Em meio à crise da água, Cedae tem indicações políticas de Pastor Everaldo
Apoiador de primeira hora do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), na decisão de abandonar a magistratura e entrar na política, o presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, é apontado atualmente como o nome mais forte do governo fluminense na Cedae, em meio à crise hídrica que tem levado água com sabor, cheiro e coloração alterados às casas da capital e cidades da baixada.
Everaldo teria sido responsável por indicações políticas estratégicas na Cedae —entre elas, a do atual presidente da empresa, Hélio Cabral— e teria influência direta sobre as 54 demissões de comissionados, entre engenheiros e técnicos, ao longo do último ano. Entre os desligados, estão 39 engenheiros que faziam o controle de qualidade da água distribuída pela companhia.
Ex-candidato à Presidência da República e ao Senado, o pastor da Assembleia de Deus sempre obteve números inexpressivos em eleições majoritárias, mas se destaca em articulações políticas —ao lançar Witzel como candidato em 2018, apostou em um outsider e na proposta de construir uma "nova política".
Pouco mais de um ano depois, seu nome é associado ao loteamento de cargos em órgãos públicos, prática antiga no governo fluminense e que já levou dez deputados à cadeia em 2018 durante a Operação Furna da Onça.
Questionado pela reportagem Everaldo negou a prática. "Nunca liguei para o presidente da Cedae e nem ele para mim. Não tenho nem o telefone dele. Pode abrir meu sigilo telefônico para confirmar essa informação", afirmou.
Cedae x interesses partidários
Sociedade de economia mista, a Cedae foi vista, nas últimas décadas, como um dos principais "oásis" para manobras de interesse partidário no governo do estado. O motivo não é difícil de entender: dos 5.800 funcionários, estima-se que 1.100 sejam comissionados por nomeações. Lucrativa, a empresa teve rendimento estimado em R$ 800 milhões com serviços de saneamento no último ano.
Além da nomeação de Hélio Cabral para a presidência, Everaldo teria agido nos bastidores para conseguir o desligamento dos profissionais de confiança do secretário de Desenvolvimento Econômico e Energia e Relações Internacionais, Lucas Tristão. A influência do secretário sobre as decisões de Witzel teria sido motivo de desentendimentos entre os dois e, por isso, as demissões teriam sido uma prova de força nos bastidores do Palácio Guanabara, segundo afirmaram ao UOL alguns dos desligados.
Em entrevista à imprensa ontem, Hélio Cabral negou o apadrinhamento político do Pastor Everaldo e afirmou que os desligamentos foram feitos por causa da política de austeridade posta em prática. "Eram funcionários que ganhavam até R$ 60 mil, que não cabiam na nossa estrutura, mas que foram substituídos por outros que ganhavam remunerações compatíveis com o mercado", afirmou.
Witzel declara fidelidade incondicional ao presidente do PSC e à legenda pela qual pretende se candidatar à Presidência da República em 2022. Em dezembro, ele negou boatos de que poderia sair do partido. "Fico no PSC, sim. Qualquer coisa que tenha sido ventilada até o momento é pura fofoca", disse na ocasião.
Na mira da privatização há décadas, a venda das ações da Cedae voltou com força ao debate em 2016. Em meio à crise financeira que atingia o Rio, o processo chegou a ser aprovado pela Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) como contrapartida para o RRF (Regime de Recuperação Fiscal). Uma emenda, no entanto, travou o projeto no ano seguinte.
RJ tem água turva há ao menos dez dias
De acordo com a Cedae, o problema relativo à qualidade da água se deve à presença já confirmada de geosmina em amostras coletadas. Esta é uma substância orgânica produzida por um tipo de alga. Especialistas relacionam a presença da geosmina à falta de tratamento de esgoto lançado em rios que compõem a bacia do Guandu.
Ontem, docentes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) afirmaram que há riscos à saúde da população no produto fornecido pela empresa.
"Há uma evidente degradação ambiental dos mananciais que são utilizados para o abastecimento público da região metropolitana do Rio", afirmou a universidade através de nota divulgada pela Reitoria. "Essa degradação compromete a qualidade da água, dificulta seu tratamento e pode colocar em risco a população", completa o comunicado.
Ontem, o presidente da Cedae pediu desculpas à população pelos transtornos. De acordo com ele, a partir da semana que vem, o reservatório do Guandu terá uma etapa extra de tratamento da água com carvão ativado que retira da água a geosmina.
Segundo a companhia, a substância não faz mal à saúde. Cabral admitiu, no entanto, que não sabe o que poderia estar causando a turbidez da água que chega à população —a geosmina não causa turbidez. "Isso terá que ser investigado."
Questionado, Cabral não estipulou prazo para que a crise no abastecimento seja resolvida. A extensão do problema e o número de domicílios afetados também não foram informados.
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