'Precisa sentar na cadeira e assumir o controle', diz Maia sobre Bolsonaro
Na noite de ontem, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, criticou em seu Twitter o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de encorajar e participar das manifestações que ocorreram ontem.
Maia ainda pontuou que Bolsonaro deveria coordenar um gabinete de crise para dar respostas ao país o mais rápido possível "mas, pelo visto, ele [o presidente] está mais preocupado em assistir às manifestações que atentam contra as instituições e a saúde da população".
No entanto, esse não foi o único momento que Maia comentou sobre as atitudes do governo diante da pandemia do coronavírus. Em entrevista ao Valor, o presidente da Câmara, exigiu que Jair Bolsonaro assumisse a "cadeira de piloto" para a função que foi eleito e comentou como a Câmara pode ajudar neste papel.
"Por mais que o que ocorreu hoje [domingo] seja gravíssimo, nós temos que ter paciência para dizer o seguinte: nós precisamos do piloto do avião no lugar correto. Nós não podemos repetir o filme "Apertem os cintos que o piloto sumiu". Nós precisamos do presidente da República na cadeira de piloto. Essa é a cadeira para a qual ele foi eleito. Comandar o Brasil na crise, esse é o papel do presidente e só ele pode comandar o país nesta crise", disse Maia.
Maia ainda ressaltou que o país já tem muito problema e que se depender da Câmara ou do Senado, não terá um aprofundamento da crise. "Nós precisamos que o presidente sente na cadeira de presidente da República. O piloto do avião precisa sentar na cadeira e assumir o controle. Não pode transferir isso para o ministro da Economia nem para o ministro da Saúde nem para o ministro da Infraestrutura. A responsabilidade é dele. Não há delegação de poder no sistema presidencialista. O poder é dele, ele precisa exercê-lo e é isso que nós estamos aguardando".
Quanto aos pedidos de Jair Bolsonaro para permanecer no poder, Maia disse que não vê ninguém tentando tirar o presidente do seu cargo e que o desejo é superar a 'crise de saúde pública, social e econômica do coronavírus'. "Essa agenda de "me ajudem a ficar aqui" é uma agenda diversionista. Queremos que ele sente na cadeira do piloto e comande esse grande avião que é o nosso país, que tem problemas e precisa de um presidente que assuma suas responsabilidades em harmonia com os outros Poderes", comentou.
Ao que diz respeito a agenda do poder Executivo, o presidente da Câmara comentou que, com o momento visto há três semanas, ela foi alterada. Ele ainda pontuou que é necessário que a reação à pandemia precisa ser bem organizada pelo governo ou causará aumento do desemprego e da pobreza no país.
"O que a gente espera é que o governo possa se organizar não apenas na saúde, mas tomar decisões para que o impacto em alguns setores seja minimizado. O que vai acontecer no setor de serviços, entretenimento? O setor de aviação, o de turismo? Alguns setores já estão dando férias coletivas ou demitindo".
Ao ser questionado sobre a participação de Jair Bolsonaro na manifestação, Maia falou que é necessário que, em momentos como este, os poderes precisam trabalhar em conjunto para que a crise seja reduzida. E pontuou que a atitude do presidente de participar da manifestação foi uma "demonstração de total irresponsabilidade".
"Primeiro minimizou demais, depois chegou perto do coronavírus e no dia de domingo deu uma demonstração de total irresponsabilidade em relação a milhões de brasileiros. Mais do que isso: mandou um sinal desautorizando o seu próprio ministro da Saúde e sua equipe, quando recebeu uma orientação dela. Fez uma gravação junto com o ministro dizendo que não pode haver aglomerações e dois dias depois desautoriza a própria equipe da pasta".
Apesar das duras críticas ao posicionamento do presidente, Maia explicou que o Congresso não irá reagir às atitudes de Bolsonaro e que, no momento, a prioridade é cuidar das vidas 'em jogo' devido à pandemia da covid-19.
"Vamos tratar da política depois. Tenho certeza que o Senado e a Câmara dos Deputados não serão instrumento para nenhuma crise institucional, mas nós queremos e chegamos ao ponto de exigir que o governo comande o Brasil de forma definitiva e coordene os trabalhos em harmonia com os outros Poderes, para que todos nós possamos dar a nossa contribuição", comentou.
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