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Moro quer vídeo liberado e diz que ele era alvo das cobranças de Bolsonaro

Defesa do ex-ministro diz que não há nenhum "segredo de Estado" na reunião - ADRIANO MACHADO
Defesa do ex-ministro diz que não há nenhum "segredo de Estado" na reunião Imagem: ADRIANO MACHADO

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

13/05/2020 14h14Atualizada em 13/05/2020 15h54

A defesa do ex-ministro da Justiça Sergio Moro pediu que o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgue a íntegra do vídeo da reunião ministerial na qual, segundo o ex-juiz da Operação Lava Jato, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tratou da interferência na Polícia Federal.

A defesa de Moro afirmou ao Supremo que, durante a reunião ministerial de 22 de abril, o presidente dirigia cobranças ao ex-juiz da Lava Jato. A afirmação é importante para bancar a tese segundo a qual o presidente tentava interferir na Polícia Federal, apesar de seus ministros dizerem que ele tratava da sua segurança e da de seus familiares no Rio de Janeiro.

Para Moro, o presidente quis dizer "superintendência" da PF no Rio. Se Bolsonaro estivesse tratando da "segurança" de seus familiares, ele dirigiria as queixas ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável por essa tarefa. Moro era o superior hierárquico da polícia.

Por isso, a defesa quer que o vídeo da reunião seja divulgado na íntegra ou, pelo menos, com as declarações do próprio Bolsonaro.

"A divulgação integral do conteúdo da gravação permitirá verificar que as declarações do Presidente da República foram, sim, direcionadas ao Ministro da Justiça", afirmou o advogado Rodrigo Sánchez Rios, grifando a palavra "sim". O motivo das cobranças eram quatro fatos:

  1. Moro não apoiou a ida do presidente a ato em 19 de abril, que pediu a volta da ditadura militar;
  2. não apoiou Bolsonaro em manifestações contrárias ao distanciamento social para o combate da covid-19;
  3. não apoiou as declarações do presidente que minimizavam "a gravidade da pandemia";
  4. não concordar com a suposta interferência do presidente na PF do Rio de Janeiro e na direção geral da corporação, "pelos motivos declinados pelo próprio presidente"

Além disso, com a divulgação do vídeo, seriam reveladas afirmações "de tom autoritário". "A publicidade total da gravação trará à luz inquietantes declarações de tom autoritário inviáveis de permanecerem nas sombras."

Não há segredos de Estado, mas "constrangimentos", diz ex-ministro

A reunião foi feita em 22 de abril, dois dias antes da demissão de Moro e do então diretor geral da PF Maurício Valeixo.

A petição foi apresentada ao STF nesta quarta-feira (13). a defesa do ex-ministros diz que não há nenhum "segredo de Estado" na reunião, como o governo chegou a alegar, embora os termos utilizados pelos participantes possam gerar "constrangimentos".

"Exsurge como premissa a clara ausência de qualquer assunto pertinente a segredo de Estado ou que possa gerar incidente diplomático, muito menos colocar em risco a segurança nacional", escreveu o advogado Rodrigo Sánchez Rios.A divulgação do vídeo seria uma "lição cívica". "Por se tratar de um ato oficial do governo, a divulgação integral do seu conteúdo caracterizará verdadeira lição cívica, permitindo o escrutínio de seu teor não só neste inquérito policial mas, igualmente, por toda a sociedade civil, em conformidade com as ponderações de Vossa Excelência na decisão inaugural desta investigação", continuou Sánchez Rios.