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Lucro de Flávio em loja de chocolate indica que seu sócio é laranja, diz MP

Flávio diz que recebe maior lucro porque leva mais clientes para a loja do que o sócio - Mauro Pimentel/AFP
Flávio diz que recebe maior lucro porque leva mais clientes para a loja do que o sócio Imagem: Mauro Pimentel/AFP

Gabriel Sabóia, Igor Mello, Silvia Ribeiro e Eduardo Militão

Do UOL, no Rio e em Brasília

19/12/2019 19h04

Resumo da notícia

  • Flávio Bolsonaro possui uma loja de chocolates junto com sócio (50% para cada)
  • Mas, segundo o MP, o senador obteve R$ 500 mil a mais na divisão de lucros
  • Ministério Público diz que isso indica que o sócio é "laranja" na empresa
  • Para juiz, desproporção na divisão de lucros não é "usual"
  • Flávio justifica dizendo que leva mais clientes para a loja do que o sócio

O Ministério Público do Rio de Janeiro suspeita que o lucro do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) em sua loja de chocolates indica que seu sócio atuou como um laranja em esquema de lavagem de dinheiro. Ao analisar relatório dos promotores que investigam o chamado Caso Queiroz, o juiz da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, Flávio Itabaiana Nicolau, considerou que a divisão dos lucros entre Flávio e o sócio dele não é comum ou razoável.

"Não pode ser usual", comentou Itabaiana em decisão que autorizou 24 ordens de busca e apreensão, entre elas, a que atingiu ontem a loja de chocolates do senador no shopping Via Parque, na zona oeste carioca. "Está em desacordo com qualquer noção de razoabilidade", completou o magistrado.

Flávio possui uma franquia da cafeteria e chocolateria Kopenhagen em um shopping no Rio. Seu sócio Alexandre Santini possui 50% de participação. Santini e a própria empresa foram alvos ontem de busca e apreensão por ordem do juiz da 27ª Vara Criminal do Rio.

Segundo a Promotoria, a diferença de distribuição de lucros foi de R$ 500.236,01 entre 2015 e 2017 —no período, a empresa transferiu R$ 789 mil para Flávio e R$ 289 mil para Santini. Documentos mostram que a loja foi comprada pelos sócios por R$ 800 mil.

O juiz considerou estranha essa divisão de valores de forma não igualitária.

A desproporção na distribuição dos lucros em favor do investigado Flávio Bolsonaro não só não pode ser considerada usual, como também está em desacordo com qualquer noção de razoabilidade

Flávio Itabaiana Nicolau, juiz da 27ª Vara Criminal do Rio

Em um vídeo publicado na tarde de hoje em seu canal do YouTube, Flávio disse que recebe a maior parte dos lucros, porque atrai mais clientes para a loja. "Mas é óbvio que alguém tem dúvida que eu levo mais clientes para a loja do que ele?", justificou o senador, que definiu a desproporção na distribuição de lucros como "natural".

Mais cedo, a reportagem encaminhou pedidos de esclarecimentos à assessoria do parlamentar, mas não obteve retorno.

O UOL telefonou para Alexandre Santini, mas o sócio de Flávio não atendeu a reportagem. Foi enviada mensagem via WhatsApp ao empresário, mas ela ainda não foi respondida. Os esclarecimentos de Santini serão publicados se forem recebidos.

MP estima que R$ 1,6 mi possam ter sido lavados em loja

Para o Ministério Público, Fabrício Queiroz recolhia parte dos salários de assessores do gabinete de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) em suposto esquema de rachadinha. Os promotores suspeitam que parte desse dinheiro entrou na conta bancária da loja de chocolates do ex-deputado estadual e hoje senador a partir de depósitos em espécie.

O MP estima que, entre 2015 e 2018, R$ 1,6 milhão possam ter sido lavados na loja de chocolate.

Segundo a investigação, esses recursos saíam da empresa para os bolsos de Flávio sob a forma de uma fictícia divisão de lucros, que desrespeitava a participação societária do político e de Santini na empresa.

Para a Promotoria, "parte dos recursos desviados da Alerj, oriundos do esquema de 'rachadinhas', foi 'lavada' por meio da aquisição e do funcionamento do empreendimento comercial".

Além disso, havia um percentual considerado alto de depósitos em espécie na conta da loja. Para o Ministério Público, o estabelecimento funcionava como "conta de passagem". "Créditos espúrios retornaram a Flávio Bolsonaro travestidos sob a forma de distribuições de lucros fictícios", argumentaram os promotores no pedido de buscas feito à Justiça.