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Bolsonaro se referiu à equipe ao citar segurança para amigos, diz advogado

Chico Alves, Diego Henrique de Carvalho e Tales Faria

Do UOL, no Rio, São Paulo e Brasília

20/05/2020 18h11Atualizada em 20/05/2020 19h00

Frederick Wassef, advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e de Jair Bolsonaro (sem partido), afirma que o presidente se referia à sua equipe pessoal quando disse que queria "proteger seus familiares e amigos" durante a reunião ministerial do dia 22 de abril.

A transcrição feita pela AGU (Advocacia-Geral da União) da fala do presidente é o primeiro registro documental de que o Bolsonaro teria tratado possivelmente da interferência na PF (Polícia Federal) no encontro dos ministros, acusação feita pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro. O caso está sendo investigado pela própria PF, em inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal).

"Quando Bolsonaro trata de amigos, se refere à sua equipe. É característica do presidente, é a forma de ele se expressar. Qualquer parente próximo que frequenta a casa, não é o que ele quis dizer. Não posso falar em nome do presidente sobre esse fato, o próprio presidente vai ser ouvido e vai dar sua declaração", diz Wassef, em entrevista ao UOL, realizada na tarde de hoje.

"O que posso afirmar é: jamais o presidente Bolsonaro interferiu na Polícia Federal. E nesses atos em que ele externa insatisfação da pauta segurança ao entorno dele, família, amigos. Bolsonaro é um homem traumatizado —e com todo o direito de ser, porque foi para a morte e voltou. Teve informações seguras que Adélio Bispo, assassino profissional de uma organização criminosa, perseguia seus filhos. Agora, pensa, um homem que passou por tudo isso e estamos falando de Rio de Janeiro, questão de segurança pública que vai além do Brasil e do mundo?", argumenta.

O termo de declarações de Augusto Heleno, ministro que chefia o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), foi assim redigido e assinado pelo ministro, por delegados e procuradores da República: Heleno foi "perguntado sobre uma fala do presidente [Bolsonaro] no vídeo da reunião do dia 22 de abril de 2020, exibido nesta data por ordem do STF, que, no entender da PGR [Procuradoria Geral da República] se refere ao superintendente] do Rio de Janeiro, em que o presidente fala em proteger seus familiares e amigos, e perguntado quem são esses familiares e amigos, o depoente respondeu que precisaria assistir ao vídeo para poder responder".

Queiroz foi exonerado para se aposentar na PM, diz Wassef

Durante a entrevista, o advogado ainda rebateu as acusações feitas por Paulo Marinho em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. Segundo Wassef, O ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, foi exonerado do cargo para se aposentar como policial militar.

"'O funcionário [Queiroz] saiu no dia tal'... É pura ilação. Vários outros saíram em vários dias, isso não quer dizer nada. Era fim de mandato, ele iria sair de qualquer jeito e ia voltar para a Polícia Militar, iria para a reserva e teria direito a sua aposentadoria", justificou o advogado em entrevista ao UOL.

A filha de Queiroz, Natália, foi exonerada na mesma data do gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

O advogado ressaltou que Queiroz não era objeto da investigação. Porém, estava inserido nos documentos da operação o relatório do então Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), revelando movimentações atípicas do assessor de Flávio, que deu origem à investigação de um esquema de "rachadinha" de salários de servidores da Alerj.

Wassef ainda reforçou que esse tipo de exoneração é normal e que tirar conclusões a partir disso é irresponsável. "Várias pessoas saíram de lá porque era fim de mandato", reiterou. "Estamos fazendo uma ilação imaginária aqui. Não podemos fazer isso, é muita irresponsabilidade".

Depoimento de Sergio Moro

Wassef começou a entrevista citando o ex-ministro Sergio Moro. Segundo ele, o que o ex-juiz federal falou sobre o presidente Jair Bolsonaro não é verdade.

Posso te afirmar que Jair Bolsonaro está falando a verdade. No depoimento, está escrito 'que o declarante diz que o presidente não quis nomear o diretor da Polícia Federal'. Que Moro entende que isso seja uma interferência, mas sem uma causa apontada. Ele diz, na primeira página de seu depoimento, que entende que o presidente querer nomear um diretor na PF é ingerência política, mas ele está equivocado.

E garante que quem quis fazer ingerência política foi o ex-ministro: "Toda vida o Coaf esteve no Ministério da Fazenda. Quem entrou e quis fazer uma ingerência política e ir além de seu cargo foi nosso ministro Sergio Moro. Ele quer nomear diretor geral da PF, ele quer trazer o Coaf para dentro. Agora, acusar o presidente Bolsonaro de ingerência quando quem que fez ingerência é o outro lado é uma inversão da verdade real", diz.

Wassef fez ainda elogios a Moro, chegando a dizer que perdoaria o ex-juiz por um eventual crime porque ele "fez um trabalho heroico que mudou a história do Brasil". Mas isso, segundo Wassef, não dá razão às acusações de Moro quanto a uma suposta tentativa do presidente de interferir na Polícia Federal.

"Não tenho nada contra Sergio Moro. Se eu leio amanhã na Folha de S.Paulo que Sergio Moro roubou um banco, ele estaria perdoado. Ele fez um trabalho heroico que mudou a história do Brasil. Mas isso não se comunica com o fato de que ele entendeu [haver] uma ingerência [de Bolsonaro na PF] que não existiu", rebateu o advogado em entrevista ao UOL.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.