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Em encontro com papa hoje, Lula quer debater redução da fome e desigualdade

17.jan.2020 - Reunião do diretório nacional do PT, com a presença de Lula e Dilma - Zanone Fraissat/Folhapress
17.jan.2020 - Reunião do diretório nacional do PT, com a presença de Lula e Dilma Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

13/02/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Lula se encontra hoje com papa Francisco no Vaticano
  • O ex-presidente deve propor discussões sobre desigualdade e redução da fome
  • Encontro mediado pelo presidente argentino foi proposto pelo pontífice
  • Justiça de Brasília adiou audiência de Lula e viabilizou viagem

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne hoje, no Vaticano, com o papa Francisco. Segundo apurou o UOL com fonte ligada ao partido, Lula deve propor conversas relacionadas a temas como a redução da fome e da desigualdade. Até a noite de ontem, o horário do encontro não havia sido confirmado.

Na última semana, o petista já havia revelado, por meio das suas redes sociais, que gostaria de debater "a experiência brasileira no combate à miséria". O teor da conversa, no entanto, conforme apurou o UOL, deve ser conduzido por Francisco, posto que partiu do pontífice o convite para o encontro.

Há, ainda, especulações de que o lawfare, termo que indica a ocorrência de disputas políticas travadas por meio do Judiciário, esteja na pauta.

A reunião entre Lula e Francisco só foi possível após uma decisão da Justiça Federal do DF, que adiou um depoimento que o ex-presidente iria conceder no âmbito da Operação Zelotes — inicialmente marcado para o último dia 11, data de sua viagem à Europa.

O juiz Ricardo Augusto Soares Leite autorizou, e a audiência foi remarcada para o dia 19. Lula retorna ao Brasil no sábado (15).

O encontro foi intermediado pelo recém-eleito presidente da Argentina, Alberto Fernández. No final de janeiro, os dois se encontraram e conversaram por quase uma hora.
Não se sabe, por exemplo, se Lula e Francisco conversarão sobre a Amazônia -- o bioma tem sido pauta recorrente dentro da Igreja Católica e foi o tema central do Sínodo da Amazônia, realizado em outubro passado.

O Sínodo especial (tipo deste evento que trata de uma região específica) foi anunciado em 2017 por Francisco. A reunião serve como ferramenta para o papa consultar e observar debates sobre o tema a fim de elaborar um material para dar diretrizes ao clero.

Ontem, o papa publicou uma "exortação" (espécie de documento onde orienta os fiéis) no site do Vaticano citando o documento "Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral", elaborado após o encontro.

"O nosso é o sonho duma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes para poderem consolidar o "bem viver". (...) Pois, apesar do desastre ecológico que a Amazônia está a enfrentar, deve-se notar que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres", diz um trecho do primeiro capítulo da exortação, chamada pelo papa de "Querida Amazônia".

No texto, o papa também critica governos que se arvoram em argumentos como o de "não entregar a Amazônia".

"Para aumentar esta confusão, contribuíram alguns slogans, nomeadamente o de "não entregar", como se a citada sujeição fosse provocada apenas por países estrangeiros, quando os próprios poderes locais, com a desculpa do progresso, fizeram parte de alianças com o objetivo de devastar, de maneira impune e indiscriminada, a floresta com as formas de vida que abriga", escreve Francisco.

Troca de cartas

Em abril passado, poucos dias antes de completar um ano encarcerado na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, o ex-presidente Lula escreveu uma carta ao papa Francisco onde afirmava estar "lutando por sua inocência".

"Estou preso porque os poderosos querem destruir toda a rede de proteção e cuidado que construímos para os excluídos", escreveu Lula no dia 5 de abril de 2019, terminando o texto com "gostaria de contar com seu apoio e amizade, reze por mim".

Cerca de um mês depois, Francisco respondeu à carta do ex-presidente. Nela, citou um discurso que fez no primeiro dia daquele ano, no qual afirmou que a política deve ser ferramenta para "criar condições de um futuro digno e justo".

"Tendo presente as duras provas que o senhor viveu ultimamente, especialmente a perda de alguns entes queridos — sua esposa Maria Letícia, seu irmão Genival Inácio, e mais recentemente, seu neto Arthur de somente 7 anos — quero lhe manifestar minha proximidade espiritual e lhe encorajar pedindo para não desanimar e continuar confiando em Deus", escreveu o papa Francisco.