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Bolsonaristas anunciam pedido de impeachment de Witzel por grampos na Alerj

O governador Wilson Witzel -
O governador Wilson Witzel

Gabriel Sabóia e Igor Mello

Do UOL, no Rio

18/02/2020 15h58Atualizada em 18/02/2020 20h34

Sete deputados bolsonaristas do PSL na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) protocolaram hoje um pedido de impeachment contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), por conta das suspeitas de uso de grampos ilegais para a elaboração de dossiês contra parlamentares da Casa Legislativa.

A iniciativa foi anunciada em plenário pelo deputado Dr. Serginho, líder do PSL na Alerj. Segundo ele, é preciso "investigação clara e rígida da intimidação do governo ao parlamento estadual". Ele também afirmou que o caso será denunciado à Polícia Federal e ao Ministério da Justiça. O caso envolvendo supostos grampos e dossiês foi remetido pelo presidente da Alerj, André Ceciliano (PT-RJ), ao MP-RJ (Ministério Público do Rio).

Além de Dr. Serginho, toda a bancada bolsonarista do PSL apoiou a medida. São coautores do pedido de impeachment os deputados Alana Passos, Anderson Moraes, Fernando Salema, Renato Zaca, Filippe Poubel e Márcio Gualberto.

Ontem, em sessão extraordinária, a Comissão de Segurança Pública da Alerj decidiu convocar o secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, Lucas Tristão, a prestar esclarecimentos. Ele é apontado pelos deputados como o articulador da elaboração de dossiês contra parlamentares.

A crise envolvendo os supostos grampos ilegais contra parlamentares começou no dia 8 de fevereiro, quando o presidente da Alerj publicou no Diário Oficial do Estado um pedido formal de esclarecimentos de Witzel a respeito das escutas ilegais.

Segundo ele, Tristão teria afirmado abertamente estar de posse de dossiês: "Vamos investigar o secretário Lucas Tristão, que disse que tem um dossiê contra os 70 deputados. Eu tenho testemunhas", afirmou Ceciliano em plenário na semana passada.

Como presidente da Alerj, Ceciliano tem a prerrogativa de decidir se dá seguimento ou arquiva o pedido de impeachment de Witzel. Em dezembro de 2018, a Assembleia chegou a abrir um processo semelhante contra Luiz Fernando Pezão (MDB), que havia sido preso dias antes. No entanto, o mandato do emedebista acabou antes o rito do processo tivesse sido definido.

A assessoria de Witzel afirmou, por meio de nota, que o pedido de impeachment é uma "uma manobra política, baseada em boatos infundados e que não condizem com os fatos".

"É pura irresponsabilidade política, num momento em que o estado do Rio de Janeiro e o país precisam de diálogo democrático, sobriedade e da união entre os Poderes para seguir avançando na redução da criminalidade e nos projetos de segurança pública, saúde, emprego e educação", disse a asessoria.

Bolsonaro como testemunha

Na fundamentação do pedido, os parlamentares acusam Witzel de estar obstruindo o trabalho do Poder Legislativo por meio de coação aos parlamentares.

Os parlamentares do PSL também acusam Witzel de utilizar o cargo para ter acesso a informações sensíveis e fazer vazamentos seletivos de informações sigilosas. Para isso, citam a polêmica envolvendo a divulgação de depoimentos de um porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, onde o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) morava até assumir o cargo.

Por isso, arrolaram Bolsonaro como uma das cinco testemunhas indicadas durante o processo. Também foram sugeridos os depoimentos de Tristão, Ceciliano, do deputado Márcio Pacheco (PSC-RJ), líder do governo na Alerj, e do delegado Marcus Vinícius Braga, secretário de Polícia Civil.

Em duas oitivas, cujo teor foi divulgado pela TV Globo, o porteiro afirmou ter ouvido a voz de "seu Jair" ao pedir autorização para liberar a entrada do ex-PM Élcio de Queiroz, um dos acusados pela morte da vereadora Marielle Franco, no dia do crime.

Segundo o MP-RJ, Élcio foi se encontrar com o policial reformado Ronnie Lessa, o outro acusado pelas mortes de Marielle e do motorista Anderson Gomes. Eles deixaram o local para cometer o crime, segundo as investigações.

Perícias do MP-RJ e da Polícia Civil concluíram que a voz que autoriza a entrada de Élcio de Queiroz era de Ronnie Lessa, e não de Bolsonaro.

Witzel sempre negou acusação de Bolsonaro de manipulação e vazamento dessas investigações. O governador também ameaçou ir à Justiça contra o presidente em razão das declarações.