General nega conflito político e atribui ataques no CE a disputa de facções

O secretário nacional de Segurança Pública, general Guilherme Theophilo, negou nesta sexta-feira (4) que tenha ocorrido conflito político com o governador reeleito no Ceará, Camilo Santana (PT), e com as autoridades locais no processo de decisão de envio de tropas da Força Nacional de Segurança na tentativa de conter a escalada da violência no estado. O militar foi candidato ao Executivo cearense na última eleição e acabou derrotado pelo petista.

"Isso é a imprensa criando fantasma onde não tem fantasma", comentou.

O envio de 300 homens da Força Nacional foi autorizado na manhã de hoje pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, após solicitação do governador. O estado registrou nesta sexta o terceiro dia de ataques criminosos. Desde quinta (3), Fortaleza e região metropolitana sofreram 39 ataques --entre eles, 16 incêndios a veículos, incluindo ônibus, e tentativas de explosão de uma delegacia e de um viaduto. Ao todo, 45 pessoas foram presas até o fim da manhã desta sexta.

De acordo com o Ministério da Justiça, a Força Nacional irá atuar por 30 dias no estado --o prazo de atuação pode ser prorrogado se necessário. O efetivo total designado é de 300 agentes de segurança e 30 carros. Os primeiros cem vão se deslocar de Natal e de Aracaju para a capital cearense por via terrestre. Na tarde desta sexta, mais cem homens embarcam em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira). O restante das tropas viajará para a cidade nordestina durante a madrugada.

Theophilo culpou a disputa entre facções criminosas pela onda criminosa crescente no estado e afirmou que as ordens de ataques partiram de dentro de presídios.

Só tem mais violência e aumenta taxa de homicídio onde há disputa entre facções pelo território. Há ainda uma disputa [no Ceará] muito grande por territórios. (...) Por isso que a violência no estado do Ceará está muito grande

Guilherme Theophilo, secretário nacional de Segurança Pública

O general citou facções criminosas que, segundo ele, atuam de forma contínua na disputa por territórios no Ceará --Comando Vermelho, PCC (Primeiro Comando da Capital), GDE (Guardiões do Estado), Família do Norte, entre outros.

Questionado se os atos de violência que ocorreram nos últimos dias estão diretamente ligados à disputa entre facções, Theophilo respondeu: "esses também têm isso porque as ordens vêm de dentro dos presídios". Para o general, a escalada criminosa se apoia também na conivência de agentes do estado, já que muitas vezes aparelhos celulares entram nas cadeias por meio de corrupção policial.

"Se vocês notarem a quantidade de telefones celulares que foram apreendidos dentro dos presídios... Quem acompanha o estado do Ceará vê que, muitas vezes, esses celulares que entram têm conivência até das guardas penitenciárias. Nós temos um problema sério que é a facilidade de entrar o celular. (...) Essas ordens estão sendo emanadas de dentro dos presídios."

Na tentativa de enfrentar o problema, o militar afirmou que serão criadas cinco forças regionais dentro do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) a fim de realizar varreduras nos presídios.

O secretário também mencionou uma tentativa de assalto a banco na cidade de Milagres (a 482 km de Fortaleza) que acabou resultando em uma chacina, há cerca de um mês. Na ocasião, ao menos 12 pessoas morreram. "Nós tivemos recentemente uma chacina em Milagres que foi um modus operandi nunca antes visto, que é o refém sendo conduzido dentro da tropa que vai assaltar. Normalmente os reféns são feitos entre as próprias pessoas que estão utilizando o banco ou aquele estabelecimento comercial."

Devido à repercussão, o general do Exército convocou a imprensa para uma rápida entrevista na sede do Ministério da Justiça. Apenas cinco perguntas foram permitidas aos jornalistas. Antes de respondê-las, em breve pronunciamento, o chefe da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) afirmou que o crescimento da violência no Ceará já vinha sendo mapeado por órgãos federais de inteligência e que os primeiros homens da Força Nacional devem chegar a Fortaleza ainda nesta sexta.