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"Moro provocou PGR a tomar medidas", diz presidente de fórum de segurança

Presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima - Karime Xavier/Folhapress
Presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima Imagem: Karime Xavier/Folhapress

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

24/04/2020 12h44

Ao deixar o cargo revelando crimes de responsabilidade supostamente praticados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), segundo juristas renomados do país, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro provocou a PGR (Procuradoria-Geral da República) a se mexer. A avaliação é de Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

"Moro provocou o procurador-geral da República [Augusto Aras] a tomar medidas sobre as graves denúncias feitas de falsidade ideológica na assinatura da demissão do diretor-geral da PF e na tentativa de obter informações privilegiadas", afirmou Renato Sérgio de Lima ao UOL.

Para o pesquisador, tido como um dos principais especialistas de segurança pública do Brasil, "a grande contribuição do ex-ministro Sergio Moro para o país foi escancarar os motivos de sua demissão. Para a segurança pública, sua gestão não foi muito diferente das anteriores e não avançou na construção da reforma das polícias necessárias ao combate à violência e tão desejadas por elas próprias", avaliou.

Moro deixou o cargo após Bolsonaro definir que trocaria a direção e a superintendência da Polícia Federal. Rafael Alcadipani, professor de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e pesquisador de segurança pública renomado, complementou que houve "uma tentativa de ingerência nítida, clara na Polícia Federal. O Moro tentou segurar para que não houvesse ingerência, mas o Bolsonaro demonstrou querer ingerir no trabalho da Polícia Federal".

"O Moro fez bem de sair. Isso é inaceitável. Não é possível que, nesse momento, a Polícia Federal sofra ingerência do presidente da república. Em termo de combate à corrupção, o Moro sai maior ao se desvincilhar. E Bolsonaro vai ter muita dificuldade de se manter no governo com essa situação", complementou.

"PF subordinada aos interesses de Bolsonaro"

Mauricio Stegemann Dieter, professor de Criminologia e Direito Penal da USP, afirmou ao UOL que, ao trocar a diretoria da PF, "oficialmente, em não pouca medida, a corporação fica diretamente subordinada aos interesses da família Bolsonaro. Há pouca dúvida quanto a isso e o primeiro a afirmá-lo foi o próprio ex-juiz-Ministro".

"A instituição, contudo, ainda tem muitos quadros resistentes à mera direção política de suas atividades, e vai oferecer resistência. O governo perde seu principal nome, que emprestava ao governo alguma aparência de moralidade, legalidade", avalia o professor.

Ainda de acordo com o professor da USP, "agora, nesse nível mínimo de 'decência' de seu primeiro escalão, só restou Paulo Guedes, que, se for minimamente inteligente, também vai abandonar esse Titanic".