

O empresário Jacob Barata Filho, dono de empresas do setor de transportes do Rio de Janeiro, confirmou nesta quarta-feira (12) ao juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela 1ª instância da Lava Jato no estado, o pagamento de até R$ 145 milhões em propina ao ex-governador Sérgio Cabral, por meio da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), entre os anos de 2010 e 2016.

O objetivo dos pagamentos, de acordo com o empresário conhecido no Rio como o "Rei do Ônibus", seria a recomposição tarifária na data correta, a manutenção da taxa de administração que as empresas pagavam à Fetranspor e a renovação de contratos. Nas palavras de Barata, empresários do setor se veem coagidos, há mais de duas décadas, a fazer este tipo de pagamento.

"Há uma obrigação de você estar de bem com seus patrões. É uma forma de comprar bons relacionamentos com quem está no poder", afirmou ele, sem detalhar de que forma esse valor foi repassado.

Presente à audiência, o advogado de Cabral, Rodrigo Roca, negou as afirmações de Barata Filho e argumentou que "faltam provas e materialidade a esta denúncia".

De acordo com o empresário, os repasses acertados no esquema se intensificavam em épocas de campanhas eleitorais e nos períodos em que estavam previstos reajustes tarifários. "A taxa de administração desses contratos [com o poder público] girava em torno de 2,5%, mas cobrávamos 1% a mais. Este valor excedente era transformado em dinheiro em espécie, a fim de gerar caixa dois", detalhou.

Nas palavras do empresário, o único governo, nas últimas décadas, a não participar do esquema foi o de Leonel Brizola (PDT). O motivo seria "falta de sintonia política e uma vitória inesperada dele em cima de Miro Teixeira, o que inviabilizou um acerto".

Questionado por Bretas se havia esse tipo de pagamento em nível municipal, Barata limitou-se a dizer que "existe um procedimento junto ao Ministério Público Federal que caminha em sigilo".

Barata Filho cumpre prisão domiciliar desde outubro por determinação de Bretas após ter aceitado colaborar com a Justiça. O empresário foi preso pela primeira vez em julho de 2017, na Operação Ponto Final, que relacionava o pagamento de propina a figuras do primeiro escalão da política fluminense mediante a aprovação de projetos de lei.

Em outro depoimento prestado em agosto, Barata já havia confirmado o pagamento de propina a deputados e políticos. Os repasses chegariam a R$ 6 milhões por mês e seriam divididos entre parlamentares do estado.