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"PT solidário com Glenn", diz Gleisi; Eduardo Bolsonaro fala em cadeia

2.set.2019 - O jornalista Glenn Greenwald no programa Roda Viva - Ronaldo Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo
2.set.2019 - O jornalista Glenn Greenwald no programa Roda Viva Imagem: Ronaldo Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

21/01/2020 13h19Atualizada em 21/01/2020 17h23

A presidente do PT, Gleisi Hoffman, saiu em defesa de Glenn Greenwald, hoje, nas redes sociais. O MPF (Ministério Público Federal) em Brasília denunciou o jornalista do The Intercept e mais seis pessoas por crimes relacionados à invasão de celulares de autoridades brasileiras no âmbito da Operação Spoofing.

"MP abusa do poder para se vingar de Glenn Greenwald, que denunciou crimes da Lava Jato e parcialidade de [Sergio] Moro contra Lula. Querem estado policial, com mais farsas, ilegalidades e arbitrariedades. PT solidário com Glenn, em defesa da liberdade de imprensa", tuitou a deputada federal.

Também na rede social, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou apoio ao jornalista do The Intercept. "Minha solidariedade ao jornalista Glenn Greenwald, vítima de mais um evidente abuso de autoridade contra a liberdade de imprensa e a democracia", escreveu.

Outra personalidade da política a se manifestar, mas atacando Glenn foi Eduardo Bolsonaro, deputado e filho do presidente Jair Bolsonaro — ambos críticos do jornalista.

"Glenn Greenwald sempre disse que adorava o Brasil e queria conhecer o país a fundo. Quem sabe agora vai conhecer até a cadeia... talvez jogar futebol com o [Marcelo] Freixo...", tuitou Eduardo Bolsonaro.

Já Ciro Gomes criticou o MPF: "Sem pé nem cabeça esta denúncia contra o jornalista Glenn Greenwald. O jornalismo é tarefa essencial à democracia e às liberdades individuais e públicas. O que Glenn fez foi o mais genuíno jornalismo. Abusa - e muito - o membro do Ministério Público que avança no constrangimento ilegal à liberdade de informação protegida pela Constituição Federal. Repudio com toda veemência esta atitude descabida", disse o ex-governador, no Facebook.

"Só o bolsonarismo boçal explica a motivação deste cidadão que deslustra o Ministério Público Federal e compromete a boa imagem que a instituição deve merecer junto à nação. Que os tribunais façam cessar este abuso o quanto antes", concluiu Ciro Gomes.

O deputado Marco Feliciano ironizou, no Twitter: "Não adianta sair correndo para se esconder na embaixada americana, pois Tio Trump te espera lá!"

Na denúncia são apontadas a prática de organização criminosa, lavagem de dinheiro, bem como as interceptações telefônicas engendradas pelos investigados. Para o MPF, embora Greenwald não seja investigado nem indiciado, ficou comprovado que ele auxiliou, incentivou e orientou o grupo durante o período das invasões.

De acordo com a denúncia, assinada pelo procurador da República Wellington Divino de Oliveira, o grupo praticava crimes cibernéticos por meio de três frentes: fraudes bancárias, invasão de dispositivos informáticos (por exemplo, celulares) e lavagem de dinheiro.

A denúncia não detalha os crimes de fraudes bancárias. Uma nova ação penal deverá ser apresentada posteriormente para tratar desses crimes, segundo o MPF.

A Operação Spoofing pede a condenação dos acusados. Com exceção de Greenwald, todos os outros denunciados responderão pelo crime de lavagem de dinheiro.

Glenn fala o que faria se descobrisse que o hacker recebeu dinheiro

UOL Notícias

Conversa entre Greenwald e hacker

O MPF afirma que decidiu incluir Greenwald na denúncia após análise de um MacBook apreendido com autorização da Justiça na casa de um dos investigados na operação Spoofing. No aparelho foi encontrado um áudio de um diálogo entre o jornalista e um suposto hacker.

A conversa, segundo a denúncia, teria acontecido logo após a divulgação, pela imprensa, da invasão sofrida pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

No áudio, segundo o MPF, o hacker diz que as invasões e o monitoramento das comunicações telefônicas ainda eram realizadas e pede orientações ao jornalista sobre a possibilidade de "baixar" o conteúdo de contas do Telegram de outras pessoas antes da publicação das reportagens pelo site The Intercept.

O jornalista, então, teria recomendado ao hacker apagar as mensagens que já haviam sido repassadas a ele de forma a não ligá-los ao material ilícito, "caracterizando clara conduta de participação auxiliar no delito, buscando subverter a ideia de proteção a fonte jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos".

"Greenwald, diferentemente da tese por ele apresentada, recebeu o material de origem ilícita, enquanto a organização criminosa ainda praticava os crimes", diz a denúncia.

O UOL procurou Glenn Greenwald sobre a acusação, mas ele ainda não se manifestou. Assim que o fizer, a manifestação do jornalista será incluída na reportagem.

O MPF disse, ainda, que o jornalista não era alvo das investigações, em respeito à medida cautelar proferida pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, que proibiu investigações contra Greenwald. Uma cópia da denúncia será encaminhada à Procuradoria-Geral da República para que subsidie eventual pedido de revogação da decisão do ministro.

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