Doria critica Bolsonaro: 'Será que um único presidente é o certo?'
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), voltou a criticar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O político tucano abriu a entrevista coletiva de hoje questionando a postura do chefe do Executivo, que é contra o isolamento social mais rígido. A declaração foi feita durante o anúncio da prorrogação da quarentena contra o coronavírus até o dia 22 de abril.
"No Brasil, quero lembrar, defendem o isolamento o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Justiça, Sergio Moro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, o centro de estudos do Exército, e a maioria absoluta de médicos e cientistas. Será que todos eles estão errados? Será que a ciência mundial está errada? Será que ministro e secretários de 56 países do mundo estão todos errados? Será que um único presidente no mundo é o certo? É quem tem o poder, ciência e conhecimento para discordar do mundo que quer proteger vidas e salvar pessoas?", disse Doria.
O governador de São Paulo foi firme ao questionar se as pessoas que defendem o fim da quarentena estão prontas para enterrar as vítimas do coronavírus. Ele chegou a usar frases do economista Joseph Stiglitz e do Papa Francisco para defender a decisão de aumentar o período de isolamento social.
"Um dos mais renomados economistas do mundo, Joseph Stiglitz, concedeu uma brilhante entrevista a um jornal de são Paulo. Ele disse: a economia será devastada se não salvarmos as pessoas. Esta é a palavra do prêmio Nobel de economia. Será que ele também está errado? Lucros podem esperar, a vida vem antes do lucro. Dinheiro tem que servir, não governar. As palavras são do Papa Francisco. Aqueles que incentivam a vida normal, que pressionam o prefeito da capital, que me pressionam para que possamos agir contra os nossos princípios, a eles eu pergunto: vocês estão preparados para assinar os atestados de óbitos? Vocês estão preparados para carregar os caixões com as vítimas do coronavírus? Vocês, que defendem a abertura, aglomerações, que minimizam a crise, vão enterrar as vítimas?", questionou,
Doria também afirmou que o governo estadual vai seguir tomando decisões baseado na ciência e não em "achismos".
"Quero também dizer que não pauto minhas ações por populismo, mas por ciência. Todas as medidas são amparadas na ciência, naqueles que conhecem. Não fazemos 'achismos' e nem medidas que não estejam amparadas na informação científica. Saber ouvir é tão importante quanto falar. É preciso saber ouvir em tempos que, sobretudo, alguns querem impor suas verdades e ameaçam aqueles que têm posição contrária. Num momento de crise, é o momento que você tem que ouvir a palavra da ciência, dos médicos, daqueles que conhecem, e se afastar de quem prega o ódio", afirmou.
Quarentena virou questão política
O distanciamento social se tornou tema de disputa política com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendendo a volta ao trabalho de pessoas que não estão em grupos de risco e os governadores pedindo para a população ficar em casa. Doria se transformou no principal expoente do distanciamento social e contraponto ao Planalto.
O atrito entre os dois polos ficou evidente em uma reunião com governadores, Bolsonaro se dirigiu aos berros a Doria, que foi acusado de tentar tirar proveito eleitoral da situação. O presidente falou que as eleições para presidente serão somente em 2022. O argumento do Planalto é que o isolamento social levará ao desemprego e a ruína econômica causaria mais mortes do que o coronavírus.
Bolsonaro teve uma série de atitudes para demonstrar que era contra o distanciamento social e incentivar as pessoas a voltarem às ruas. O governo federal chegou a contratar uma empresa de publicidade para montar um vídeo. Carretas de apoiadores do presidente foram realizadas pelo país. Bolsonaro também saiu de casa e chegou a ir a uma feira em Brasília e chamou a doença de gripezinha em um pronunciamento, o que aumentou panelaços que estavam acontecendo em várias cidades do Brasil.
Na coletiva desta segunda-feira, foi a vez de Doria atacar, Sem citar o nome de Bolsonaro, mas acusou pessoas que são contra o distanciamento social de serem contra a ciência de ter pensamento "torpe e medíocre".
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