Com Libras e voluntariado, Michelle foge da sombra de Bolsonaro
Resumo da notícia
- Michelle Bolsonaro tem atuado ativamente em trabalhos sociais e voluntários
- Primeira-dama ajudou a lançar o projeto Libras Gov e o programa Pátria Voluntária
- Papel de mulheres de presidentes no Brasil ainda estão muito vinculados às causas sociais, diz socióloga
- Para professora, no entanto, Michelle também é vitrine importante da política de costumes conservadores de Bolsonaro
Ela quebrou o protocolo e discursou em Libras (Língua Brasileira de Sinais) na posse de Jair Bolsonaro (sem partido). Um ano depois, Michelle Bolsonaro tem mostrado ser uma primeira-dama disposta a extrapolar a órbita do marido.
Ao longo de 2019, Michelle ajudou a lançar o projeto Libras Gov, que criará sinais em Libras para pessoas, cargos e funções ligados aos Três Poderes, e o programa Pátria Voluntária, de incentivo ao trabalho voluntário no país. Nesses eventos, discursou no salão nobre do Planalto junto a grupos de crianças e organizações de ajuda a pessoas com deficiência.
Antes de Bolsonaro se tornar presidente, ela já era engajada na área da linguagem de sinais e intérprete de Libras na Igreja Batista Atitude, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Agora como primeira-dama, Michelle, que tem familiares surdos, ganhou espaço para ampliar a visibilidade do assunto.
Neste ano, a primeira-dama também trabalhou de forma conjunta com os ministérios da Cidadania e da Saúde em prol de projetos voltados à primeira infância. Um deles foi o Criança Feliz, que contou com sua antecessora no posto, Marcela Temer, como embaixadora informal.
Michelle ainda esteve na Câmara dos Deputados mais de uma vez em 2019 para eventos relacionados a pessoas com deficiência, como microcefalia, e doenças raras.
"Quero dedicar os meus esforços de conscientização não só a todas as pessoas afetadas por enfermidades raras, mas também aos agentes de saúde, às instituições sociais e aos familiares que corajosamente todos os dias lutando pelo avanço desta causa. Contem com o meu apoio, pois essa é a minha luta", disse no plenário da Casa, em fevereiro.
No início de setembro, após a história de um menino autista de dois anos que deixou de ser convidado para a festa de um amigo por ser "meio problemático" correr o Brasil, Michelle participou de festa especialmente para ele promovida no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Jair Bolsonaro, a ministra da pasta, Damares Alves, e o ministro da Cidadania, Osmar Terra, também estiveram presentes.
Vitrine de costumes conservadores
Na opinião da socióloga Débora Messenberg Guimarães, professora doutora da Universidade de Brasília, além da defesa de surdos e outras pessoas com deficiências, Michelle Bolsonaro serve como vitrine importante da política de costumes conservadores defendida pelo atual presidente da República.
"Existe um movimento conservador que ganhou espaço com a eleição do Bolsonaro, principalmente em relação aos evangélicos [...] Então, a expectativa é que o trabalho da Michelle cresça por ser uma referência importante para essa parcela da população", afirma.
Em agosto, Bolsonaro afirmou descartar que Michelle atue oficialmente como embaixadora de algum programa do governo federal por medo de que ela possa ser criticada. "Porque vai ter falatório, fuxico", disse.
No sábado (21), em balanço de 2019 com jornalistas na beira da piscina do Palácio da Alvorada, o presidente disse gostar que Michelle não fique falando de política em casa, porque seria "uma continuação do que acontece na Presidência" e ficaria "chato".
"Algumas coisas ela fala aqui têm a ver com a área dela. A questão das pessoas com deficiência etc. Agora, ela tem uma vida presa em casa. [Ela puxa a orelha] do ritmo de trabalho quando trago gente para conversar em casa sábado e domingo", revelou.
Ainda assim, Bolsonaro já declarou em diferentes oportunidades ouvir a opinião da mulher ao tomar decisões importantes e atribui a ela o fato de ter mantido a pensão para deficientes intelectuais com grau leve ou moderado em caso de morte dos pais no texto da reforma da Previdência.
Cuidado ainda é relacionado ao feminino
Apesar de não terem vínculo com o governo, muito menos serem obrigadas a colaborar com a gestão do marido, historicamente, as primeiras-damas brasileiras se vincularam ao voluntariado e causas sociais.
A socióloga Débora Messenberg Guimarães afirma que o histórico de filantropia está diretamente relacionado ao cuidado como prerrogativa do feminino na cultura ocidental.
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Segundo ela, esse papel continua a ser reforçado pelas últimas primeiras-damas, embora não tenham nenhuma função institucional - "é uma condição", diz -, com exceção de Ruth Cardoso, antropóloga, professora universitária e pesquisadora, morta em 2008.
Ela [Ruth] tinha uma profissão antes de virar primeira-dama. Em termos acadêmicos, tinha um prestígio maior do que o próprio marido. Ela tinha projeção internacional e quis demarcar que sua contribuição seria por uma via intelectual e política de projetos sociais, mas sem caridade
Débora Messenberg Guimarães, socióloga da Universidade de Brasília
A socióloga destaca a vontade de primeiras-damas no exterior de não se aterem mais a esse papel, como nos Estados Unidos com Michelle Obama e Hillary Clinton. Ambas têm perfil mais intelectual e político.
A primeira, advogada, lançou um livro que virou best-seller e ganha dinheiro com palestras. A segunda já trabalhou como secretária de Estado norte-americana e ficou em segundo lugar nas últimas eleições presidenciais do país, atrás do eleito Donald Trump após campanha acirrada.
"Depende da construção social e da formação de cada uma. Elas ganharam espaços pela própria competência", afirma Débora.
1 milhão de seguidores
No Instagram, a primeira-dama brasileira criou perfil oficial onde compartilha fotos do dia a dia, atividades ligadas ao governo e vídeos para campanhas de conscientização. Idas a instituições de caridade, de apoio social e a hospitais fazem parte da rotina divulgada.
Atualmente, Michelle conta com 1 milhão de seguidores. Em agosto, surpreendeu ao postar lingeries que ganhou de presente nos Stories, onde as imagens ficam um dia no ar e depois são apagadas
Procurada pela reportagem, por meio da Presidência, Michelle Bolsonaro não se manifestou sobre seu trabalho ao longo do ano
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