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Kataguiri afirma que governo Bolsonaro "decola" se Olavo sair de cena

Kim Kataguiri (DEM-SP) diz que deputados deverão fazer uma nova proposta de reforma da Previdência - Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Kim Kataguiri (DEM-SP) diz que deputados deverão fazer uma nova proposta de reforma da Previdência Imagem: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

17/05/2019 12h13

Resumo da notícia

  • Deputado federal pelo DEM-SP vê governo "atabalhoado" após protestos de 4ª
  • Kataguiri diz ainda que Congresso vai criar uma reforma da Previdência "própria"
  • Ele critica também a influência do escritor Olavo de Carvalho, que causa "danos"

Ainda que com críticas aos protestos de anteontem (15) contra o bloqueio de verbas na educação promovido pelo governo Jair Bolsonaro (PSL), o MBL (Movimento Brasil Livre) reconheceu o tamanho das manifestações. Para seu representante mais conhecido, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), a declaração do escritor Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro, de que se afastará da política brasileira pode ter sido uma consequência positiva dos protestos.

Grupo de direita que impulsionou os protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o MBL fez comentários sobre as manifestações durante toda a semana, na maioria das vezes com críticas a participantes. Mas na própria quarta, o grupo afirmou no Twitter que a esquerda havia conseguido fazer "a maior manifestação em anos".

Em texto publicado no site do grupo, Renan Santos, um de seus principais líderes, afirmou que havia subestimado o tamanho da indignação e errado sobre as manifestações. Escreveu que a manifestação foi substancial e com "gente de verdade, que eventualmente saiu conosco às ruas contra Dilma e está puta com a forma como parte importante de sua vida foi tratada pelo governo".

Kim Kataguiri compartilhou o texto do colega, mas em conversa com o UOL procurou negar que o tamanho dos atos havia provocado surpresa. "Foi dentro da expectativa", afirmou. Em seguida, disse, porém, que não esperava manifestações com tanta capilaridade, espalhadas por todas as unidades federativas.

O MBL apoiou Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, prioriza a defesa da reforma da Previdência, mas tem diferenças em relação ao presidente. O parlamentar afirma, inclusive, que o Congresso vai trabalhar em uma proposta própria de reforma previdenciária e afirma que ela pode ser aprovada no segundo semestre.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida pelo deputado federal.

UOL - O MBL destacou o tamanho dos protestos de quarta-feira. Foi maior do que se imaginava?
Kim Kataguiri
- Não. Foi dentro da expectativa.

Esperava que houvesse manifestações em todas as unidades federativas do país?
Não. Pensei que fosse uma coisa mais limitada.

O governo cometeu erros na condução deste caso do contingenciamento na educação?
Sem dúvida. A lei orçamentária foi votada no ano passado. O governo teve fase de transição para isso. Já sabiam o que ia acontecer e poderiam ter feito com planejamento.

O problema não é o contingenciamento em si, o problema é o contingenciamento de supetão, sem diálogo com as instituições envolvidas e sem planejamento estratégico para que elas sobrevivessem até o fim do ano.

Concordo com o ponto de vista de que a gente tem um gasto excessivo no ensino superior, de que se tem determinados reitores que gastam muito com folha de pagamento quando deveriam investir mais no aluno. Mas fazer um corte linear sem uma análise mais profunda e sem um diálogo com os agentes envolvidos não é razoável.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que a responsabilidade pelo bloqueio de verbas na educação é dos governos Dilma e Michel Temer (MDB). Ele está correto?
A responsabilidade do contingenciamento em si é dos governos anteriores. Já estava previsto no orçamento votado no ano passado. Agora, da maneira como foi feito, não. Isso é responsabilidade do governo Bolsonaro.

Como avalia o desempenho do governo na educação nestes primeiros meses?
Por enquanto deixa a desejar. Não tem planejamento, você não sabe qual é o projeto. O ministro anteontem se disse contrário à cobrança de mensalidades em universidades públicas, que seria uma das melhores medidas em momentos de crise como o que a gente vive para cobrar de quem pode pagar e reverter isso em um fundo para educação básica, que deve ser o foco, que é o que dá mais retorno e combate à pobreza e à desigualdade.

E você não vê nenhuma alternativa, não vê plano, não vê metas. [Educação] não é minha área especificamente de atuação como deputado, mas é público que não existe um plano e que o contingenciamento foi feito de maneira atabalhoada.

Olavo de Carvalho diz que não vai mais se meter na política brasileira. A declaração dele poderia ser uma consequência dos protestos de anteontem?
Se houver essa relação, e acredito que há, é uma relação de estopim. Os danos causados por ele no governo são notórios e públicos, já se arrastam há muito tempo: o desgaste com a ala militar, que é a ala do governo que funciona. [O governo] acabou entrando em atrito justamente por causa da influência do Olavo sobre os filhos do presidente e sobre o antigo ministro da Educação [Ricardo Vélez], e o Filipe Martins, que é assessor direto da Presidência.

Não sei as motivações pessoais dele [Olavo], mas no geral acho que chegou num limite que não dá mais para aceitar esse tipo de interferência desgastando o governo.

Se Olavo cumprir a promessa de se afastar, isto ajuda o governo?
Nossa! [O governo] decola.

Diante das dificuldades do governo com o Congresso, quais as perspectivas de se aprovar uma reforma da Previdência?
Estou mais otimista com a aprovação da reforma previdenciária porque isso já saiu das mãos do governo. Não é mais o governo que está conduzindo. É uma pauta que está sendo conduzida pelo presidente da Câmara [Rodrigo Maia, DEM-RJ].

Assim como a reforma tributária, que não partiu do governo, foi iniciativa do Congresso, tem esse senso de responsabilidade dos parlamentares de que a gente precisa aprovar [uma reforma da Previdência]. Mesmo nos partidos de oposição, tem governadores que pressionam para que alguma reforma seja aprovada.

A tendência é que a Câmara, assim como tem feito com a reforma tributária, faça o trabalho em texto próprio, não o que foi enviado pelo governo, mas que a gente tenha uma economia razoável.

Quais as mudanças mais significativas em relação à proposta do governo?
Tem várias. Uma reforma alternativa, pelo que se discute aqui, contemplaria uma fase de transição dos servidores públicos, a criação de um fator previdenciário, um sistema de pontos somando tempo de contribuição e idade. Manter a condição da aposentadoria rural como é hoje, diminuir em cerca de cinco anos o tempo de contribuição necessária.

Quando ela pode ser aprovada em primeiro turno na Câmara?
No início do segundo semestre, logo depois do recesso.

O que espera com a quebra de sigilo do senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente e investigado pelo Ministério Público do Rio?
Inegavelmente, no regime presidencialista que a gente vive, é muito difícil separar o presidente do filho. Ainda mais quando se tem mandato parlamentar e atua e opina tão fortemente nas questões atinentes ao governo. Qualquer tipo de comprometimento que o filho tiver com ilícito, com irregularidade, vai comprometer o governo e vai abalar a já falta de base que o governo tem na Câmara.

Isto pode dar margem a mais manifestações nas ruas contra o presidente?
É possível sim, mas depende muito da magnitude do que for descoberto. É difícil prever. O clima para protesto precisa de uma fórmula muito específica para saber se vai dar margem ou não. Se a magnitude do escândalo for grande, é possível sim.