Justiça tem conduzido monitoramento via celular com equilíbrio, diz AMB
O monitoramento de dados de telefones celulares durante as medidas de isolamento referentes à pandemia do novo coronavírus é uma medida necessária para a defesa de valores coletivos, embora não seja uma medida desejável - e a Justiça tem se mostrado parcimoniosa na questão.
É o que defendeu hoje Renata Gil, presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), no programa UOL Debate. Para a juíza do Rio de Janeiro, a medida não é ideal, mas é válida em situações como a atual.
"A gente teve uma decisão recente de um magistrado de São Paulo deferindo essas medidas, e isso vem ao encontro do que aconteceu na China", alegou. Segundo Renata, trata-se de um "embate de valores individuais, essa proteção e valor da coletividade".
A questão foi trazida à tona no UOL Debate de hoje, que discutiu os desafios de governantes no enfrentamento à pandemia. O programa reuniu ainda Flávio Dino (PcdoB), governador do Maranhão; Helder Barbalho (MDB), governador do Pará; Ubiratan Sanderson (PSL-RS), deputado federal; e Julio Croda, médico infectologista da Fiocruz.
"Esse monitoramento também via celular, que é hoje um aparelho que todas as pessoas praticamente usam, é importante", disse a magistrada. "Acho que a Justiça tem caminhado no sentido de garantir que autoridades públicas usem recursos tecnológicos para evitar que o vírus se alastre", avaliou.
A avaliação é semelhante à de Flávio Dino, que lembrou que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) já usa dados da população brasileira para pesquisas. A questão do instituto será debatida no STF (Supremo Tribunal Federal), o que indiretamente, segundo Dino, deve dar aval também ao monitoramento de celulares.
"Há uma autorização legal para que o IBGE utilize dados de toda a população brasileira para todas as suas pesquisas, inclusive dados individualizados. Houve ações diretas de inconstitucionalidade, partidos e OAB. Então isso acaba tendo importância muito alta para o cenário seguinte à fase mais aguda da pandemia", analisou o governador do Maranhão.
"Quando examinar se o IBGE pode usar dados de celulares, vai examinar limites da privacidade e políticas públicas. É o que teremos que fazer para distinguir zona legítima, do uso dos dados agregados", acrescentou, indo além.
"Temos que levar em conta que estamos em circunstância excepcional, em que o uso restritivo pode e deve ser feito em nome da saúde coletiva para evitar um dano maior como a eternização das medidas de isolamento social."
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