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Atacado por foto falsa de Greta, Eduardo Bolsonaro integra CPI de fake news

Maandel Ngan - 30.ago.19/AFP
Imagem: Maandel Ngan - 30.ago.19/AFP

Hanrrikson de Andrade*

Do UOL, em Brasília

26/09/2019 19h47

A CPMI das Fake News, criada no Congresso para investigar a produção e disseminação de notícias falsas na internet, tem como um de seus membros o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que ontem (25) espalhou uma fotomontagem e uma informação deturpada em ataque a ativista climática Greta Thunberg.

A menina sueca, de 16 anos, é uma das estrelas da cúpula da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o clima. Na última segunda (23), ela fez um discurso contundente na abertura do evento, realizado em Nova York, quando acusou líderes de "roubarem meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias".

Eduardo passou a compor a CPMI como suplente, na semana passada, em uma tentativa de blindar o pai, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), e o irmão, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).

Como ambos estão na mira da comissão, o PSL tenta formar uma tropa de choque a fim de obstruir o andamento dos trabalhos e "fazer o máximo possível de barulho", segundo definiu um parlamentar ouvido pela reportagem. A tática já foi executada na primeira reunião do grupo, em 10 de setembro, e vem se repetindo desde então.

Carlos e Eduardo têm um comportamento semelhante nas redes sociais e são acusados constantemente de compartilhar fake news ou ataques pessoais. No episódio de ontem envolvendo o deputado federal, ele postou no Twitter que Greta seria financiada pelo bilionário húngaro-americano George Soros. A foto publicada não é original. Trata-se de uma montagem (texto também está recortado).

A adolescente tem sido alvo de uma onda global de desinformação desde que discursou na ONU. Também tem sido atacada por outras questões. Nos Estados Unidos, por exemplo, a emissora Fox News foi obrigada a pedir desculpas depois que um comentarista a chamou de "doente mental". Greta tem síndrome de Asperger, como ela mesmo já revelou em uma de suas redes sociais.

Como explicado em reportagem do UOL Confere, não há indicação alguma de que a sueca de 16 anos receba dinheiro de Soros, famoso mundialmente por financiar iniciativas liberais por meio da fundação Open Society. No site da organização, não há qualquer menção a Greta ou à FFF (Fridays For Future), ONG climática internacional que ela representa.

Em nota enviada ao UOL, a Open Society negou envolvimento com a ativista. "A fundação presta solidariedade à corajosa juventude de ativistas climáticos que lutam por ações imediatas acerca da crise global, que é uma ameaça existencial para as sociedades livres ao redor do mundo. [Entretanto] George Soros e a Open Society Foundations não financiam o trabalho da senhorita Thunberg junto à Fridays for Future", declarou, por e-mail, em inglês.

A assessoria internacional da FFF, baseada na Europa, também negou a informação. "Nós não recebemos nenhum financiamento de George Soros", afirmou.

Além disso, a imagem compartilhada por Eduardo no Twitter mostra Greta comendo a bordo de um trem enquanto, supostamente, crianças negras a observam. A foto original, sem as crianças, foi postada pela própria jovem sueca em 22 de janeiro deste ano. "Almoço na Dinamarca", diz a legenda.

Estratégia na CPI

A oposição do PSL à criação da CPMI das Fake News ocorre porque o principal objeto de investigação é o compartilhamento de mensagens de ódio, informações falsas e ataques durante a eleição presidencial do ano passado, vencida por Bolsonaro. A campanha do capitão reformado do Exército foi marcada por episódios dessa natureza.

A bancada pesselista entende que a comissão tem finalidade "revanchista" e foi proposta com o objetivo de prejudicar o governo. Do outro lado, os defensores do grupo argumentam que o escopo de investigação vai muito além das eleições do ano passado. "É uma CPMI que busca a manutenção da democracia e a proteção das famílias", declarou ao UOL o presidente da CPMI, senador Angelo Coronel (PSD-BA).

Na primeira reunião, em 10 de setembro, ainda sem a presença de Eduardo, a tropa de choque bolsonarista buscou obstruir a reunião com uma série de requerimentos e reclamações. O pleito é legítimo, pois faz parte da rotina parlamentar, mas não agradou ao presidente da comissão.

Coronel afirmou que a tentativa de obstrução do PSL, definida por ele como "sem sentido", "aguçou ainda mais" a sua "curiosidade" para "saber o motivo pelo qual eles não querem que a CPMI ande".

*Com reportagem de Lucas Borges Teixeira, colaboração para o UOL, em São Paulo