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Em passeio na praia, Bolsonaro ignora perguntas sobre assessores

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) fala com jornalistas na orla da Barra da Tijuca, no Rio - José Lucena/Estadão Conteúdo
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) fala com jornalistas na orla da Barra da Tijuca, no Rio Imagem: José Lucena/Estadão Conteúdo

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

16/12/2018 17h53

Recluso durante todo o final de semana, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) saiu, na tarde deste domingo (16), para tomar água de coco em um quiosque próximo à sua residência, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Em entrevista rápida a jornalistas, o presidente eleito não quis responder sobre suspeitas envolvendo um ex-assessor de seu filho Flávio, deputado estadual fluminense eleito senador, em movimentações financeiras consideradas "atípicas" pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Questionado por jornalistas sobre o caso, Bolsonaro não respondeu. 

Fabrício José Queiroz, que trabalhou como assessor de Flávio, fez movimentações no valor de R$ 1,2 milhão, segundo o Coaf. Nathalia de Melo Queiroz, filha de Fabrício e assessora de Flávio entre 2011 e 2016 na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), também é mencionada pelo conselho.

O documento mostra indícios de que ela pode ter depositado na conta do pai quase tudo o que recebeu enquanto trabalhou como assessora, o equivalente a R$ 97.641,20 -- ou 99% do seu pagamento líquido. 

No mesmo período em que tinha salário de assessora na folha de pagamentos da Alerj, Nathalia trabalhou como recepcionista em uma rede de academias no Rio de Janeiro. Era contratada em regime CLT e dava expediente no Norte Shopping, a 14 km do prédio da Assembleia. Prestou serviços à rede de academias de abril de 2011 a julho de 2012.

Jair Bolsonaro toma água de coco em praia do Rio de Janeiro - Divulgação - Divulgação
16.dez.2018 - Bolsonaro toma água de coco em praia no Rio de Janeiro
Imagem: Divulgação

Em 2011, Nathalia acumulava aulas na faculdade onde estudava Educação Física, o emprego fixo como recepcionista e um cargo na Alerj, no departamento de taquigrafia e debates, no qual ficou até julho daquele ano, com salário bruto de R$ 2.950,66. Em agosto de 2011, a jovem recebeu outra atribuição na Casa: assessora direta de Flávio Bolsonaro. Ela permaneceu na função até dezembro de 2016 com vencimentos de R$ 9.835,63 mensais. De dezembro de 2016 a outubro de 2018, trabalhou como secretária parlamentar do presidente eleito.

O pai dela fez depósitos à futura primeira-dama, Michele Bolsonaro, que foram justificados pelo presidente eleito como pagamentos de um empréstimo que havia feito a Queiroz. O ex-assessor deve prestar esclarecimentos ao Ministério Público Federal nesta semana.

A assessoria de Flávio Bolsonaro nega qualquer irregularidade. "Não há qualquer ilegalidade ou irregularidade na atuação da assessora parlamentar Nathalia Queiroz. Ela foi nomeada no gabinete do deputado Flávio Bolsonaro durante o período de 12 de agosto de 2011 a 13 de dezembro de 2016."

Bolsonaro diz que não é investigado, mas que pagará se algo estiver errado

UOL Notícias

Médicos cubanos eram "agentes ou militares"

Durante a rápida entrevista na praia, o presidente eleito declarou que os médicos cubanos que deixaram o país eram "agentes ou militares". Os 8.331 médicos saíram do Brasil após críticas do presidente eleito ao contrato entre Brasil e Cuba no programa Mais Médicos. A decisão de ruptura partiu do governo cubano. 

"Os cubanos foram embora por quê? Porque sabiam que eu ia descobrir que grande parte deles, ou parte deles, eram agentes e militares. Não podemos admitir o trabalho escravo no Brasil com a máscara de trabalho humanitário voltado a pobres no tocante ao médico. Não é verdade isso aí", afirmou. 

A declaração veio no bojo do questionamento sobre um eventual convite para a vinda do presidente venezuelano Nicolás Maduro à posse presidencial. Bolsonaro disse que não convidará o país vizinho.

"Ele não vai receber. Nem ele, nem aquele ditador lá que substituiu o Fidel Castro", disse. O atual mandatário cubano é Miguel Díaz-Canel, empossado em abril de 2018. 

Questionado sobre o porquê, Bolsonaro respondeu: "Ditadura, né, pô. O povo lá não tem liberdade".

Mais tarde, em sua conta no Twitter, Bolsonaro voltou a falar sobre o Mais Médicos.

Pena de morte "não está em discussão" 

Em entrevista ao jornal "O Globo" neste domingo, o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente eleito, defendeu a possibilidade da aplicação de pena de morte para traficantes de drogas e praticantes de crimes hediondos -- sistema similar ao das Filipinas desde a entrada de Rodrigo Duterte no poder. Eduardo Bolsonaro esteve no país em 2017. 

Segundo Bolsonaro pai, a pena de morte não está em debate. "Não está no nosso plano. Não está no nosso programa. Não foi debatido na campanha. Enquanto eu for presidente, da minha parte, não teremos essa agenda", declarou.

Mais cedo, Bolsonaro havia publicado no Twitter uma negativa ao tema. 

"Se você ler a matéria, ele puxa documentos do Itamaraty do ano passado. Porque ele foi para a Indonésia para ver como é que diminuiu a violência lá. Foi implementada a pena de morte lá. Até porque nós sabemos que no Brasil é cláusula pétrea [da Constituição], que no Brasil não haverá pena de morte", afirmou.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, Eduardo Bolsonaro (PSL) é deputado federal reeleito e não senador eleito.
Diferentemente do informado na primeira versão deste texto, Rodrigo Duterte é presidente das Filipinas