10 vezes em que o clã Bolsonaro flertou com a ditadura militar
Filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) sugeriu a criação de um "novo AI-5" no Brasil caso a esquerda brasileira se "radicalize".
Decretado em 1968, durante a ditadura militar, o AI-5 fechou o Congresso Nacional, cassou mandatos, suspendeu o direito a habeas corpus para crimes políticos e deu aval a outras medidas que suspenderam garantias constitucionais. O ato é considerado o início do período mais duro da ditadura.
A declaração de Eduardo, também líder do PSL na Câmara, gerou críticas entre diversos políticos, inclusive do próprio partido. Após a repercussão negativa, o presidente desautorizou a declaração do filho e disse que qualquer um que fale em AI-5 neste momento "está sonhando".
Mas esta não é a primeira vez que membros da família Bolsonaro se aproximam de elementos da ditadura militar. O próprio Jair Bolsonaro, por exemplo, já exaltou diversas vezes o nome do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado em segunda instância por tortura e sequestro durante o regime.
Relembre, abaixo, outros episódios envolvendo os Bolsonaros e a ditadura militar.
Jair Bolsonaro e o livro de Ustra
Em 2018, na época da campanha presidencial e quando ainda era deputado, Jair Bolsonaro afirmou em participação no programa Roda Viva que "não houve golpe militar em 1964" e citou "A Verdade Sufocada", do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, como seu livro de cabeceira.
Eduardo, o STF e "um soldado e um cabo"
Também no ano passado, veio a público uma declaração de Eduardo sobre a possibilidade de fechar o STF (Supremo Tribunal Federal) com "um soldado e um cabo".
A fala de Eduardo foi gravada em julho de 2018, quando ele dava uma palestra em um cursinho preparatório para concursos da Polícia Federal. O deputado havia sido questionado sobre uma possível ação do Exército caso o Supremo impedisse seu pai, Jair Bolsonaro, de assumir a Presidência.
"Aí já está caminhando para um Estado de exceção. O STF vai ter que pagar para ver e aí vai ser ele contra nós", disse.
Em outro momento, completou: "Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não".
Eduardo divulga vídeo em que exalta ditadura
Em fevereiro deste ano, Eduardo divulgou o trailer de um documentário que defende a ditadura militar em suas redes sociais. O deputado publicou o trailer de "1964, o Brasil entre Armas e Livros", filme da produtora Brasil Paralelo que diz "resgatar a verdade sobre o período mais deturpado da nossa história".
Vídeo pró-ditadura no dia 31 de março
Já neste ano e sob a gestão de Bolsonaro, o Palácio do Planalto distribuiu um vídeo que fazia uma defesa da ditadura militar na data que marca o início do golpe de 1964, o dia 31 de março.
Segundo o material, o golpe foi um movimento para conter o avanço do comunismo no país —ameaça que é refutada por historiadores.
A peça foi distribuída por um número oficial de WhatsApp do Planalto, usado pela Secretaria de Comunicação da Presidência para o envio de mensagens de utilidade pública, notícias e serviços do governo federal.
Tortura sofrida por Miriam Leitão
Em café com jornalistas em julho deste ano, Bolsonaro desqualificou documentos oficiais e chamou de mentira os episódios de tortura a que a jornalista Miriam Leitão foi submetida no período da ditadura.
"Ela [Leitão] estava indo para a guerrilha do Araguaia quando foi presa em Vitória. E depois conta um drama todo, mentiroso, que teria sido torturada, sofreu abuso etc. Mentira, mentira", afirmou o presidente.
A Comissão da Verdade, no entanto, diz que Leitão foi vítima de tortura com animais, "incluindo a utilização de uma jiboia pela equipe de interrogatório do DOI-CODI do 1º Exército, comandada pelo coronel Paulo Malhães".
Bolsonaro ataca pai de presidente da OAB
Em agosto deste ano, ao criticar a atuação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na investigação sobre o ataque a faca sofrido por ele em 2018, Bolsonaro disse que poderia explicar a Felipe Santa Cruz, presidente da entidade, como o pai dele desapareceu no período da ditadura.
Bolsonaro chegou a declarar que Fernando Santa Cruz, opositor do regime militar, foi morto por um grupo de esquerda, o que não é verdade. Documentos oficiais apontam que Fernando foi vítima do Estado brasileiro.
Bolsonaro chama documentos oficiais sobre mortos de "balela"
Após os ataques à memória do pai do presidente da OAB, Bolsonaro ainda desqualificou os trabalhos feitos pela Comissão Nacional da Verdade, criada para analisar casos de mortes e desaparecimentos de pessoas durante a ditadura militar.
"Você acredita em Comissão da Verdade? Qual foi a composição? Os sete membros foram indicados por quem? Pela [ex-presidente] Dilma", afirmou Bolsonaro.
"Nós queremos desvendar crimes. A questão de 64, não existem documentos de matou, não matou, isso aí é balela", disse.
Em relatório concluído em 2014, a comissão identificou 434 mortos ou desaparecidos durante o período.
Bolsonaro recebe viúva e chama Ustra de "herói"
Na mesma época das declarações contra o pai do presidente da OAB, Bolsonaro recebeu a viúva de Ustra no Palácio do Planalto, em Brasília. Questionado sobre o encontro, o presidente disse que a viúva "tem histórias maravilhosas para contar" e chamou Ustra de "herói nacional".
Carlos e a impossibilidade de transformação por "vias democráticas"
Outro membro da família, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) declarou, em setembro deste ano, não ser possível conseguir, "por vias democráticas", a transformação que o Brasil quer na velocidade desejada.
"Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!", escreveu o vereador no Twitter.
A declaração repercutiu negativamente e, mais tarde, Carlos negou que estivesse defendendo a ditadura.
Eduardo e a repressão policial
Já nesta semana, em meio aos protestos que acontecem no Chile contra o alto custo de vida no país, Eduardo defendeu o uso da repressão policial caso o Brasil registre protestos como esses.
Em discurso no plenário da Câmara dos Deputados, Eduardo responsabilizou a esquerda pelos protestos e disse que "não vamos deixar isso aí vir para cá". Se vier para cá, vai ter que se ver com a polícia. E se eles começarem a radicalizar do lado de lá, a gente vai ver a história se repetir. Aí é que eu quero ver como a banda vai tocar", declarou.
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