Exército não mata, Holocausto, diesel: a semana de Bolsonaro em 3 polêmicas
Afeito a declarações que fogem do protocolo político convencional, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) teve uma semana marcada por frases que repercutiram negativamente dentro e fora do país.
Desde que tomou posse, entrevistas, discursos e manifestações do mandatário nas redes sociais têm gerado crises de maior ou menor intensidade para o Executivo, o que levou a episódios de recuo e atritos com outros poderes. O governo completou cem dias na última quarta (10).
Na última semana, uma série de frases do presidente tiveram impacto dentro e fora do país, provocaram saias justas no governo ou influenciaram negativamente os indicadores econômicos.
Na sexta (12), Bolsonaro declarou que "o Exército não matou ninguém" ao comentar o caso da morte do músico e segurança Evaldo Rosa dos Santos, 46, fuzilado por homens das Forças Armadas quatro dias antes --mais de 80 tiros foram disparados contra o veículo.
Na ocasião, a vítima estava em seu carro com a família, na zona oeste do Rio. O veículo foi confundido por um grupo de militares com um automóvel suspeito.
O Exército não matou ninguém, não, o Exército é do povo. A gente não pode acusar o povo de ser assassino não. Houve um incidente, houve uma morte, lamentamos a morte do cidadão trabalhador, honesto, está sendo apurada a responsabilidade
Na versão do presidente, o Exército sempre aponta responsáveis e, na corporação, "não existe essa de jogar para debaixo do tapete". Nove militares estão presos.
A declaração de Bolsonaro foi criticada por vários setores da sociedade. Segundo a Polícia Civil fluminense, Evaldo e a família estavam indo para um chá de bebê e não possuíam tipo algum de vínculo com criminosos. Atingido por disparos, o músico e segurança morreu na hora. Os demais ocupantes do carro sobreviveram.
Diante das reações negativas, coube ao ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, defender o presidente. Ele afirmou ontem que a repercussão em torno da fala presidencial seria "mais uma distorção dos jornalistas que não estão preparados para cobrir o presidente da República".
"O que ele disse foi o seguinte: o Exército não matou ninguém, o Exército é uma instituição que respeita profundamente os valores humanos e nunca matou ninguém. Quem matou, se aconteceu de alguém morrer na operação, foi alguém que o Exército vai responsabilizar pela morte."
Museu de Israel critica fala de Bolsonaro
Na quinta, Bolsonaro afirmou a evangélicos, no Rio, que o Holocausto poderia ser "perdoado", mas não "esquecido".
Fui, mais uma vez, ao Museu do Holocausto. Nós podemos perdoar, mas não podemos esquecer. E é minha essa frase: Quem esquece seu passado está condenado a não ter futuro. Se não queremos repetir a história que não foi boa, vamos evitar com ações e atos para que ela não se repita daquela forma.
A frase repercutiu em Israel e foi objeto de um comunicado de repúdio do museu Yad Vashem. O texto diz que "não é direito de nenhuma pessoa determinar se crimes hediondos do Holocausto podem ser perdoados".
O memorial Yad Vashem, em Jerusalém, dedica-se a homenagear as vítimas e os combatentes do genocídio de seis milhões de judeus pelos nazistas.
"Desde a sua criação, o Yad Vashem tem trabalhado para manter a lembrança do Holocausto viva e relevante para o povo judeu e a toda humanidade", completa a nota.
Sem citar Bolsonaro, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, disse que sempre irá se opor aos que negam a verdade ou desejam expurgar a memória. "Nós nunca vamos perdoar nem esquecer."
Bolsonaro já havia dito que o nazismo era um movimento de esquerda, contrariando a grande maioria dos historiadores e até o próprio Museu do Holocausto.
Em seu site, o Yad Vashem explica em breve histórico a ascensão do partido de Adolf Hitler na Alemanha entre guerras.
Ao abordar a conjuntura da época após o Tratado de Versailles, que selou a paz entre as principais potências europeias após a Primeira Guerra, o museu explica que havia um clima de frustração que, "junto à intransigente resistência e alertas sobre a crescente ameaça do comunismo, criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista".
Interferência no diesel derruba valor na Petrobras
Na quinta, Bolsonaro admitiu ter interferido na Petrobras ao barrar o aumento previsto para o preço do diesel. A decisão, tomada sem consulta aos técnicos do Ministério da Economia, derrubou as ações da estatal e levou a especulações sobre a possível volta de uma política de interferências do governo na estatal petrolífera, e gerou comparações com o governo Dilma Rousseff (PT).
"Não sou economista, já falei que não entendia de economia."
"Liguei para o presidente [da Petrobras] sim, me surpreendi com o reajuste de 5,7%. Não vou ser intervencionista, não vou praticar política que fizeram no passado, mas eu quero números da Petrobras", disse o presidente durante a viagem a Macapá.
O mandatário também voltou a afirmar que "não entende de economia", confissão que se tornou recorrente à época de sua campanha eleitoral, no ano passado. O então candidato costumava dizer que todas as questões referentes ao tema seriam resolvidas por Paulo Guedes, hoje ministro da pasta.
Na sexta (12), as ações da Petrobras fecharam em queda de mais de 8% após a interferência do governo para vetar o reajuste programado. O resultado da estatal puxou para baixo o índice da Bolsa, que fechou em queda de 1,98%, a 92.875 pontos, no quarto recuo seguido.
É a pior queda em mais de duas semanas, desde 27 de março (-3,57%). É também o menor nível da Bolsa desde a mesma data. Na semana, o Ibovespa acumulou perdas de 4,36%, após duas altas semanais.
Por fim, o posicionamento considerado controverso do governo sobre aquecimento global e preservação do meio ambiente fez o Museu Americano de História Natural em Nova York recuar de sediar um evento em homenagem a Bolsonaro. O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, pediu ao museu que não recebesse Bolsonaro e o considerou "perigoso".
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