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Protesto, helicóptero e Beatles: o casamento de Eduardo Bolsonaro no RJ

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

25/05/2019 18h10Atualizada em 26/05/2019 09h51

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) casou-se neste sábado (25) com a psicóloga Heloísa Wolf em uma casa de festas em Santa Teresa, na região central do Rio de Janeiro. Esta é a primeira festa do clã de políticos desde que seu pai, Jair Bolsonaro (PSL), assumiu a Presidência. O evento foi marcado por forte policiamento e protestos pontuais de moradores da região.

A festa, para 150 convidados, foi em uma área com vista para cartões-postais da cidade --a Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar e o Corcovado--, no bairro construído sobre morros entre as zonas sul e norte e, ironicamente, um tradicional reduto da esquerda carioca.

Daminhas entram ao som de canção dos Beatles

UOL Notícias

Bolsonaro entrou na cerimônia ao som de "We Are The Champions", clássico da banda inglesa Queen. A primeira-dama, Michele, foi uma das madrinhas --todas usavam vestidos azuis. De terno azul claro e colete prata, o noivo entrou de braços dados com a mãe, Rogéria Bolsonaro, ex-vereadora, vestida de vermelho.

Quem levou as alianças foi a cadela Beretta, mascote do casal. Com a guia e a coleira decoradas com flores, ela estava com a filha caçula do presidente, Laura, 8. As damas de honra entraram ao som de "Here Comes the Sun", dos Beatles.

O matrimônio foi celebrado pelo pastor Pedro Litwinczuk, presidente da Igreja Comunidade Batista do Rio. Escolhido pela mãe do noivo, e conhecido como Pastor Pedrão, ele participou da terceira temporada de "No limite", primeiro reality show da TV Globo, em 2001.

"Foi uma cerimônia muito bonita e descontraída. Os noivos estavam muito felizes", disse o pastor ao UOL. Eleitor declarado do clã Bolsonaro, o religioso chamou atenção pela cabeça raspada e a barba grande.

Noiva sorrindo, cadela levando as alianças: veja momentos do casamento

TV Folha

Forte policiamento na região

Um forte policiamento foi colocado na região. Dois comboios --um da Polícia do Exército e outro da PM-- faziam a segurança somente no Condomínio Equitativa. A entrada para o Morro dos Prazeres, comunidade próxima ao local do casamento, estava bloqueada por um Caveirão da PM. A Polícia Federal fazia a guarda à paisana, de terno. O acesso à cerimônia pela imprensa foi proibido.

Atiradores foram posicionados em prédios e pontos altos. O presidente e seus filhos Flávio e Carlos chegaram ao local da festa em comboios, sob escolta.

O presidente havia ido de helicóptero do aeroporto de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, ao Santos Dumont, que fica na região central. Dali, seguiu para a cerimônia, acompanhado de carros da Polícia Federal, responsável por sua segurança.

Presidente comemora no Twitter

Em suas redes sociais, o presidente comemorou o casamento. "25/maio, casamento do 03. Que Deus proteja essa família que se forma nessa data. Aos 35 anos Eduardo entra no time dos homens sérios (kkkkk)", postou Bolsonaro.

Também postou uma foto ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O casal deixou a cerimônia pouco depois das 20h, sem falar com a imprensa, após cerca de quatro horas de festa.

O presidente passa a noite em sua casa na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, e deve ir a um culto domingo na Igreja Atitude, no Recreio dos Bandeirantes, também na zona oeste. Segundo a assessoria de imprensa do presidente, ele deve voltar a Brasília neste domingo.

O casal inicia a lua de mel neste domingo nas Ilhas Maldivas.

Moradores protestam e cobram melhorias

Poucos metros acima da casa de festas, moradores do Condomínio Equitativa --um reduto da esquerda, com adesivos de "Lula Livre" nas áreas comuns-- protestaram.

"O capeta já chegou?", perguntou ao UOL uma senhora na faixa dos 75 anos, que passeava com seu cão em frente ao condomínio e que não quis se identificar. "Tanto lugar para escolher e esse infeliz vem aqui, em um bairro progressista, onde ninguém gosta dele", afirmou.

Nas fachadas dos apartamentos voltadas para o jardim da casa de festas eram vistas faixas pretas, com recados aos noivos, como "Não procriem", e palavras de ordem, como "Fora Bolsonaro".

Músicas de protesto como "Apesar de Você", de Chico Buarque, e "Pra não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré, foram tocadas por um morador em volume alto. Gritos de "fascista", "nazista", "cadê o Queiroz?" e "quem mandou matar Marielle?" também foram ouvidos pela reportagem.

"Bolsonaro de bosta, filho da p*", xingou uma mulher cujo carro ficou parado para os comboios do casamento subirem, em uma das ruas de acesso à Casa de Santa Teresa.

A síndica do condomínio Sandra Ramos de Oliveira, 52, contou que o protesto foi orquestrado via fórum de moradores.

"Nosso protesto é político e a maioria das pessoas aqui é contra Bolsonaro porque ele é um fascista, misógino e preconceituoso. E por ser uma pessoa inadequada e despreparada, um incompetente que chegou ao poder por causa da ignorância do povo brasileiro", disse.

Segundo ela, outra motivação era o descaso com o bairro, que, nos últimos dias, recebeu atenção especial devido ao evento da família Bolsonaro. "As ruas de acesso são imundas, tem porcos. Hoje para o casamento está tudo lindo", disse a síndica. Um fotógrafo da agência de notícias Reuters registrou porcos na região.

"A gente costuma dizer aqui que se São Pedro der um espirro, acaba a luz. Ficamos sem luz pelo menos umas três vezes por semana. Esses picos queimam nossos aparelhos. As ruas de acesso são imundas e hoje, para o casamento, está tudo lindo", disse a síndica. "Por que ele não pintou a escola abandonada lá debaixo? Deixa um legado pelo menos para o pessoal da comunidade."

Residente do condomínio, o engenheiro Jorge Fernandes, 46, também endossou o protesto.

"Aqui na região do Cosme Velho, estamos sem iluminação há mais de um ano e meio. Hoje está tudo iluminado, recapeado e pintado", disse. "Santa Teresa sempre foi um bairro progressista, não faz sentido ele se casar aqui."

(Com Estadão Conteúdo)