Topo

Demissão de Teich gera críticas na oposição e em partidos 'independentes'

O ex-ministro da Saúde, Nelson Teich - Ueslei Marcelino/Reuters
O ex-ministro da Saúde, Nelson Teich Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

15/05/2020 13h28Atualizada em 15/05/2020 14h44

A saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde hoje gerou críticas não apenas na oposição, mas também em partidos tidos como 'independentes' no Congresso Nacional. Inclusive, de siglas com membros que se aproximaram do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no último mês, como PSDB e MDB.

Em meio a pedidos de impeachment "em análise" e inquérito aberto pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente tem estreitado conversas com o centrão, grupo de partidos sem ideologia clara que negocia apoio ao governo no parlamento em troca de cargos nos primeiros escalões da administração pública.

Entre eles, Progressistas, Republicanos, Solidariedade, PL, PSD, PTB, Avante e Pros. DEM, PSDB e MDB negam fazer parte do centrão.

A avaliação de grande parte dos parlamentares é que a demissão de Teich corrobora a ideia de que Bolsonaro não aceita divergências a ele dentro do governo e quer alguém na pasta que o agrade, mesmo se contra recomendações e evidências científicas.

"É de se esperar [a saída de Teich]. Pensaram que o rapaz, com o currículo e a história de vida que tem, ia ser um fantoche no Ministério da Saúde", afirmou um senador de um dos partidos 'independentes', sob reserva.

O senador Major Olímpio (PSL-SP), ex-partido de Bolsonaro e que oficialmente faz parte da base aliada, mas está rachado, elogiou a atitude de Teich por ter ficado "do lado da ciência e da medicina".

Para a oposição, a demissão de Teich reforça os pedidos de impeachment de Bolsonaro já apresentados. A aceitação e o início da tramitação deles no Congresso depende do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que resiste em considerá-los no momento. Ao todo, 30 denúncias são passíveis de análise.

Assim como Maia, até o momento, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não se pronunciou sobre a exoneração de Teich.

Veja a reação de partidos 'independentes'

Bruno Araújo - presidente nacional do PSDB

"A saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde confirma o que os brasileiros já sabiam. O governo brasileiro não tem planos factíveis para combater a pandemia que nos ameaça. Ao invés de buscar soluções, o presidente tem preferido desmoralizar agentes públicos e confrontar governadores e prefeitos que realmente fazem o trabalho de combate à doença. Enquanto milhares morrem perdemos tempos em políticas de tentativas e erro. A sociedade, apreensiva e perplexa, merece mais respeito, mais seriedade, menos desgoverno, menos absurdo."

Eduardo Braga - líder do MDB no Senado e senador

"A saída do ministro Teich eleva ainda mais a temperatura da crise na saúde. O Brasil precisa de uma condução responsável e equilibrada em meio à pandemia. Esperamos que a escolha do futuro ministro seja orientada por critérios técnicos e que o Ministério da Saúde siga alinhado com a ciência."

Bancada do Novo na Câmara

"É preocupante, em meio a uma pandemia, evidenciar instabilidade no Ministério da Saúde enquanto mais de 14 mil vidas foram perdidas e os números só tendem a aumentar. Após a saída de seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich permaneceu por apenas 29 dias no cargo. Precisamos de uma resposta rápida e eficaz para a crise e profissionais técnicos e qualificados para lidar com o atual cenário brasileiro. A bancada do Novo na Câmara defende tomadas de decisões baseadas em fatos e evidências científicas. O Ministério da Saúde é uma pasta que deve ter esses preceitos como norte."

Léo Moraes - líder do Podemos na Câmara e deputado federal

"É preocupante para o país, no momento que o coronavírus parece atingir o pico de transmissão, que tenhamos mais uma vez mudança no comando do Ministério da Saúde, mudanças de política e de protocolos de trabalho, que precisam de tempo para apresentar resultados. E esse tempo, infelizmente, o Brasil não tem mais. Países com economias liberais, que servem de modelo para o atual governo, como o caso dos Estados Unidos, adotaram medidas muito mais restritivas que as adotadas no Brasil devido à potencialidade do vírus. O Reino Unido está sob lockdown e a população tem cumprido as restrições. Respeito a opinião pessoal do Presidente da República, mas antes de pensar em reabertura, falta a apresentação de um plano consistente por parte do Governo Federal para controle da Covid, retomada da atividade econômica, volta às aulas, e, por fim, retorno da vida social das pessoas. Já era momento de o Brasil, com base na ciência, ter chegado a esse consenso, a essa unidade sobre as ações de combate ao coronavírus."

