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Favorito à PGR deu festa em casa com Dirceu, Rui Falcão e outros petistas

O subprocurador-geral da República Augusto Aras - Pedro Ladeira /Folhapress
O subprocurador-geral da República Augusto Aras Imagem: Pedro Ladeira /Folhapress

Constança Rezende

Colaboração para o UOL, em Brasília

13/08/2019 16h28Atualizada em 13/08/2019 21h18

Apontado como favorito por Jair Bolsonaro (PSL) para ser o próximo procurador-geral da República, Augusto Aras deu uma festa para o "núcleo duro" do PT há cinco anos.

O UOL teve acesso a uma foto do evento, que ocorreu em agosto de 2013, e conversou com presentes na noite - que reuniu 80 pessoas.

A cerimônia foi organizada por Aras e a mulher para lançar o livro do ex-deputado petista e amigo de Aras, Emiliano José. A obra Galeria F - Lembranças do Mar Cinzento (IV) traz relatos de Emiliano na luta contra ditadura militar.

Augusto Aras  - Ago.2013/Arquivo Pessoal - Ago.2013/Arquivo Pessoal
Da dir. para a esq., Augusto Aras e a esposa, Maria das Mercês, uma mulher não identificada, o ex-deputado federal Emiliano José (PT-BA), a ex-ministra da Casa Civil Eva Chiavon e o deputado federal Zé Neto (PT-BA)
Imagem: Ago.2013/Arquivo Pessoal
Estiveram no evento na casa de Aras:

  • Rui Falcão, então presidente do partido
  • José Dirceu, que havia sido ministro da Casa Civil
  • Zé Neto, então deputado estadual do PT da Bahia
  • Rodrigo Janot, ex-procurador geral da República
  • Eva Chiavon, sucessora de Jaques Wagner na Casa Civil

Convidados relatam que para homenagear o amigo, Aras comprou 80 exemplares do livro do petista. Emiliano, que também é autor do Lamarca: o capitão da guerrilha, sobre Carlos Lamarca, assinou os exemplares.

Dilma era presidente

Em dado momento da noite, Rui Falcão fez um pequeno discurso comemorando o momento político brasileiro (na época com a presidência de Dilma Rousseff) e parabenizando Emiliano, segundo relatos de presentes ao evento.

Já Augusto Aras teria parabenizado, emocionado, o amigo escritor. Presentes no jantar dizem que o amigo petista foi chamado de "história encarnada e compromisso com ideias libertários de que a democracia precisa".

O livro tem posfácio assinado por Paulo Vannuchi, integrante da Comissão de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) - instituição crítica à política de Bolsonaro para os direitos humanos.

Emiliano conta, no livro, como presos políticos na Bahia se aglomeravam na penitenciária Lemos de Brito, em Salvador. Também traz depoimentos do guerrilheiro Carlos Marighella Filho e narra como ocorreu a emboscada que o matou.

Amigos petistas

Amigos de Aras da Bahia disseram ao UOL estarem "estupefatos" com a aproximação do subprocurador com Bolsonaro e estranham suas recentes declarações alinhadas ao conservadorismo.

"Ele nunca foi assim, até devido a história do pai, Roque Aras, ex-presidente do MDB na Bahia e com uma história muito forte de militância política", disse um petista.

Aras tem sido alvo de campanha negativa feita por parlamentares do PSL e por apoiadores do presidente desde que a Folha publicou uma entrevista com ele de 2016.

Na época, ele afirmava que "a política do medo" tinha consequências desastrosas, como o crescimento de uma "doutrina de direita, uma direita radical".

Na mesma entrevista, Aras disse que a esperança precisava vencer o medo, o que foi interpretado por bolsonaristas como uma referência ao slogan de campanha do ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.

Na mesma semana, Aras ocupou-se em desfazer a mensagem, que explicou como um mal-entendido. Em outra entrevista para a Folha, o candidato à PGR disse que a referência era, na verdade, a uma frase do filósofo Luciano, que viveu no século primeiro da era cristã.

Bolsonaro não confirma, nem nega que Aras será sua escolha. Mas chegou a dizer que se Aras havia sido alvo de "críticas" por parte da imprensa - que na verdade havia publicado apenas declarações antigas dele -, o candidato havia ganhado "alguns pontinhos".