Frota sai de tropa de choque de Bolsonaro a crítico e expulso do PSL
Em outubro de 2016, o então deputado federal Jair Bolsonaro desembarcava no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, sob gritos de "mito" e "1, 2, 3, 4, 5 mil, queremos Bolsonaro presidente do Brasil".
"Aí, Edu!", grita Alexandre Frota, filmando a cena, para o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O terceiro filho do hoje presidente da República responde com um sorriso e um sinal de positivo.
Enquanto Bolsonaro saúda seus apoiadores, Frota chama o político e o abraça de forma a ambos serem enquadrados pela câmera de seu celular. Os dois sorriem. "Vamo aê!", diz Frota. O vídeo foi postado na página de Bolsonaro no Facebook.
Quase três anos depois, os Bolsonaro estão de um lado, e Frota, de outro.
A expulsão de Frota do PSL, decidida ontem, é o ponto culminante de um processo no qual o deputado federal deixou de fazer parte da tropa de choque de Bolsonaro para ser um dos principais críticos do presidente que ajudou a eleger.
Frota era visto com frequência ao lado de Bolsonaro, principalmente nas manifestações de rua contra o PT e a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT) -- eventos que ajudaram a pavimentar a carreira política do ex-ator. O apoio era retribuído pelo então parlamentar.
"Estou muito orgulhoso do que você tem feito ultimamente", disse Bolsonaro em um vídeo publicado em janeiro de 2018 pelo canal O Jacaré de Tanga. "Você teve uma participação muito importante na questão do impeachment, meus parabéns a você, estou com saudades de você. Vindo a Brasília, estamos juntos. Meu irmão, um abraço, estamos juntos, Deus te acompanhe, tá ok? Valeu, Frota!"
Em março do ano passado, em tom de brincadeira, Bolsonaro chegou a dizer que, se fosse eleito presidente, Frota seria seu ministro da Cultura --a pasta foi extinta pelo atual governo. Quando Bolsonaro foi vítima de atentado durante a campanha eleitoral de 2018, Frota o visitou no hospital.
O ator transformado em ativista político vira deputado federal, e o militar transformado em deputado vira presidente da República. Com a entrada do novo ano, não demora para a relação começar a azedar.
Um dos marcos é o pedido, por Frota, de prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), segundo filho do presidente. Queiroz fez movimentações atípicas de R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017 e recebeu repasses de outros funcionários do gabinete de Flávio quando este era deputado estadual. O caso é investigado pelo Ministério Público do Rio.
"Hoje encontrei o Flávio Bolsonaro, ele me confirmou que o pai ficou chateado comigo, foi a terceira pessoa que veio me dar o recado. OK, recado dado", escreveu Frota no Twitter em março --ele saiu das redes sociais depois da expulsão do PSL.
As críticas públicas de Frota ao governo Bolsonaro e a aliados se tornaram cada vez mais frequentes. O tiroteio verbal dos últimos meses envolveu desde o escritor Olavo de Carvalho a Eduardo Bolsonaro, passando pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e o senador Major Olimpio (PSL-SP).
O embate público com Eduardo, por exemplo, envolveu acusações mútuas de que ambos pegaram carona na popularidade de Jair Bolsonaro para serem eleitos.
Os bate-bocas com correligionários foram a face pública de uma disputa de poder dentro do PSL paulista. Frota desafiou o filho do presidente em busca do comando do partido no estado e apoia a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) para a disputa pela Prefeitura de São Paulo no ano que vem. Já Eduardo Bolsonaro tenta convencer o apresentador José Luiz Datena a disputar o cargo pela legenda
No mês seguinte, da tribuna da Câmara, Frota disse que estava difícil defender o governo, reclamando do que via como interferência de Olavo de Carvalho. Em entrevista ao UOL, cobrou de Jair Bolsonaro mais prestígio ao PSL e àqueles que o ajudaram a ser eleito para a Presidência.
"Bolsonaro várias vezes falou para mim, falou para vários outros: soldado meu que é ferido na guerra não fica para trás. Todos ficaram", afirmou.
Sabendo do risco que corria no PSL ao comprar briga com o presidente e seu filho, fez um desafio em tom de premonição.
"Eles não podem me expulsar do partido. Ou até podem. Me manda embora do partido, eu levo o meu fundo partidário. Eu te garanto que, três horas depois, eu estou em outro partido, porque o que não falta é convite", afirmou. "Eu fui eleito pelo PSL, eu gosto do PSL e gosto do trabalho que eu estou fazendo no PSL. Agora, eu não sou bobo. Não sou otário? Camarão que dorme o mar leva."
O limite da paciência de Bolsonaro foi cruzado com as críticas em tom cada vez mais elevado contra a indicação de Eduardo Bolsonaro para se tornar embaixador nos EUA, o que ainda precisa ser aprovado pelo Senado. Segundo o blogueiro do UOL Tales Faria, isso levou o presidente a articular pessoalmente a expulsão de Frota.
A reportagem tentou contato com Frota hoje, sem sucesso. Segundo um assessor, o deputado está no Rio de Janeiro, onde nasceu, praticamente incomunicável. Ele tem convites de quatro partidos: PSDB, DEM, PRB e Podemos. Seu destino deverá ser conhecido na semana que vem.
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