Paulinho da Força - presidente nacional do Solidariedade e deputado federal

"Saiu quem não tinha entrado. [...] O médico, apesar de conhecimento técnico, não conseguia expor suas ideias, não sabia lidar com a imprensa, teve dificuldade de se ambientar e era desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro o tempo todo, ou seja, não fez nada de significativo nos 28 dias que ficou no cargo.

Desejo sorte ao sr. Teich na sua carreira, mas desejo ainda mais que o governo federal seja capaz de colocar alguém com envergadura para conduzir o ministério mais importante nesse momento de crise.

Duvido que alguém consiga fazer o presidente aprender com a ciência e perceber que reduzir o isolamento social é colocar mais brasileiros na fila de espera por uma vaga na UTI. O Brasil precisa de liderança, mas vai ser difícil encontrar um ministro que seja capaz de lidar, ao mesmo tempo, com a crise sanitária e com os impulsos de Jair Bolsonaro."

Veja a reação de partidos da oposição

José Guimarães, líder da minoria da Câmara e deputado federal pelo PT

"O povo brasileiro não é cobaia! Bolsonaro quer que o ministro da Saúde use a cloroquina para agradar a interesses norte-americanos em plena pandemia. Esta é a razão principal da demissão de Nelson Teich. É um governo que está aos frangalhos! Quem tem o mínimo de juízo e compromisso com a saúde pública e a ciência não vai aceitar esse tipo de conduta do presidente da República. É mais um ministro que cai, e é mais um andar que se sobe na necessidade de tirarmos esse governo. Bolsonaro é um mal para o Brasil e representa uma doença enorme para a saúde pública brasileira. É por isso que nós não podemos mais continuar sem apertar, sem mobilizar o país, pois Bolsonaro não tem mais condições de continuar governando o Brasil".

André Figueiredo - líder da oposição na Câmara e deputado federal pelo PDT

"Mais um que não aguenta a conduta irresponsável de Jair Bolsonaro. Em plena pandemia iremos pro terceiro ministro da Saúde. Infelizmente isto só acontece no Brasil. Que Deus proteja nosso povo!"

Randolfe Rodrigues - líder da minoria no Senado e senador pela Rede

"Bem mais do que caos momentâneo, a queda de dois ministros em menos de um mês, durante uma grave crise de saúde, gera insegurança ao país. Bolsonaro prioriza sua política mesquinha, seus acordos com o centrão. Enquanto isso, pessoas morrem! Bolsonaro é o maior aliado do coronavírus!"

Eliziane Gama - líder do Cidadania no Senado e senadora

"A saída do ministro Nelson Teich, menos de um mês depois de ser nomeado, revela a gravidade da crise no governo. Foi forçado a sair porque não concordou com a ideia irresponsável de defender o uso deliberado da Cloroquina e do fim do isolamento social. É um governo contra a ciência."

Fernanda Melchionna - líder do PSOL na Câmara e deputada federal

"É muito grave a demissão do ministro Teich no meio desta crise, é o segundo ministro que sai do Ministério ou é "saído" diante de uma marcha obscurantista do Bolsonaro. O tema de fundo é que o Bolsonaro atrapalha as medidas sanitárias e tenta a todo momento que o Ministério da Saúde não cumpra as medidas essenciais para proteger a vida do nosso povo. É uma dança de cadeiras que, na verdade, retrata que o Bolsonaro busca um ministro que seja tutelado pela sua marcha anticiência, obscurantista e de propagação de fake news, estimulando o uso da cloroquina que não tem nenhuma comprovação científica que resolva esse caso, ao contrário, pode até piorar o combate à Covid-19. A situação é gravíssima. E nós temos mais a convicção de quem tem que ser demitido é o Bolsonaro".

Perpétua Almeida - líder do PCdoB na Câmara e deputada federal

"Teich pediu demissão. Não aceitou assumir os atos genocidas de Bolsonaro. O 2º ministro da saúde que cai em meio a pandemia que já matou 14.131 brasileiros."